Kromatorsk: míssil ucraniano deixou 50 mortos e usou provocação em russo para inculpar Moscou

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou na segunda-feira (11) que Moscou não vai sucumbir às sanções e pressões externas, acrescentando que a operação na Ucrânia visa pôr fim aos planos norte-americanos de dominação global.

“Nossa operação militar especial é projetada para acabar com a expansão imprudente e o curso imprudente em direção à dominação completa pelos Estados Unidos e, sob eles, o restante dos países ocidentais, no cenário mundial. Essa dominação é construída com violações flagrantes do direito internacional, sob algumas regras, que eles agora estão exaltando tanto e que eles inventam caso a caso”, disse Lavrov em entrevista à emissora Rossiya 24.

A Rússia está entre as nações que não se submetem à vontade de Washington, apontou o diplomata russo. Será apenas parte de uma comunidade internacional de iguais e não permitirá que as nações ocidentais ignorem suas preocupações legítimas de segurança.

Lavrov também criticou o principal diplomata da União Europeia, Josep Borrell, por suas recentes declarações de que o conflito na Ucrânia “será vencido no campo de batalha”, ao anunciar mais ajuda militar a Kiev no último sábado.

O chanceler russo chamou de “ultrajante” tal declaração. “Quando um chefe diplomático… diz que determinado conflito só pode ser resolvido por meio de ação militar… Bem, deve ser algo pessoal. Ele ou falou errado ou falou sem pensar, fazendo uma declaração que ninguém lhe pediu para fazer. Mas é uma observação ultrajante ”, ressaltou.

Declaração que sinaliza que Washington e Bruxelas estão atuando para afastar os ucranianos da ideia de um acordo negociado e cessar-fogo.

O papel da UE mudou durante a crise de segurança na Ucrânia, assinalou o chefe da diplomacia russa. Anteriormente, não atuava como uma organização militar “lutando coletivamente contra uma ameaça inventada”. Lavrov disse que a mudança foi resultado da pressão exercida por Washington sobre os membros do bloco europeu, que o aproximou da Otan.

“Esta é uma mudança extremamente séria que a UE e o Ocidente atravessam sob a liderança dos EUA – não há dúvida sobre isso – e começaram a perseguir após o início de nossa operação militar especial. Uma política que reflete rancor, de certa forma mesmo frenesi, e que, é claro, é determinada não apenas pela [situação na] Ucrânia, mas pela Ucrânia sendo transformada em um ponto de apoio para a repressão final da Rússia”, observou o ministro.

Ele estava se referindo às tentativas dos Estados Unidos de impor sua própria chamada “ordem internacional baseada em regras”, que encontraram forte resistência de Moscou e Pequim.

Por sua vez, a Rússia quer negociar a paz com a Ucrânia, enfatizou Lavrov. A UE deu uma reviravolta notável em sua atitude em relação à Rússia porque as potências ocidentais estão furiosas com Moscou por defender seus interesses vitais na Ucrânia, em vez de aceitar um papel subserviente na “ordem baseada em regras” dominada por Washington, disse Lavrov.

A mudança dramática é uma evidência de que o conflito na Ucrânia não é sobre a Ucrânia, acredita Lavrov.

“A propaganda ocidental mudou de marcha para retratar a Rússia como puro mal e [a Ucrânia] como puro bem. O atual regime ucraniano é presumivelmente um farol de democracia, justiça, liberdade que é atraído por tudo o que é europeu, pelos valores que a Europa afirma que sempre aderiu”, disse o ministro.

Na verdade, destacou, a Ucrânia é “um viveiro de nacionalismo radical, enquanto as potências ocidentais facilmente quebram quaisquer normas quando lhes convém, enquanto dizem aos outros que obedeçam”.

“Kosovo pode ser reconhecido como independente sem um referendo. A Crimeia não pode, apesar de realizar um referendo observado por [muitos monitores internacionais]”, ele ofereceu como exemplo de dois pesos e duas medidas.

“No Iraque, a 10.000 quilômetros dos EUA, eles imaginaram alguma ameaça à sua segurança nacional. Eles bombardearam, não encontraram nenhuma ameaça. E nem disseram que estavam arrependidos”, acrescentou.

“Mas quando bem na nossa fronteira eles cultivam ultrarradicais e neonazistas, criam dezenas de laboratórios biológicos… trabalhando em armas biológicas, como os documentos provam, nos dizem que não temos permissão para reagir a essas ameaças”, acrescentou.

Lavrov disse ainda que existe a possibilidade de que tropas ucranianas, apoiadas por serviços de inteligência ocidentais, realizem novas provocações, citando um incidente recente em Donbass, quando as forças de Kiev tentaram culpar a Rússia por seu próprio ataque à cidade de Kromatorsk, bem como a infame provocação em Bucha.

“As provocações, eu acho, são ultrajantes. Quanto a Bucha, nossos militares apresentaram tanto argumentos cronológicos, quanto argumentos relacionados aos materiais de vídeo, e argumentos relacionados, desculpem os detalhes, à posição dos cadáveres e sua aparência. Tudo que é possível, foi apresentado”, disse.

Lavrov assinalou que, depois que a Rússia mostrou os dados reais sobre o incidente, todo o escândalo foi prontamente varrido para debaixo do tapete.

“Se Bucha continua a ser jogado de alguma forma por várias semanas, então Kromatorsk foi de alguma forma silenciado muito rapidamente. Aparentemente, as evidências apresentadas ali mesmo, no mesmo dia, incluindo fatos balísticos e a ausência de Tochka-U em nosso serviço”, disse.