O presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, se reúnem em Oyo, República do Congo

“O terminal de grãos do porto de Odessa está localizado a uma distância considerável da região militar, não há nenhum obstáculo para que os grãos comecem a ser exportados, conforme estipulado nos acordos assinados em Istambul”, assegurou Lavrov em entrevista coletiva após reunião com o chefe de Estado do Congo, Denis Sassou Nguesso.

Portanto, prosseguiu, “nada impede a exportação de grãos ucranianos desde Odessa”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, após o bombardeio do último sábado contra um edifício militar e armas fornecidas pelos Estados Unidos e seus aliados naquele porto estratégico no Mar Negro.

O chefe da diplomacia russa está atualmente em turnê por vários países africanos, Egito, República do Congo, Uganda e Etiópia, para assegurar a chegada de alimentos aos países que necessitam do grão proveniente da Ucrânia.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reiterou na segunda-feira (25) que os ataques visaram apenas “a infra-estrutura militar” e que “não tinham nada a ver com a implementação do acordo de exportação de grãos”.

Já o Serviço Federal de Segurança da Rússia assegurou ter desmantelado uma operação de inteligência militar ucraniana para capturar aviões de sua força aérea e garantiu que essa trama foi supervisionada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

O ministro de Infraestrutura da Ucrânia, Oleksandr Kubrakov, afirmou em entrevista coletiva que as exportações de grãos poderão ser retomadas “esta semana” a partir do porto de Chernomorsk.

Taras Vysotskiy, vice-ministro da Agricultura, destacou que as exportações de cereais “podem chegar a 3,5 milhões de toneladas por mês em breve, graças ao acordo”.

O trato assinado na sexta-feira (22) sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Turquia, prevê a abertura de “corredores seguros” para que os navios mercantes possam transitar pelo Mar Negro e deve permitir a exportação de entre 20 e 25 milhões de toneladas de grãos bloqueados na Ucrânia.

As exportações, porém, também são prejudicadas pela presença de minas no mar, espalhadas por Kiev. De acordo com o ministro da Infraestrutura, a desminagem só terá lugar “no corredor necessário às exportações”.

A Ucrânia e a Rússia são responsáveis por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo. As sanções contra Moscou tomadas sob patrocínio dos Estados Unidos após o inicio das operações russas na Ucrânia em 24 de fevereiro, provocaram problemas particularmente no continente africano, onde os preços dos grãos dispararam.

Negociações

Chegandoa Uganda, Lavrov assinalou que “nunca nos recusamos a negociar, porque todos sabem bem: combates devem acabar à mesa de negociações. Mas ainda falta a resposta de Kiev”.

O chanceler russo acrescentou, na segunda-feira (25), que “quando na fase inicial da nossa operação militar a parte ucraniana sugeriu conduzir negociações, nós concordamos, realizando uma série de rodadas, que levaram a uma etapa muito interessante que se deu em Istambul em 29 de março. Lá, a parte ucraniana propôs uma opção de acordo que nós apoiamos, notificando os nossos colegas de Kiev sobre isso. Mesmo assim, não há resposta alguma desde então. Mesmo que, saliento mais uma vez, nós tenhamos concordado com a abordagem deles, essencialmente”, destacou.

Segundo Lavrov, a Rússia sabe que “os EUA, o Reino Unido e uma série de países europeus proibiram os ucranianos de chegar a acordo conosco, na base mencionada”.

Ao mesmo tempo, o ministro russo afirmou que se deve perguntar aos Estados Unidos por que Kiev rejeita quaisquer negociações.

“Há uns dias eu disse em uma entrevista que a Rússia não tem nenhum preconceito contra as negociações com a Ucrânia. De imediato, depois de apenas umas horas, o porta-voz do Departamento de Estado afirmou que os EUA não acham que agora seja o momento oportuno para a Ucrânia conduzir negociações com a Rússia. Então, façam conclusões – perguntem aos colegas norte-americanos, qual é a razão disso”, sublinhou Lavrov durante coletiva de imprensa no âmbito da sua visita a Uganda.

Falando sobre a atual crise de combustíveis, que a Europa e o mundo estão atravessando, o chanceler russo salientou que o gasoduto Nord Stream 2 está completamente pronto para satisfazer as necessidades da Europa no campo energético, tendo sido fechado por razões políticas.

“Ao longo dos últimos seis ou sete anos a União Europeia tem dito que a Rússia usa o gás como uma arma, não providenciando nenhum exemplo concreto e paralelamente fazendo tudo para limitar as capacidades de transportar o gás, que o Nord Stream 1 possuía”, constatou o ministro.

Além do gás, o chanceler russo falou sobre a situação no mercado petrolífero. Segundo Lavrov, a Rússia está disposta a vender o petróleo a qualquer país interessado.

“Vendemos o petróleo a qualquer país que está interessado nisso. Se algum país o quiser, não há obstáculo algum, seja para Índia ou China, seja para qualquer país africano”, afirmou.

Sobre o aprofundamento das relações com os países africanos, o ministro disse que o papel da África na política externa russa será maior: “Posso justamente dizer que o papel do continente africano no conceito da nossa política externa vai ser aumentado de forma significativa. Isso sucederia independentemente do que está acontecendo no ocidente. A direção ocidental, como vocês sabem, agora está sendo cancelada por conta própria”, afirmou.