Manifestantes foram até o presídio londrino de Belmarsh juntos com o pai de Assange, John Shipton, e bradaram: “não à extradição de Assange". (Foto: Divulgação)

Ato público reuniu manifestantes no sábado (28) do lado de fora do presídio de segurança máxima de Belmarsh – conhecida como a ‘Guantánamo britânica’ -, em Londres, para exigir a libertação do jornalista e fundador do WikiLeaks, Julian Assange.

No ato, seu pai, John Shipton, recebeu em seu nome o prêmio Gavin MacFadyen 2019 – o único prêmio de jornalismo concedido por denunciantes. Os manifestantes marcharam até à entrada da prisão, exigindo aos brados que “libertem Julian Assange” e “só há uma decisão – sem extradição”.

Desde o dia 22, a manutenção de Assange na prisão se tornou ainda mais arbitrária, com a juíza Vanessa Baraitser determinando sua prisão preventiva a partir de agora por causa do pedido de extradição dos EUA, onde um júri, secreto por anos a fio, o acusou de ‘espionagem’ por ter denunciado crimes de guerra norte-americanos no Iraque, Afeganistão e outros países, sujeitando-o a pena de prisão de 175 anos.

O prêmio foi entregue por Eileen Chubb, uma denunciante que liderou esforços para expor abusos criminais no setor de assistência social na Grã Bretanha, e co-fundadora, com o falecido jornalista investigativo Gavin MacFadyen, do “The Whistler”.

Como assinalou Chubb, Gavin dedicou-se a que o jornalismo fosse um “poder para o bem”, que desse “voz aos denunciantes, para que a verdade possa ser dita, não importa quão inconveniente seja”. “O prêmio deste ano é único porque presta homenagem a um dos maiores jornalistas e editores da história, Julian Assange”, afirmou.

ULTRAJE À JUSTIÇA

A detenção de Assange “é uma mancha no sistema de justiça do Reino Unido”, afirmou a ativista. “Como denunciante, sei muito bem que injustiça, abuso e todos os erros neste mundo só podem prevalecer se prevalecer o silêncio, se não houver ninguém para prestar testemunho e não houver ninguém para publicar a verdade”, acrescentou.

Ao aceitar o prêmio, o pai de Assange apontou que ele “beneficiou muitas pessoas em todo o mundo, particularmente expondo crimes de guerra ou a Trafigura despejando resíduos venenosos e destruindo regiões costeiras no leste da África, ou os cabogramas das sórdidas manipulações dos diplomatas dos EUA”.

Shipton descreveu a tendenciosa perseguição política a seu filho pelo judiciário inglês, incluindo o “resumo histérico, exaltado e insensível da juíza Emma Arbuthnot” em fevereiro de 2018 em que disse que se Assange não queria perder o sol, “deveria ficar na varanda” da embaixada. Arbuthnot também ignorou evidências documentais das manipulações e violações dos “direitos processuais de Assange”.

Após ilegalmente arrancado da embaixada do Equador, o juiz Michael Snow, que apenas vira Julian por cinco minutos, chamou-o de “narcisista”. “O diploma dele é em direito, mas ele se imagina como psicólogo”, essas pessoas são “absurdas”, denunciou Shipton.

Como denunciou Shipton, o tratamento dado pelas autoridades judiciais da coroa a Julian é “uma traição sórdida” de cima a baixo. Ele recordou também a audiência deste mês presidida pela juíza Baraitser. “Ela decidiu que se pronunciaria sobre um recurso de fiança (que não foi apresentado) e disse que Julian havia ‘escapado’ e não lhe daria fiança”. Sentença absurda já que Julian, por ter recebido asilo e consequentemente se enquadrar nas convenções de asilo de que o Reino Unido, a Suécia e a Austrália são signatários, não poderia ter “quebrado a fiança”. “Todas essas convenções foram descartadas, desobedecidas”.

Para o deputado trabalhista Chris Williamson, “esta é uma campanha de importância crucial. Trata-se de defender a liberdade de expressão que está sob ataque. O maior defensor da liberdade de expressão é Julian Assange, que está definhando em confinamento solitário na prisão de Belmarsh”.

“Temos uma situação em que alguém que deveríamos venerar, celebrar é forçado a suportar confinamento solitário, o que equivale a tortura. Tortura em solo britânico. Isso não pode ser permitido”, condenou o parlamentar, que já exigiu do secretário do Interior que Londres “honre suas obrigações e liberte Assange”.

Segundo documentos a que o jornal espanhol El País teve acesso, a empresa espanhola de segurança contratado para proteger a Embaixada do Equador em Londres, a Undercover Global, espionou Julian Assange para a CIA, durante seu asilo lá. O dono da empresa, David Morales, chegou a dizer que “estamos jogando em outra liga, esta é a primeira divisão”, depois que voltou de uma conferência de segurança em Las Vegas, Nevada, em 2015, onde foi cooptado.

 

As evidências fazem parte de uma investigação do Tribunal Superior da Espanha sobre queixa criminal apresentada por Assange. O relatório fornece extensos detalhes da troca de gravações entre a Undercover Global e o governo dos EUA e das providências tomadas para espionar Assange.

Novas câmeras de vídeo foram instaladas na embaixada do Equador no início de dezembro de 2017. Morales solicitou um ponto de acesso de streaming externo “para que todas as gravações pudessem ser acessadas instantaneamente pelos EUA”. Microfones também foram instalado nos extintores de incêndio e até mesmo nos banheiros femininos, onde os advogados de Assange frequentemente se encontravam para evitar serem espionados.

 

Depois que Lenín Moreno assumiu a presidência do Equador em maio de 2017, a espionagem sobre Assange foi intensificada. A partir da posse, Morales começou a fazer viagens regulares a Nova York e Washington DC, confirmadas pelo El País .