Luciana: construir a felicidade coletiva nos anima; isso é o PCdoB
Em live realizada na noite desta quinta-feira (15), a presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, abordou os principais focos do projeto de resolução em pauta no 15º Congresso do partido. A dirigente — que foi entrevistada pelo secretário de Comunicação, Adalberto Monteiro, e pelo jornalista Osvaldo Bertolino — falou, entre outros temas, sobre os desafios impostos pele extrema-direita no Brasil, a luta para derrotar Bolsonaro, o cenário internacional, a defesa das federações e necessidade de revitalizar o PCdoB.
“Não há nada que nos anime mais do que possibilidade de construir a felicidade coletiva. Isso é o PCdoB. Queremos levar a esperança, a compreensão de que esse país tem jeito, que o mundo tem jeito, que a nossa vida tem jeito, que é possível ter um mundo com justiça social”, disse Luciana.
Confira os principais trechos da conversa.
Principais focos do projeto de resolução do 15º Congresso
“Primeiramente, vivemos a necessidade hoje, no Brasil, de desmascarar, isolar e derrotar o Bolsonaro. Assim, nosso Congresso procura debater, vocalizar, trocar ideias e montar estratégias de como isso pode acontecer. Afinal, este é o principal anseio do povo brasileiro, é a necessidade de um país que está atravessando uma múltipla crise.
O segundo ponto é garantir a presença plena do nosso glorioso PCdoB no parlamento brasileiro. Vamos completar 100 anos em 2022 e mais uma vez, estamos desafiados a superar essa lei autoritária, que coloca partidos mais históricos e programáticos com dificuldades na sua institucionalidade. Mas, a gente considera que quanto mais a gente conseguir mudar esse cenário político que a gente está vivendo, de termos no poder central a extrema-direita, que é o governo Bolsonaro, mais chance nós teremos de ter partidos como o nosso, na virada da conjuntura, com possibilidades de acumular mais forças”.
Cenário internacional
“Por mais que tenhamos tido um contexto, com o fim do campo do socialismo, que nos levou a uma defensiva estratégica, a sucessão dos acontecimentos associados à crise da superprodução e estrutural do capitalismo que se deu a partir de 2008, vimos muitas mudanças no mundo, seja da base econômica, seja da situação social devastadora que o capitalismo enseja. Mas de todo esse contexto, o que chama atenção, como vetor global desse fenômeno, é esse: um declínio relativo da potência norte-americana e uma ascensão da experiência do socialismo na China sob a liderança do Partido Comunista. A gente vê a China retirando milhões e milhões de pessoas do planeta da fome e no mundo capitalista a gente vê a concentração de riquezas versus a pobreza campeando (…). A China é hoje um país que erradicou a pobreza e que tem quase 1,4 bilhão de habitantes. Não é qualquer feito; é um feito de afirmação de uma experiência exitosa, (…) afirmando uma alternativa para esse mundo de múltipla crise”.
Apoio a Cuba
“Cuba tem o tamanho de Pernambuco, em termos territoriais e populacionais. Então, não é possível imaginar que um país desse tamanho tenha todas as condicionantes e potencialidades naturais, por exemplo, que nós temos. É um país que depende muito das relações internacionais, de trocas comerciais, de insumos etc. E os EUA nunca se conformaram com a luta de libertação nacional que representou a revolução cubana. De lá para cá, entra governo, sai governo, pode ser democrata ou republicano, eles sempre mantiveram a atitude de bloqueio econômico porque para eles aquela experiência é uma afronta ao ideal do capitalismo. Esses protestos acontecem num momento de uma crise que, por óbvio, impacta muito no povo cubano: um bloqueio econômico, em plena pandemia (…). A economia cubana depende muito do turismo e o turismo na pandemia desapareceu; e isso tem impactos na sua economia e na dependência dos insumos, embora Cuba desenvolva hoje duas vacinas contra a Covid. No entanto, a mídia escolhe incensar deliberadamente uma manifestação que tem um tanto de naturalidade, mas tem também um tanto de estímulo de redes sociais de fora para dentro, de interesses imperialistas estadunidenses. Eles jamais desistirão, vão persistir em, de alguma maneira, macular essa experiência vitoriosa. Mas, a gente não viu cenas de repressão, como muitas vezes vemos nos EUA e no Brasil. Portanto, os problemas decorrem principalmente do bloqueio promovido há 60 anos. Trata-se de uma política criminosa que já foi condenada pela ONU 29 vezes. (…) Esses assuntos serão resolvidos pelo próprio povo cubano e nos solidarizamos com essa nação que é sempre tão solidária com todo o mundo”.
Balanço do mandato de Bolsonaro
“É um desastre. Assistimos Bolsonaro, desde os primeiros momentos da contaminação local no Brasil, tratar a pandemia com desdém, com deboche, com atitudes negacionistas e a resultante é que estamos quase atingindo a perda dolorosa de 600 mil vidas. É uma catástrofe nacional e essa situação espelha um conjunto de medidas que são próprias da natureza do governo, que temos caracterizado, desde o início, como sendo um governo ultraliberal na economia, retrógrado nos costumes e autoritário na política. Quando vem a Covid, essas características nefastas se agudizam. (…) Como imaginar um país, do tamanho do Brasil com quatro a cinco ministros da Saúde em plena pandemia? Claro que tem algo errado. Ele contestou a OMS, as autoridades sanitárias, a ciência e as experiências exitosas no mundo. Além disso, estamos vendo o desmonte do Estado brasileiro nos seus bens e patrimônios mais importantes (…) Para qualquer área temática necessária, seja ela estruturante ou dos direitos fundamentais da população, salta aos olhos o retrocesso. A resultante é que temos 800 empresas quebradas no Brasil; 100 milhões de brasileiros sem segurança alimentar; 14 milhões de desempregados. É assustadora a situação no Brasil e por isso mesmo cresce o isolamento de Bolsonaro”.
Manobras de Bolsonaro
“Ele aposta que por conta da retração da economia, haverá a retomada, que já está havendo porque mesmo com todo o retardo, a vacinação aos poucos tem avançado e há, portanto, a possibilidade de retomada das atividades econômicas. Com a retomada, há um aquecimento da economia. E Guedes, que só falava em cortes, agora diz que é preciso gastar (…). Então, eles vão turbinar a agenda de emergência à população sofrida brasileira e apostam nisso para poder retomar a popularidade”.
“Bolsonaro procurou se sustentar num discurso anticorrupção sustentado pelo pilar da Lava Jato; outro pilar de sustenção são os líderes neopentecostais junto ao clã Bolsonaro, com Olavo de Carvalho e seus filhos, além de parcelas importantes das Forças Armadas e da banca. Aos poucos, esses pilares vão se corroendo. A própria Lava Jato foi se desmascarando (…) e o episódio da vacina, o discurso anticorrupção perdeu força junto a Bolsonaro. Mesmo setores evangélicos mais consequentes não o enxergam como alguém comprometido com seus valores. Embora um de seus grandes sustentáculos na economia ainda sejam os rentistas, mesmo setores mais consequentes da economia não enxergam Bolsonaro como capaz de retomar o crescimento. Bolsonaro deslocou base importante do Centrão para lhe dar sustentabilidade e governabilidade, que era um discurso que ele negava (…). Mas, as condições do povo são muito gritantes e aos poucos, a gente vai conseguindo desmascarar essa agenda bolsonarista. Sou muito otimista e acho que as pesquisas de opinião, na fotografia de hoje, revelam que aos poucos estamos conseguindo desmascarar para, concomitantemente, passar para um processo de isolamento e derrotá-lo”.
CPI da Covid
“A CPI da Covid veio num momento de abordar aquilo que evidenciou a fragilidade do governo, que foi o enfrentamento à pandemia (…). Todos os governos no mundo tiveram de fazer investimentos públicos. Aqui, só aconteceu auxílio emergencial e ajuda aos estados por conta da oposição. Precisamos derrotar Bolsonaro sucessivamente para ter um mínimo de atendimento à população durante a pandemia e isso vai ficando evidente. A CPI da Covid tem sido um grande momento de desmascaramento do Bolsonaro. (…) O povo quer e tem i direito de saber de quem é a responsabilidade por esse genocídio, pelas quase 600 mil vidas perdidas”.
Ameaça à democracia
“Bolsonaro nunca escondeu seus intentos autoritários. Sempre fez apologia à tortura, nunca escondeu o quanto ele é entusiasta e admirador da experiência autoritária vivida no Brasil. Se dependesse da vontade dele, já teria mudado o regime. Só não muda porque não tem força para isso e porque as forças democráticas, independente de serem oposição a Bolsonaro, sempre reagiram e nunca aceitaram qualquer tentativa nessa direção. O Congresso, o STF, a OAB, UNE, MST, os movimentos LGBTs, as mulheres, o povo e as instituições de maneira geral reagiram e deram respostas contundentes a essas tentativas. Precisamos ser muito vigilantes para poder impedir qualquer marcha nessa direção”.
Chances de se livrar do pesadelo Bolsonaro
“Certa vez, João Amazonas disse que a gente vivia numa encruzilhada histórica e penso que a gente está diante de outra encruzilhada histórica: ou a gente derrota Bolsonaro em 2022 para fazer uma agenda emergencial de salvação nacional, ou vamos aprofundar ainda mais essa tragédia nacional. E é tão gritante esse conjunto de medidas que marcaram o retrocesso de conquistas do povo brasileiro que as ruas se rebelam. Em 35 dias, fizemos três manifestações de grande expressão, e salta aos olhos que elas vão para além dos movimentos sociais; é cada vez mais espontânea, aberta e diversificada . O grande desafio das forças de esquerda consequentes é entender que mesmo aqueles arrependidos, que não pensam como nós em perspectiva, numa agenda pós-Bolsonaro, precisam ser bem-vindos na luta de isolamento do Bolsonaro. Não podemos subestimar o que significa essa batalha e é por isso que construímos o super-pedido de impeachment unificado, que foi um grande feito. Essas forças não vão estar no mesmo palanque que a gente em 2022, mas vão estar no palanque contrário a Bolsonaro e isso é muito importante para nós, é preciso que a gente tenha essa visão para construir amplitude. Acho que a possibilidade de a gente mudar o cenário e ganhar as eleições é muito grande. Aliás, as pesquisas já revelam isso. Tudo quanto é candidato derrota Bolsonaro já no primeiro turno e isso não acontecia há alguns meses. A elegibilidade de Lula deu uma rearrumação na na política brasileira. E tanto mais Lula faz o discurso de frente ampla, mais chance nós temos de ajudar nesse objetivo comum de derrotar Bolsonaro”.
Posição do PCdoB em 2022
“É cedo ainda para a gente tomar posição sobre candidaturas. Há a compreensão, entre expoentes políticos, da necessidade de fazermos a luta política programática, de ideias, de desmascarar Bolsonaro. Em algum momento, teremos de sentar à mesa para discutir uma estratégia pactuada. No tempo certo, vamos tomar essa decisão. Walter Sorrentino (vice-presidente do PCdoB) e eu tivemos uma conversa o Lula e ele tem a visão de como é importante a gente travar essa luta de isolar Bolsonaro como primeira tarefa para vencê-lo. Conversamos com todas as forças políticas, temos muito trânsito, toda a nossa tática sempre foi forjada colocando o interesse nacional na frente”.
Luta pelo serviço público
“Nossa bancada é pequena, mas influente e faz acontecer. No caso da reforma administrativa, nossa bancada acompanha de perto porque essa reforma faz parte dessa lógica do desmonte do Estado brasileiro. O serviço público é estratégico e fundamental. Imagina a gente sem SUS, sem a rede pública de educação, onde a esmagadora maioria dos brasileiros têm a chance de se formar. (…) O Estado forte pressupõe um serviço público de qualidade e eficiente”.
Urnas eletrônicas
“Se você diz que se não mudar o sistema eletrônico, a eleição estará fraudada, é porque você, de certa maneira, está passando recibo de uma possível derrota. Bolsonaro e todos os seus filhos foram eleitos por esse sistema. De certa maneira, o que está em curso é uma ameaça permanente à institucionalidade e ao Estado democrático de direito. O novo normal da conjuntura brasileira é a instabilidade política, ao ponto de o presidente do STF ter que pedir uma conversa com Bolsonaro para baixar a temperatura. Bolsonaro não está preocupado com isso. Ele quer atear fogo, instabilizar para poder justificar um regime autoritário. Mas, esse tipo de marcha não vai passar, o povo brasileiro não vai permitir e nós vamos reagir com todas as nossas forças para refutar qualquer retrocesso na tão nova e ainda pouco estruturada democracia brasileira”.
Luta pela federação
“A federação é uma inovação na política brasileira. É uma ferramenta que possibilita a união de partidos, não uma junção eleitoral. Mas, uma ferramenta estratégica porque pressupõe a união com base no programa, na convergência de pensamentos sobre os desafios brasileiros e isso serve para esquerda, centro e direita. É uma ferramenta democrática que respeita a pluralidade que existe no Brasil. Toda democracia forte parte desse pressuposto de respeitar as diferenças de opinião e concepção. Funciona no Uruguai, Portugal, Alemanha”.
Revigorar o PCdoB
“O grande desafio do nosso partido é ter mais capilaridade, vivência direta com o povo brasileiro. E para isso, ao longo da nossa existência, temos procurado ter linhas de construção partidária que nos vincule cada vez mais com a vida do povo. E sempre com uma visão dialética. Não somos donos da verdade. Somos um partido de vanguarda, temos uma perspectiva, que é a construção do socialismo no Brasil, mas nós seremos cada vez mais fortes e influentes se a gente tiver cada vez mais essa relação dialética, de troca com o povo. E por isso precisamos ter vida partidária, prazerosa. Conhecer e lutar pela qualidade de vida é algo prazeroso. Não há nada que nos anime mais do que possibilidade de construir a felicidade coletiva. Isso é o PCdoB. Queremos levar esperança, a compreensão de que esse país tem jeito, que o mundo tem jeito, que a nossa vida tem jeito, que é possível ter um mundo com justiça social. Para isso, precisamos ter um partido cada vez mais enraizado, precisamos ter linhas de construção partidária, nos inserir de maneira cada vez mais contemporânea na comunicação digital, que se confunde com a forma de organização. A mola que nos move é a perspectiva de que esse país tem jeito. É preciso Lutar, estudar, compreender a realidade brasileira à luz de uma perspectiva que é muito forte: a construção de um país justo, e esse país justo é com o socialismo”.
Assista a live:
Por Priscila Lobregatte