Leci Brandão defende mais parlamentares negros com “compromisso”
No Mês da Consciência Negra, a cantora e compositora Leci Brandão, deputada estadual pelo PCdoB-SP, defende a eleição de mais parlamentares negros. Ela própria foi apenas a segunda mulher negra a ser eleita para Assembleia Legislativa paulista (Alesp), onde está na quarta legislatura seguida.
Mas Leci pondera que não basta se autoproclamar preto ou parto se o político não aderir à causa antirracista e às lutas progressistas. “Tem que ser uma pessoa preta que tenha compromisso com o seu povo. Não adianta ser preto e fazer bobagem, né?”, disse Leci ao repórter Joelmir Tavares, que escreveu um perfil da deputada publicado neste domingo (5) na Folha de S.Paulo.
A reportagem destaca três eixos do mandado da parlamentar comunista: a promoção da igualdade racial, o respeito às tradições de matriz africana e a valorização da cultura popular. “Depois da nossa chegada (à Alesp), as pessoas de religião de matriz africana entram aqui trajadas com roupas do candomblé, da umbanda”, afirma. “Entra atabaque aqui na Casa – e ninguém fala nada, não. Porque, quando querem cantar os louvores, eles (evangélicos) cantam, e a gente não se mete nisso.”
Ao mesmo tempo, Leci é favorável a mais cotas para negros e mulheres na política. Ela lembra que sua trajetória já inspirou outras lideranças negras, como Erica Malunguinho (PSOL): “Elas mesmas diziam para mim durante as campanhas: ‘Você é a nossa referência, hein?’. E graças a Deus entrou um bando de gente”.
Em contrapartida, o mandato de Jair Bolsonaro (PL) no Planalto aviltou tanto as causas defendidas por Leci que, hoje, ela nem sequer cita o nome do ex-presidente. “Atrai coisa ruim, não faz bem para mim”. Ao mesmo tempo, diz ter orgulho de ser comunista quando esse termo é usado pejorativamente por Bolsonaro. “Acho ótimo que ele não goste dos comunistas. Para mim, é uma coisa positiva.”
Em março, no Mês Internacional da Mulher, Leci será uma das deputadas homenageadas com o Colar de Honra ao Mérito Legislativo. “Meus amigos diziam: ‘Você é a favor de tudo que esse pessoal detesta: você é preta, é pobre, é do samba, gosta de orixá’”, recorda a deputada. “Eu respondia: ‘Sou assim, Deus me fez assim e agradeço por ser do jeito que eu sou’.”