Paulino Guajajara, “Guardião da Floresta” na Terra Indígena Araribóia, foi morto por grileiros em emboscada.

Uma emboscada realizada por madeireiros no interior da Terra Indígena Araribóia, em Bom Jesus das Selvas, no Maranhão, resultou no assassinato do líder indígena Paulo Paulino Guajajara na sexta-feira (1). Ele era integrante de um grupo de agentes florestais indígenas autodenominados “guardiões da floresta”.
O indígena tinha 26 anos e deixa esposa e um filho.
Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), denunciou o crime cometido pelos madeireiros. “Com indignação e tristeza, acusa e responsabiliza o Estado e o governo brasileiro pelo covarde assassinato de Paulo Paulino Guajajara”, diz nota do órgão ligado à Igreja Católica.
Segundo as informações do Cimi, Paulino Guajajara e Laércio Souza Silva partiram da aldeia Lagoa Comprida, norte da Terra Indígena, a 100 km do município de Amarante, para caçar. Já na mata, foram surpreendidos por cinco madeireiros armados.
Os homens, com as armas em punho, exigiram que Paulino e Laércio entregassem arcos e flechas, instrumentos tradicionais usados para caçar. Como Guardiões da Floresta, portanto conhecidos destes habituais invasores da Terra Indígena, os Guajajara não tiveram muita chance de defesa.
Sem esperar qualquer reação, os madeireiros, em maior número, começaram a atirar contra os indígenas. Um dos disparos atingiu Paulino no rosto. Laércio foi alvejado no braço e nas costas.
Conforme Laércio, que relatou todo o trágico episódio, eles não tiveram tempo de fugir ou se proteger. Só depois que viu Paulino caído, já sem vida, Laércio percebeu que não teria chance e escapou pela mata, debaixo de tiros, regressando à aldeia, onde pediu ajuda.
Um batalhão da Polícia Civil de Amarante se dirigiu ao local, com o apoio de um helicóptero, e retirou o corpo do Paulino da mata levando-o para a comunidade realizar o velório. O governo do Maranhão confirmou a execução. Policiais acreditam que se tratou de uma emboscada. Também afirmaram que não há nenhuma notícia de morte entre os madeireiros, conforme se ventila pela região.
A região da aldeia Lagoa Comprida é regularmente, e há muitos anos, invadida por madeireiros. Em 2007, o indígena Tomé Guajajara foi assassinado no local. No ano seguinte, em 2008, os madeireiros invadiram a aldeia Cabeceira, atirando contra os indígenas. Em 2015, foi a vez de um agente do Ibama ser atacado a tiros e escapar por pouco.
As terras indígenas do Maranhão sofrem invasões de grileiros e madeireiros há décadas e desde 2012 os chamados “guardiões da floresta” tentam proteger a região por conta própria, expulsando os invasores. O grupo é formado por 180 indígenas e realiza ações noturnas contra a invasão de terras e a extração ilegal de madeira.
O Instituto Socioambiental (ISA) também lamentou a morte de Paulino durante a madrugada. De acordo com informações do ISA, os Guajajara são um dos povos indígenas mais numerosos do Brasil. Vivem em mais de dez terras indígenas na margem oriental da Amazônia, todas localizadas no Maranhão.
“Luto na Terra Indígena Araribóia. Toda a força aos guardiões da floresta do povo Guajajara, que protegem a floresta, seu território e os parentes isolados Awá Guajá”, diz nota divulgada pelo Instituto.
Já na madrugada deste sábado (2), com a morte do líder indígena, surgiram manifestações de organizações não governamentais como o Greenpeace e de lideranças como,
A coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, comunicou a morte de Paulino no final da noite de sexta-feira.
“Parem de autorizar o derramamento de sangue de nosso povo”, disse Sônia Guajajara, ex-candidata à vice-presidência pelo PSol.
O Greenpeace emitiu uma nota de pesar sobre o caso. “Invadidas por grileiros e madeireiros, as terras indígenas do Maranhão têm sido palco de uma luta assimétrica, onde pequenos grupos de Guardiões optam por defender, muitas vezes com a própria vida, a integridade de seus territórios”, diz um trecho da nota.
O Cimi vem denunciando o aumento das invasões dos territórios indígenas, fruto do incentivo dos agentes públicos e privados que se somam contra a regularização dos territórios concebidos pela Constituição Federal.
Entre janeiro e setembro de 2019, o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, do Cimi, contabilizou 160 casos de invasão a 153 terras indígenas de 19 estados.