"A grande maioria dos países está interessada numa cooperação com base na Carta da ONU", disse Lavrov.

Sergei Lavrov, chanceler da Rússia, afirmou durante um fórum diplomático na sexta-feira (25) que o desejo do Ocidente “de manter seu domínio nos assuntos internacionais, de subjugar tudo e todos e retornar a um mundo unipolar – são, é claro, ilusões”.

“Quando vemos todas essas sanções, é claro que todos esses valores que nossos colegas ocidentais nos pregaram constantemente sobre a liberdade de expressão, a economia de mercado, a inviolabilidade da propriedade privada e a presunção de inocência, todos esses valores são inúteis”, destacou Lavrov a jornalistas, após encontro com o presidente da Abkhazia, Aslan Bzhania.

Os esforços do Ocidente para manter sua hegemonia “por bem ou por mal, mas sim por mal”, são a causa de “séria tensão nas relações internacionais”, segundo Lavrov, e só podem ser combatidas “junto com nossos parceiros e aliados”.

“Hoje uma verdadeira guerra híbrida, uma ‘guerra total’, foi declarada contra nós”, enfatizou o chefe da diplomacia russa Sergei Lavrov, acrescentando que esse termo “que foi usado pela Alemanha nazista” agora é usado “por muitos políticos europeus quando eles explicam o que querem fazer à Federação Russa”.

“Os objetivos não estão ocultos: destruir, quebrar, estrangular a economia russa e a Rússia como um todo”, assinalou Lavrov, ressaltando que essas pretensões são também ilusórias.

O ministro das Relações Exteriores russo enfatizou que, apesar dos melhores esforços das potências ocidentais, não se pode falar de isolamento da Rússia no cenário mundial. “Não vamos nos isolar. Temos muitos amigos, aliados e parceiros no mundo, um grande número de associações nas quais a Rússia trabalha com países de todos os continentes e continuará a fazê-lo”, disse.

Maioria quer cooperação

A maioria dos países fora do Ocidente coletivo – enfatizou Lavrov – não quer “engajar-se em um jogo unilateral” em meio à crise atual, apesar da “enorme pressão” e da “propaganda que faz malabarismo com o número de votos para resoluções provocativas da ONU”.

Lavrov expressou confiança de que a maioria dos países do mundo não irá se sujeitar ao jogo de sanções dos EUA e subalternos.

“A grande maioria dos países do mundo está interessada em desenvolver uma cooperação equitativa com base nos princípios-chave estabelecidos na Carta da ONU, em primeiro lugar – o princípio da igualdade soberana dos Estados”, disse ele.

Para o chanceler russo, os esforços do Ocidente para “atropelar rudemente” esses princípios tentando “impor sua superioridade” estão “destinados ao fracasso”, como até a história da Europa mostrou.

Sobre a crise em curso na Ucrânia, Lavrov lembrou o “silenciamento” da mídia americana e europeia sobre os assassinatos de civis e o bloqueio econômico das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk pelas forças ucranianas por quase oito anos.

Ele também apontou para o empenho dos EUA e da Europa para entupir a Ucrânia com armamentos e açular Kiev a “resolver” a crise do Donbass pela força.

Lavrov anunciou que as revelações sobre biolaboratórios financiados pelos EUA na Ucrânia passarão a ser um tema constante no Conselho de Segurança, “porque está diretamente relacionado a riscos e ameaças à paz e segurança internacionais”.

Moscou também irá focar a rede de biolaboratórios dos EUA em todo o mundo, particularmente na antiga URSS, onde Washington instalou ou financiou dezenas de tais instalações após o fim da Guerra Fria.

Russofobia

A situação atual no mundo foi “aquecida até o limite”, ressaltou Lavrov. “Na verdade, estamos testemunhando a culminação da política de contenção da Rússia, que o Ocidente vem perseguindo há muito tempo.”

O “apogeu dessa linha russofóbica foi o apoio de Washington e Bruxelas ao regime de Kiev”, disse ele. “Vale lembrar as leis que vêm sendo adotadas consistentemente na Ucrânia [após o golpe de Maidan em 2014] sobre a língua russa, ou melhor, sobre a proibição do uso da língua russa na educação, na mídia e na vida cotidiana, e assim, com efeito, arrancando da Ucrânia todas as suas raízes russas e riscando a história comum dos povos russo e ucraniano”.