Livro com imagens da centenária história do PCdoB é lançado, em São Paulo
Na última quinta-feira (17), lideranças do PCdoB, dos movimentos sociais e estudiosos da historiografia política do país se reuniram para o lançamento do livro iconográfico Cem Anos de Amor e Coragem pelo Brasil. A publicação de 600 páginas reúne as imagens da centenária história de lutas do Partido Comunista do Brasil (1922-2022).
Além do presidente da Fundação Maurício Grabois e secretário de Formação e Propaganda do PCdoB, Adalberto Monteiro, o evento teve a participação especial do ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo, do vice-presidente Walter Sorrentino e da presidenta do Partido e ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
CLIQUE AQUI PARA COMPRAR O LIVRO
Mutirão iconográfico
Adalberto ressaltou o trabalho coletivo envolvido na “grande colheita” que o livro representa. “Um mutirão de 10 anos de trabalho que começou quando das celebrações dos 90 anos do PCdoB, que se soma aos mutirões de outras gerações que com visão larga trataram de cuidar da memória, da documentação e da história da presença dos comunistas na história brasileira”, afirmou.
O livro é composto por fotografias, mapas, charges, pinturas, gráficos, cartazes, documentos oriundos de arquivos públicos e privados, e grande parte do acervo do Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois. Adalberto “ousa” dizer que o caráter monumental da obra a torna “a maior e mais bela publicação de iconografia de um século de lutas do Partido Comunista do Brasil”.
O dirigente comunista afirmou que, na história do Brasil, a classe trabalhadora oprimida, na batalhas que travou, teve que empreendê-la duas vezes. “A primeira, protagonizar a resistência, a luta, a realização, a conquista, o fato histórico em si. A segunda, divulgá-lo, fazê-lo reconhecido oficialmente e conhecido do conjunto do povo e da nação”, explicou.
Ele observou que o estado brasileiro, sob o controle das classes dominantes, além de literalmente massacrar as jornadas democráticas e populares, adotou simultaneamente o procedimento de adulterar e distorcer o significado dessas batalhas, ou de ocultá-las nas páginas da história oficial e da imprensa burguesa.
Partido clandestino
Ele demonstra como esse procedimento perverso da história burguesa faz isso até hoje, tendo como alvo privilegiado a classe trabalhadora, o povo, as legendas de esquerda, em geral, em especial dos comunistas. Ele lembrou que o Partido Comunista do Brasil, teve apenas 7 meses e 12 dias de atuação tolerada no período da República Velha e um ano e meio de legalidade, de 1930 a 1985. “Legalizada em 1985, a legenda completou agora em 2023, 38 anos de atuação livre, mas com as restrições ainda presentes numa democracia jovem, em construção e sempre atacada pelo neofascismo.
Apesar dessa trajetória na obscuridade, a resiliência da teoria marxista, faz com que o PCdoB se renove sempre. “Por isto, é centenário e contemporâneo, longevo e jovem. (…) Na maior parte de sua história, o partido defendeu e ajudou a construir frentes políticas e sociais, lutando ombro a ombro com forças democráticas, populares e patrióticas e outras vertentes progressistas”, relatou, citando as alianças pontuais e duradouras do Partido com lideranças como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Tancredo Neves, Itamar Franco, José Sarney e Luiz Inácio Lula da Silva, para citar apenas os ex-presidentes da República. Também mencionou as gerações de dirigentes pontuados nas imagens, como Astrojildo Pereira, da geração dos fundadores, Luiz Carlos Prestes, João Amazonas, Renato Rabelo, e Luciana Santos, a primeira mulher a presidir a legenda, em meio à escalada reacionária e golpista do Brasil, chegando agora aos ventos da reconstrução do terceiro Governo Lula.
Adalberto conclui ressaltando a presença militante de anônimos no livro, assim como “o reflexo das contingências da corrente do movimento comunista”. “Houve muita unidade, muita coesão, mas houve o solavanco de confrontos teóricos e ideológicos, com a nossa reorganização em 1962. Mas o nosso Partido Comunista do Brasil, como um rio caudaloso, ele foi enriquecido com a integração de outras correntes políticas e agrupamentos, como foi o caso da Ação Popular (AP). Como agora, no presente, o nosso partido se enriqueceu com a incorporação do PPL, o Partido Pátria Livre.
“Finalmente, é uma obra que nos convoca às lutas do presente e nos faz mirar o futuro, com a consciência que o futuro não é uma toalha de renda bordada por mãos divinas. O futuro, nossas mãos unidas vão arrancando, talhando, esculpindo na rocha bruta e áspera do presente”, concluiu.
Melhor intérprete
O primeiro vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, concluiu o evento observando que o livro é um monumento aos trabalhadores e suas lutas, sempre conduzidas com a participação dos comunistas.
“No Foro de São Paulo, recente, o Lula fez uma fala extremamente significativa, porque é acossado por essa onda toda de extrema-direita. O Lula diz, quando nos chamam de comunistas, nós devemos nos orgulhar. Eu me orgulho. Nós devemos nos envergonhar quando nos chamam de fascistas, de nazistas. Na experiência da maioria do povo brasileiro, não há nada na experiência pessoal deles que os leve a ser anticomunista. (…) É pura ideologização, é puro fake, é pura historicização falsa de outros tempos, que era o tempo da Guerra Fria, o espectro anticomunista. (…) Nós precisamos ajudar o povo a desmascarar, a desestigmatizar, a desmistificar, com filmes, com vídeos, fazer disso um grande movimento. E como diz Lula, nos orgulhar de ser comunistas e sermos conhecidos pelo que nós somos, não pelo que pensam que nós somos e ninguém pode negar isso”, disse Sorrentino.
“Nós pulamos uma grande fogueira em outubro passado”, afirmou o dirigente partidário. Ele citou nesses oito meses o que considera “um governo assombroso em realizações”. “Estamos levando já à barra dos tribunais e da prisão os promotores do golpe, inclusive Bolsonaro, com os depoimentos que houve hoje, que são trágicos para ele”, observou.
Para ele, o governo fez imensas entregas na área econômica em termos de crescimento, queda da inflação e desemprego, aumento do investimento. “Nesse desafio, o PCdoB ocupa a primeira linha, porque tem experiência de 101 anos e tem no seu DNA um projeto nacional”.
Ele compara o projeto da reconstrução e transformação do Brasil a uma ladeira, onde é preciso se desvencilhar de muitas condicionantes legadas. “A luta pelo êxito do governo Lula é o fator decisivo hoje, não há outra passagem nem por aqui nem por ali para abrir esse caminho. Quem melhor interpreta isso hoje é o PCdoB”, disse ele, citando as pressões da luta política para atingir o Partido em seu papel no governo.
De acordo com Sorrentino, não existe maioria política sem uma maioria social mobilizada politicamente. Em sua opinião, tem sido difícil mobilizar uma sociedade fragmentada por guerras culturais e pela miséria. “A bandeira que o PCdoB tem é essa maioria política, fazer a unidade popular. Essa é a bandeira estratégica do partido. Não basta só mobilizar a nossa tropa, as nossas bolhas, as suas forças sociais organizadas. Nós precisamos disputar a sociedade e os rumos do governo. “Para não ser muito cabotino, os dois ministérios que mais se destacaram foram o da Luciana e da Nízia, na saúde, duas mulheres. Claro que tem o [Fernando] Haddad, que é muito hábil e se destacou no mercado. Tem o Alckmin, que é uma grande figura, indispensável nessa hora. Mas a Luciana é uma ministra que é presidente de um partido que melhor interpreta hoje os desígnios necessários para o governo Lula”, concluiu.
Gerações de líderes
O ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo, também enviou uma mensagem em vídeo para transmitir aos presentes no auditório da sede nacional, em São Paulo, mas também para a audiência da transmissão ao vivo pelo canal da TV Grabois.
O livro teve grande parte de sua editoração sob os olhares do ex-presidente, tanto do Partido, quanto da Fundação. “Apoiei o longo trabalho de um coletivo de historiadores, jornalistas, pesquisadores, pesquisadoras, que resultou neste grande feito editorial. É um monumental livro iconográfico que retrata a centenária trajetória de lutas do Partido Comunista do Brasil, entrelaçada com a história de nosso país.
Para ele, o livro reafirma com imagens históricas e presentes o compromisso da luta pelo socialismo como alternativa ao capitalismo em crise, socialismo cujo caminho no Brasil é a luta pelo novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. “Projeto que exige enfrentar as forças do retrocesso, apontar rumos e ideias como ocorreram em momentos importantes de nossa história e está ocorrendo agora com o governo do presidente Lula, do qual o PCdoB faz parte”, declarou.
A presidenta e ministra Luciana Santos também enviou uma mensagem comentando o lançamento editorial. “O livro comprova que não se pode falar da história do povo brasileiro nesse período centenário sem considerar o papel do partido. Nele se vê que com lutas, ideias e realizações, como os comunistas ajudaram a construir o Brasil. O livro mostra os vínculos do PCdoB com a classe trabalhadora e o povo. Um firme compromisso com o desenvolvimento soberano e democrático do Brasil”, afirmou.
Ela também destacou a contemporaneidade de um Partido tão duradouro. “Resistiu e sobreviveu às ditaduras, sempre nas primeiras linhas de combate às violações da democracia, às vezes ao preço da tortura e de muitas vidas ceifadas. O livro mostra essa jornada de lutas e combates, um processo centenário de inserção de políticas conforme as conjunturas”, diz ela, citando a a importância do Partido na vitória da Frente Ampla do atual governo.
O desafio da contemporaneidade
O ex-senador da Itália, José Luís Del Roio, deu enorme contribuição ao livro pelo trabalho que realizou de resgate e preservação do acervo histórico do Partido, desde Astrojildo Pereira, por ocasião da ditadura militar, quando levou todo o material para a Itália. “Será que o Astrojildo gostaria de como este livro foi construído? Posso me enganar, mas eu o conheço muito bem. Ele gostou do livro e do que vocês estão fazendo. Vocês são dignos descendentes da fundação do Partido dos Comunistas no Brasil. Eu não tenho dúvida disso”, afirmou.
Del Roio falou do contexto complexo de golpes e contragolpes na crise capitalista atual, em que o Brasil cumpre importante papel histórico. ”Os comunistas estão num governo de um país importante nessa grande transição mundial. Precisam ter grande capacidade de análise, de aliança nacional e internacional e saber que os perigos são muitos. Tem que ser um partido reflexivo, organizado, combativo, mas que tenha a glória, a honra de poder influir na transformação da história da humanidade neste século”, disse.
Após o presidente do PCdoB da cidade de São Paulo, Alcides Amazonas, contar a história da foto de capa, quando foi criado o “bandeirão” que domina as imagens das manifestações por todo o Brasil, a historiadora Mariana Venturini representou a grande equipe de pesquisadores que contribuíram para a edição.
“Nós somos muitos, felizmente. Espero que esse livro, inclusive, empolgue a que mais pessoas se somem ao trabalho de pesquisa. É um trabalho coletivo, muitas vezes solitário, que ainda enfrenta anticomunismo nas universidades, e a precariedade do acesso às nossas fontes”, disse Mariana. Ela citou os colegas presentes que se somaram ao esforço da publicação: Osvaldo Bertolino, Felipe Spadari, Fernando Garcia, e outros.
Ela rendeu homenagens ao esforço fundador de Astrojildo, em garantir o acervo que hoje se consulta dos primórdios da atuação do Partido. “Eu queria lembrar também a memória da ausência sempre sentida do Augusto Buonicore, sem sombra de dúvida”, lembrou, citando o historiador que teve grande papel no recorte histórico e faleceu em março de 2020.
Mariana também citou a importância do trabalho do historiador no Partido, “por uma questão de método”. “Nós somos marxistas, leninistas, e a gente se fundamenta no conhecimento histórico. Se por tantos anos tentaram nos invisibilizar, nos destruir, acabar com a nossa memória, é porque ela é algo de muito poderoso e nós devemos nos apropriar dela, ter orgulho da nossa tradição, ter orgulho de quem nós somos”.
Ela defende que o livro cumpre um papel fundamental para que se tenha claro qual é a extensão do legado do movimento comunista na construção do Brasil democrático e soberano. “O livro cumpre o papel de mostrar qual o papel que os comunistas representaram, a força da nossa identidade, da nossa combatividade e da continuidade da nossa marca de defesa da nação, defesa da democracia, defesa dos trabalhadores e das trabalhadoras e do povo brasileiro”.
O secretário de Organização do PCdoB-SP, André Bezerra, afirmou que ao folhear cada imagem do livro, a emoção vai fluindo por entre o leitor. “Lá, nós nos vemos, nós acompanhamos tudo o que fizemos. (…) Isso é a verdadeira prova de que nós fincamos bandeira, os comunistas deram o suor do seu trabalho, do seu pensamento, nas páginas, na nossa luta.
“Em que pese a tentativa de nos invisibilizar, não conseguem, porque a força das nossas ideias é muito maior, ganha homens e mulheres para a luta”, afirmou.
Motivos para celebrar
O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, lembrou que o secretário Sindical do PCdoB, Nivaldo Santana, antecipou o ambiente do livro, ao publicar sobre os 100 anos de história dos trabalhadores comunistas. Mas ele apontou a dificuldade de reunir imagens dessa luta sindical.
“Eu não tenho dúvidas de que foi acertado a gente transformar o nosso itinerário de lutas numa obra através da imagem, que eu penso que isso é fazer repercutir a vida daqueles que lutaram e resistiram. Este livro simboliza também a reinvenção de um partido que se tem revelado capaz de superar as dificuldades do tempo contemporâneo”, disse ele, citando a incorporação do PPL ao PCdoB, a constituição de uma Federação de partidos.
Ele também mencionou a dificuldade de fazer as forças políticas acreditarem na necessidade e viabilidade de uma Frente Ampla democrática para derrotar o neofascismo bolsonarista. “Estava claro para todos nós que a possibilidade de superar as dificuldades da crise reivindicava a maior e melhor compreensão acerca da construção da frente ampla. Foi ela que resultou nessa vitória e fez florescer, colocar o partido no patamar mais elevado”. Para o líder sindical, há motivos de sobra para celebrar um Partido que ocupa importantes cargos no Governo Federal.
O editor do jornal Hora do Povo e um dos vices-presidentes do PCdoB, Carlos Lopes, contou de uma “propaganda” que fez do livro, ao tirar uma foto com a filha no Dia dos Pais.
“Vocês vão me permitir o superlativo? Este livro é belíssimo, é finíssimo. Como vocês sabem, superlativo não é exatamente algo que tem uma boa fama na língua portuguesa. Afinal de contas, Machado de Assis em Dom Casmurro, criou um personagem ridículo chamado José Dias, que só falava em superlativos. Uma vez eu conversei com o filho do Graciliano, o Ricardo, que disse que o pai detestava superlativos. Mas apesar disso, tem determinadas situações em que o superlativo é extremamente bem colocado. Essa é uma dessas situações”, defendeu-se.
Para ele, não há precedentes para um livro como esse no Brasil. “O fato desse livro sair com essas imagens é uma coisa que recupera a história do povo, e principalmente do coração do povo, que são os trabalhadores”.
(Fotos e texto por Cezar Xavier)