O governo do premiê britânico Boris Johnson manteve até a segunda-feira (16) uma estratégia de enfrentamento da Covid-19 conhecida como “mitigação”, que parte da visão de que não se pode deter o coronavírus e, portanto, só seria possível diminuir sua propagação e buscar evitar ao máximo os casos de contágio que fariam colapsar o sistema público de saúde. Com isso, o Reino Unido ficou praticamente paralisado no combate ao coronavírus.

Essa apatia do governo mudou após a divulgação de um modelo matemático do Imperial College de Londres, que apresentou um panorama muito grave de como a doença pode propagar-se pelo país, como ia impactar o sistema público de saúde e quantas pessoas morreriam, se mantida essa estratégia.

O estudo do Imperial College deixa claro que, ou muda-se esse modelo ou mais de 250 mil pessoas vão morrer por causa do novo coronavírus, mesmo se o sistema de saúde puder atender a todos os pacientes contagiados. Foi a partir desse alerta que o governo começou a tomar medidas na direção da estratégia de “Supressão” adotada pela China, que “é a única viável”, segundo o estudo do Imperial College.

O modelo chinês de supressão baseia-se em romper as cadeias de transmissão, tratando de efetivamente deter a epidemia e reduzir os casos ao menor número possível. E que significa romper a cadeia de contágio com a distância social de toda a população e ampliação dos testes, para isolar contagiados assintomáticos.

O modelo matemático apresentado pelo Imperial College e a dramática evolução da situação na Itália levaram o primeiro-ministro Boris Johnson a falar de “supressão” e a iniciar o aumento do número de testes na população. O estudo inglês conclui também que, se continuarem com a estratégia de mitigação, nos EUA poderiam morrer até 1,2 milhão de pessoas por causa do coronavírus.

Os resultados causaram impacto nos especialistas: se EUA e Reino Unido não tomarem medidas, o modelo mostra que o pico de contágio será alcançado em três meses e infectará cerca de 80% da população, deixando 510 mil mortos no Reino Unido e cerca de 2,2 milhões nos EUA.

“Nossa maior conclusão desse modelo é que a estratégia de mitigação — a que o governo britânico estava adotando — não é factível porque supõe respaldar-se em um sistema de saúde que se veria superado em vários números e em sua capacidade de recuperação”, diz o estudo.

Os dados mostram que a estratégia de supressão, que é a mistura de todas essas políticas, reduziria em “dois terços” a demanda por atenção médica por parte dos serviços de saúde no ponto mais alto da crise e é, portando, “a política correta para enfrentar a pandemia”.

“Os efeitos sociais e econômicos para poder adotar essas medidas serão profundos porque deverão ser financiadas durante um tempo”, diz ainda o texto.

O estudo afirma, por fim, que muitos países já adotaram essa estratégia para reduzir o impacto na sociedade e que inclusive países como o Reino Unido, onde o coronavírus está em uma etapa incipiente — em comparação com a Itália e a Espanha — devem adotá-la de forma iminente.