Corbyn não é antissemita. E nunca foi. Mas Israel vê como ‘delito’ seu apoio à causa palestina

“O establishment judaico na Inglaterra e a máquina de propaganda israelense se unificaram para atacar o líder do Partido Trabalhista da Inglaterra (Labour Party), Jeremy Corbyn”, denuncia Gideon Levy, colunista do jornal israelense Haaretz.

Levy esclarece que “esta santa aliança foi forjada a muito tempo e fica claro que, à medida em que Corbyn se aproxima das chances de ser eleito primeiro-ministro, mais duro o conflito com ele se torna.”

O colunista israelense denuncia que “na terça-feira, tal conflito chegou ao climax em um artigo escrito pelo rabino-chefe publicado no jornal The Times.”

“Mirvis decidiu que se justifica uma ansiedade da parte dos judeus ingleses com relação a Corbyn e que ele não estaria em condições adequadas para se tornar primeiro-ministro. Ele chamou os judeus a não votarem no Labour nas eleições de 12 de dezembro”, prossegue o colunista.

O jornalista israelense denuncia que o tal rabino nasceu “na África do Sul e graduado na escola regiliosa Har Etzion Yeshiva, construída no assentamento [em terra assaltada aos palestinos] de Alon Shvut, e hoje se coloca como a voz da comunidade judaica inglesa.”

“Tanto em Capetown, como em Johannesburg, ele deveria ter aprendido o que foi o apartheid e porque se deve lutar contra ele e similares, como o de assentamentos como o de Har Etzion. Seus pais o fizeram [lutaram contra o apartheid] mas é de se duvidar de que ele tenha apreendido as lições morais de quem viveu em regiões onde o direito ao voto não é exercido por todos, como a África do Sul ou a Cisjordânia”, diz ainda Gideon Levy.

Em sua coluna no Haaretz, o jornalista desfila a moral distorcida do rabino que ataca o trabalhista solidário à luta dos palestinos por seus direitos: “Em oposição ao ‘horrendo’ Corbyn, Mirvis não vê nada de errado na continuada ocupação; não se identifica com o anseio palestino por liberdade e não vê similaridade na África do Sul de sua infância, Har Etzion de sua juventude e Israel de 2019”.

“Esta é a razão real pela qual ele rejeita Corbyn. Para ele, os judeus da Inglaterra também querem um premiê que ‘apoie’ Israel – quer dizer, que apoie a ocupação. Para ele e os judeus que o seguem, um primeiro-ministro que é crítico a Israel é um exemplar do novo antissemitismo. Corbyn não é antissemita. Ele nunca foi. Seu verdadeiro ‘delito’ é sua determinada oposição à injustiça no mundo, incluindo a versão que Israel perpetra. Hoje, isto seria antissemitismo”, conclui Levy.