O governo inglês admitiu que o veto à Huawei terá um enorme custo e adiará a 5G no Reino Unido - Forto: Reprodução

O governo Boris Johnson dobrou-se às pressões de Trump contra as redes 5G da Huawei e levou a gigante chinesa das telecomunicações a advertir que isso levará a Grã Bretanha “à pista digital lenta, contas mais caras e ampliação da brecha digital”. A Huawei, que pediu a reconsideração da decisão, considerou-a “decepcionante” e “politizada”, e “uma má notícia para qualquer pessoa no Reino Unido com um celular”.

Na terça-feira, o governo britânico reverteu decisão anterior que permitia a presença da Huawei como fornecedor da malha de 5G, e anunciou a proibição a partir de 31 de dezembro da compra de novos equipamentos da gigante chinesa e, até 2027, a total remoção dos equipamentos e componentes chineses já instalados no país. Em janeiro, a Huawei tinha sido autorizada a participar da implantação do sistema 5G até um limite máximo 35% das redes em território britânico.

O ministro da Digitalização, Cultura, Mídia e Esporte, Oliver Dowden, admitiu que o veto à Huawei terá um enorme custo para a economia britânica e adiará significativamente o 5G no país. Ele estimou que a proibição irá atrasar tais redes em dois a três anos, a um custo de 2 bilhões de libras esterlinas. Empresas inglesas de telecomunicações já chiaram do recuo, enquanto a oposição considera-o um “desastre”.

A Huawei é a maior fabricante mundial de equipamentos de telefonia e a maior detentora de patentes de 5G do mundo – além da segunda maior fabricante de smartphones, à frente da Apple. Seus produtos, graças às inovações, são muito mais baratos que a concorrência.

As redes de alta velocidade 5G são a base para a digitalização dos processos produtivos na nuvem, a intensificação da conectividade para um novo patamar e para a Internet e a Inteligência Artificial, assim como para os chamados veículos autônomos. Os concorrentes da Huawei estão atrasados de dois a três anos em relação aos seus avanços e as corporações norte-americanas perderam a relevância no setor. Por essa razão foi transformada pelo governo Trump no alvo preferencial de sua guerra ao domínio da alta tecnologia pela China.

O veto foi apresentado pelo ministro Dowden, que disse “não ter sido uma decisão fácil, mas é a correta para as redes de telecomunicações do Reino Unido, para nossa segurança nacional e nossa economia , agora e de fato a longo prazo”.

Por sua parte, o ministro do Meio Ambiente, George Eustice, tentou justificar a adesão a Trump, dizendo que o contexto do uso da tecnologia Huawei no território britânico “mudou ligeiramente” em decorrência das sanções dos EUA contra a empresa chinesa.

Também o Centro Nacional de Cibersegurança da Sede de Comunicações do Governo (GCHQ) informara recentemente ao governo que não poderia mais garantir o fornecimento estável de equipamentos da Huawei depois que os EUA anunciaram a imposição de novas sanções contra a Huawei, inclusive o fornecimento de chips de procedência norte-americana a partir de setembro.

A Huawei se comprometeu em continuar apoiando seus clientes britânicos e rechaçou as alegações quanto à “segurança”, ressaltando que o que estava em jogo era “a política comercial dos EUA e não a segurança”. Manifestou-se, ainda, segura sobre a “resiliência” de seus equipamentos e sua capacidade de superar quaisquer bloqueios de fornecedores.

Washington jamais apresentou qualquer evidência por menor que fosse de sua acusação de que os equipamentos da Huawei ameaçariam a segurança de quem quer que seja, mas em compensação a espionagem digital em massa da NSA, com ajuda das gigantes norte-americanas das telecomunicações, é questão inconteste desde as revelações de Edward Snowden.

E o que estaria tirando o sono de certa gente em Washington é que aquela infraestrutura de telecomunicações toda grampeada pelos norte-americanos, no planeta inteiro, vai virar peça de museu com o advento do 5G chinês. NSA e CIA vão ter muita dificuldade para instalar suas portas dos fundos como estão acostumadas a fazer. A Grã Bretanha é integrante do sistema “Cinco Olhos” de vigilância digital, a serviço dos EUA.

A cruzada movida por Trump contra a Huawei chegou ao ponto de virtual sequestro da filha do fundador da empresa, e diretora financeira, Meng Whanzou, quando fazia escala em um voo em Vancouver, e que está enfrentando um processo para extradição, com a conivência do governo canadense, por supostamente violar sanções unilaterais norte-americanas.

Como comentou o jornal chinês de lingua inglesa Global Times, apesar do veto britânico representar um revés, o enorme patamar tecnológico e produtividade atingidos pela gigante dos equipamentos de telecomunicação chinesa permitem com que esta dê conta dessa situação, até que se coloque um novo quadro de retorno à Grã Bretanha.

Apesar da pandemia, as vendas da Huawei na primeira metade deste ano aumentaram 13,1% ano-sobre-ano. “Alguns países ocidentais têm dito uma coisa sobre a Huawei, mas feito outra. Mesmo os próprios EUA repetidamente aprovam certos contratos com a Huawei. Realmente não é fácil dizer adeus à Huawei”, conclui o Global.