Lavrov: Rússia está pronta para ajudar Europa a superar alta do gás
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguey Lavrov, assinalou na sexta-feira (8) que os Estados Unidos estão tentando minar a cooperação entre seu país e a União Europeia no campo da energia.
“Os EUA afirmam expressamente que a cooperação com a Rússia é contrária aos interesses da segurança energética da Europa. Querem provocar diretamente uma disputa entre nós nesta área, diminuir a nossa interdependência”, frisou.
Neste contexto, o ministro russo disse que a UE “não promove nem apoia” a cooperação energética de determinados países com a Rússia, o que “é lamentável”. Ele ressaltou que a empresa de gás russa Gazprom cumpre todos os seus compromissos no trânsito de gás para a Europa. “Estamos prontos para ajudar a Europa a superar esta crise [relacionada ao aumento dos preços do gás natural], mas a Europa deve admitir a necessidade de tomar medidas de sua parte”, sublinhou.
“A Gazprom não apenas cumpre todas as suas obrigações, mas também as cumpre em excesso, faz tudo ao seu alcance para que as condições sejam justas”, disse Serguey Lavrov, em uma reunião com representantes da Associação de Empresas Europeias, transmitida ao vivo.
“Na atual situação de forte alta dos preços dos hidrocarbonetos, especialmente do gás natural e da eletricidade nos países da União Europea (UE), é óbvio que temos que cooperar mais estreitamente nessa área”, disse.
Ele ressaltou que a Rússia “está pronta para ajudar a Europa a superar essa crise, mas a Europa deve entender a necessidade de medidas recíprocas”.
“Obrigações contratuais”
A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, em final de mandato, declarou na quarta-feira (6) que a Rússia está cumprindo seus contratos de trânsito de gás para a Europa e perguntou se a UE fez um número suficiente de pedidos para evitar a escassez e tratar do preço do óleo.
A líder alemã expressou que, de acordo com os dados que possui não há encomendas de gás sobre as quais a Rússia dissesse: “Não forneceremos isto a vocês e não o forneceremos definitivamente através do gasoduto ucraniano”. Acrescentou que Moscou pode fornecer o gás apenas “com base nas obrigações contratuais”.
O problema é que a UE apostou no mercado especulativo de curto prazo como principal forma de garantir o fornecimento de gás, ao invés de nos contratos de longo prazo oferecidos pelos russos. Agora, com estoques baixos, o inverno chegando, eficácia menor do que o esperado na energia eólica e aumento da demanda devido à recuperação da economia à medida que a pandemia cede, essa opção gerou escassez de gás.
Ao mesmo tempo, os burocratas de Bruxelas não vêm mostrando a menor pressa em liberar a entrada em operação do Nord Stream 2, que já ficou pronto. Com a escassez do gás, os preços foram à estratosfera nessa semana, até Moscou voltar a reiterar que está pronta para ajudar.
Nos últimos meses, os preços do gás na Europa aumentaram consideravelmente. Agora em outubro superaram a barreira histórica de US$ 1.900 por 1.000 metros cúbicos, quando no início de agosto passado era de US$ 515.
Gás russo adicional
No último dia 6, o presidente russo, Vladimir Putin, pediu a seu governo que estudasse opções para ajudar a Europa a superar a crise energética. Entre as propostas em cima da mesa estão a possibilidade de fornecimento adicional para a Europa de 10 bilhões de metros cúbicos de gás das reservas da russa Rosneft (empresa de energia com foco no mercado interno), para o qual precisa de autorização do governo.
Segundo o chanceler russo, a única proposta construtiva nos últimos meses foi a iniciativa da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente da França, Emmanuel Macron, de convocar uma cúpula urgente UE-Rússia, mas ela não foi concretizada “pela posição absurda da organização europeia de que seria quase um presente para a Rússia”, disse ele.
“Nós não precisamos de presentes, nem os esperamos de ninguém, não trabalhamos para isso, nem temos esperanças exageradas. Percebemos que a situação já foi longe demais e ninguém consegue revertê-la rapidamente. A confiança foi prejudicada demais como resultado de uma série de medidas unilaterais tomadas por Bruxelas”, declarou.
“Como solução ideal, propomos buscar pontos de contato em esferas onde nossos interesses coincidam”, assinalou.
Moscou tem interesse em restabelecer contatos regulares com empresários europeus em todas as esferas, inclusive na saúde pública, acrescentou.
Lavrov insistiu que a Rússia e a UE devem evitar politizar a questão do gás e “pensar que nossos povos podem realmente sofrer com as deficiências dos governos e das empresas correspondentes em matéria de energia, abastecimento de energia e, em geral, segurança energética”.
O ministro lembrou que Washington “pressionou muito” Bruxelas, especialmente durante a presidência de Donald Trump, cujo governo “obrigava diretamente a renunciar ao gás russo que chega pelos gasodutos e, em vez disso, propôs construir terminais para embarques de gás natural liquefeito dos EUA” (além de impor sanções).
Gás chega ao Nord Stream 2
Em 4 de outubro foi iniciado o processo de preenchimento de gás na primeira linha do gasoduto Nord Stream 2, concluído no início de setembro pelo consórcio russo Gazprom, obra que conecta a Rússia e a Alemanha ao longo do fundo do Mar Báltico para transportar até 55.000 milhões de metros cúbicos de combustível anualmente.
A infraestrutura, em cujas construtoras da Alemanha, Áustria, França e Holanda também participam, é composta por dois ramais de 1.230 quilômetros. Moscou solicita a aprovação o mais rápido possível pelos reguladores europeus do gasoduto Nord Stream 2.