Os chanceleres, Lavrov, da Rússia e Kuleba, da Ucrânia se reunirão na Turquia

Está confirmada a primeira reunião entre o chanceler russo Sergei Lavrov e seu homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, na quinta-feira (10), durante o Fórum Diplomático de Antália, na Turquia, sob mediação do governo Erdogan.

No terreno, tiveram lugar na terça-feira (8) os primeiros corredores humanitários, depois de duas tentativas fracassadas. No Donbass, está praticamente fechado o cerco às forças ucranianas e seus batalhões neonazistas.

Por sua vez, o presidente Volodymyr Zelensky disse ter “esfriado” a questão da adesão da Ucrânia à Otan e manifestou, de forma sinuosa, o que alguns analistas viram como certa disposição para chegar a algum entendimento com Moscou.

“Perdi o interesse nesta questão depois que percebemos que a Otan não estava pronta para aceitar a Ucrânia. A aliança tem medo de coisas contraditórias e confronto com a Federação Russa”, disse Zelensky.

Em entrevista ao canal de televisão norte-americano ABC, ele também anunciou a possibilidade de discutir questões territoriais com a Rússia.

“Podemos discutir questões relacionadas aos territórios temporariamente ocupados e repúblicas não reconhecidas que não foram reconhecidas por ninguém, exceto a Rússia, essas pseudo-repúblicas, podemos encontrar um compromisso sobre o destino futuro desses territórios”, acrescentou Zelensky, sem se comprometer claramente.

Ele voltou a pressionar os EUA pelo envio de mais armas e instauração de uma zona de exclusão aérea – que a Otan não faz por saber que levaria a uma guerra nuclear -, dizendo que a recusa em “fechar o céu” seria responsável “pela morte de pessoas na Ucrânia”.

O ex-presidente Viktor Yanukovych, derrubado pelo golpe de Estado de fevereiro de 2014, divulgou uma carta em que convoca Zelensky, a parar o derramamento de sangue e fazer a paz.

“Eu entendo muito bem que você tem muitos conselheiros, mas pessoalmente você é obrigado a parar o derramamento de sangue a qualquer custo e chegar a um acordo de paz. Isso é esperado de você na Ucrânia, no Donbass e na Rússia. O povo ucraniano e seus parceiros no Ocidente ficarão gratos a você”, disse o ex-presidente da Ucrânia.

Na carta, ele admitiu que pensa constantemente em sua decisão de deixar o país há oito anos para evitar derramamento de sangue de ucranianos. “Infelizmente, meu sacrifício em 2014 não impediu as autoridades de Maidan”, enfatizou Yanukovych.

Sem ilusões

Sobre as declarações de Zelensky, o chefe do Comitê da Duma de Estado sobre Integração Eurasiana e Relações com Compatriotas, Leonid Kalashnikov, assinalou que tal posição “é completamente diferente da nossa” e chamou a “não ter ilusões aqui”.

“Parece-me que agora precisamos falar mais sobre o que nos une. Estas são principalmente questões de natureza humanitária”, acrescentou Kalashnikov em entrevista ao jornal russo Izvestia.

O parlamentar ressaltou ainda que é imprescindível discutir a desnazificação e a desmilitarização do país.

No que parece uma manobra protelatória, o partido de Zelensky, o Servo do Povo, propôs a substituição do Memorando de Budapeste – que estabelece a neutralidade e a condição de Estado não-nuclear – “por garantias de segurança dos Estados Unidos, Turquia e vizinhos da Ucrânia”.

A proposta também cobra de Moscou que reconheça o “Estado ucraniano” e diz que “nos próximos anos” a adesão à OTAN é “impossível”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, tem dito que Moscou pode parar a operação militar especial na Ucrânia “a qualquer momento”, caso Kiev aceite as condições: reconhecer a Crimeia como sendo território russo, a soberania das repúblicas de Donetsk e Lugansk, bem como a neutralidade da Ucrânia.

A “operação militar especial” foi desencadeada pela Rússia, após o reconhecimento das duas repúblicas antifascistas do Donbass, que se levantaram em armas em 2014 contra o golpe e a perseguição aos falantes de russo, depois de pedido de assistência diante do recrudescimentos dos ataques ultranacionalistas aos civis.

A Rússia durante oito anos tentou fazer com que o regime de Kiev cumprisse os Acordos de Minsk, que concediam autonomia às regiões de ascendência russa e restauravam a paz. Outro fator foi a insistência do regime de Kiev em aderir à Otan, rompendo com o status de neutralidade e ameaçando obter armas nucleares, o que tornaria o país um trampolim para atacar a Rússia.

Em dezembro, a Rússia havia proposto oficialmente aos EUA e à Otan que parassem com a extensão da aliança bélica até às fronteiras russas, contrariando compromissos assumidos quando da reunificação alemã. Em resposta por escrito, Washington e Bruxelas se recusaram a levar em conta os interesses de segurança da Rússia, que se via em uma situação de ameaça máxima desde que o regime Trump acabou com o Tratado INF, que garantiu a paz na Europa durante quatro décadas e evitou a hecatombe nuclear.