Chanceleres Kuleba da Ucrânia e Lavrov da Rússia fazem na Turquia a 1ª reunião pela paz

A primeira negociação em nível de ministros das Relações Exteriores entre a Rússia e a Ucrânia, representadas respectivamente por Sergei Lavrov e Dmitry Kuleba, foi concluída em Antália, na Turquia, em reunião que contou com a participação do anfitrião, o chanceler turco Mevlut Cavusoglu.

O lado ucraniano prometeu “dar uma resposta” sobre os projetos de documentos que a Rússia propôs na terceira rodada de negociações de paz [na Bielorrússia], afirmou Lavrov em entrevista coletiva após as conversações, em que reiterou as propostas para a normalização das relações entre os dois países que evnvolvem a neutralidade, sem a presença da Otan, a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, e fim da perseguição aos russos, com o reconhecimento da incorporação da Crimeia e das repúblicas populares do Donbass.

A reunião foi realizada à margem do Fórum Diplomático de Antália e durou 90 minutos. O anfitrião, o chanceler turco Mevlut Cavusoglu, conversou separadamente com as duas partes, enquanto a “operação militar especial” russa na Ucrânia já entrou no 15º dia.

De acordo com Lavrov, a Rússia explicou as medidas os militares russos estão tomando para aliviar a situação dos civis nas áreas de operações de combate. Moscou confirmou que sua iniciativa de abrir corredores humanitários continua em vigor, e as rotas e horários de funcionamento dos corredores são determinados pelos militares no terreno.

Lavrov observou que “até o último momento”, a Rússia quis resolver as questões com Ucrânia “por vias diplomáticas”, reiterou Lavrov, provavelmente o mais conhecido diplomata da atualidade. Ele acrescentou que o conflito teria sido evitado se o Ocidente não tivesse rejeitado “nossa proposta sobre garantias de segurança” e fim da expansão da OTAN até às fronteiras russas.

Ele salientou ainda que durante anos a Rússia tentou fazer com que a Ucrânia cumprisse com os Acordos de Minsk de autonomia e pacificação do Donbass.

“Não queremos a militarização da Ucrânia na OTAN ou sem OTAN, por ser possível sem qualquer OTAN instalar lá sistemas que vão manter sob a mira o nosso território”, assinalou o chefe da diplomacia russa.

A Rússia não admite que “um estado neonazista se forme” na Ucrânia, enfatizou Lavrov. “Temos dito há anos que a Ucrânia está sendo tornada em uma ‘anti-Rússia’”, acrescentou.

Lavrov disse ainda que aqueles que “entopem a Ucrânia com armas e incentivam o envio de mercenários devem assumir a responsabilidade por suas ações”.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia afirmou ainda que Moscou quer que a Ucrânia permaneça neutra e está pronta para discutir garantias de segurança relacionadas a ela – para a Ucrânia, países europeus e a própria Rússia. Lavrov acrescentou que Moscou deseja ver a Ucrânia como um país amigo que não emite proibições à língua e cultura russas.

Segundo Kuleba, o regime de Kiev “jamais se renderá”. Ele descreveu a reunião como “difícil” e acusou Lavrov de trazer “narrativas tradicionais” para a mesa.

Lavrov disse que a Rússia encara com seriedade a necessidade de encontrar uma solução nas conversações com a Ucrânia e que Moscou apóia quaisquer contatos que visem acabar com a atual crise.

Em comunicado da Interfax-Ucrânia, Kuleba disse ter ouvido de Lavrov que o cessar-fogo está ligado ao cumprimento dos requisitos apresentados pela Rússia à Ucrânia. O ministro ucraniano salientou estar pronto para se reunir novamente

com Lavrov com a participação do chanceler turco, “se houver perspectivas de uma discussão substantiva e busca de soluções”.

Para o chanceler russo, “agimos com base na premissa de que esses contatos não serão usados para substituir ou desvalorizar a verdadeira via principal de negociação que está se desenvolvendo no território bielorrusso – algo que nossos colegas, principalmente ucranianos, fazem rotineiramente”.

Lavrov observou ainda que o presidente russo, Vladimir Putin, nunca diz “não” aos contatos, desde que essas reuniões não sejam realizadas “por causa das próprias reuniões”, mas para se concretizarem acordos.

Quanto à guerra econômica quase total movida pelo Ocidente contra a Rússia, Lavrov ressaltou que seu país será capaz de resolver seus problemas econômicos de tal forma que nunca mais dependerá dos governos e empresas ocidentais.

O chanceler russo disse também que a Rússia nunca usou petróleo e gás como uma arma. Segundo Lavrov, se a Europa parar de comprar petróleo e gás russos, Moscou “não vai lhe implorar” para que compre.

Respondendo a jornalistas, Lavrov também se referiu a dois fatos que tiveram destaque na mídia: a descoberta pelos russos dos 30 biolaboratórios na Ucrânia patrocinados pelo Pentágono e a fake news sobre um ‘ataque russo a maternidade em Mariupol’.

“Não é pela primeira vez que ouvimos gritos hipotéticos com relação ao que chamam de ‘atrocidades’ executadas por ‘forças armadas russas’. No dia 6 ou 7 de março, não me lembro bem, na reunião do Conselho de Segurança da ONU, a nossa delegação apresentou fatos de que aquele hospital de maternidade há muito tempo foi capturado pelo Batalhão Azov e por outros radicais, que expulsaram de lá todas as mulheres, enfermeiras e todos os funcionários, sendo [este hospital] uma base de um batalhão ultrarradical”, explicou

“Esses dados foram apresentados três dias atrás. Portanto, tirem as conclusões: de que maneira as opiniões públicas têm sido manipuladas por todo o mundo”, questionou

Sobre os experimentos em biolaboratórios da rede do Pentágono na Ucrânia, Lavrov disse que “quanto ao fato de eles já terem usado essas armas [biológicas] eu não tenho dados, mas que não eram experimentos pacíficos, mas experimentos destinados à criação de armas biológicas, por assim dizer, etnicamente orientadas, disso praticamente não há dúvida”.