Polícia reprime protestos mas civis armados à solta, atiram em manifestantes

A cidade norte-americana de Kenosha, no estado de Wisconsin, onde um policial atirou sete vezes à queima-roupa pelas costas de Jacob Blake, de 29 anos, diante de três de seus filhos, viveu mais uma madrugada, a terceira consecutiva, de manifestações e confrontos.

Centenas de pessoas saíram às ruas por volta das 20h de terça-feira (25), horário local, após o início do toque de recolher que tinha sido instaurado. A polícia lançou gás lacrimogêneo contra os manifestantes que se reuniram na frente do Tribunal do Condado da cidade. Eles se defenderam jogando garrafas d’água e fogos de artifício em direção aos agentes.

Após a dispersão uma parte dos manifestantes caminhou por ruas próximas e começou a se concentrar em um posto de gasolina que ficava a alguns quarteirões de distância. Depois da meia-noite, um grupo de homens armados que dizia fazer a segurança do posto disparou tiros contra a população. Duas pessoas morreram baleadas e uma ficou ferida.

A revolta é motivada pela divulgação de um vídeo que mostra o momento em que Jacob foi atingido por vários disparos por um policial branco de Kenosha quando, desarmado e sem oferecer nenhuma resistência, tentava entrar em seu veículo, no qual estavam três filhos pequenos, no domingo (23).

O Departamento de Polícia de Kenosha afirmou que a terceira vítima foi levada ao hospital com “ferimentos graves, mas não fatais”. O xerife David Beth afirmou que a polícia estava em busca do homem armado que teria feito os disparos, de acordo com o “New York Times”. Só não explicou por que os agentes não reprimiam os civis brancos armados que estavam nas ruas de Kenosha, que afirmavam que pretendiam proteger as propriedades privadas.

O jovem Jacob foi operado na terça-feira, 25, disse o advogado de direitos civis Benjamin Crump, que representa os Blake — e a família de George Floyd, o cidadão negro asfixiado em maio por um policial branco — e considerou que “será um milagre, se Jacob Blake voltar a andar”. Informou que as balas cortaram a medula espinhal dele e estilhaçaram suas vértebras.

“O que justifica esses tiros? O que justifica fazer isso na frente dos meus netos?”, disse indignado o pai de Blake, também chamado Jacob, em entrevista ao jornal “Chicago Sun Times”.

LeBron James, conhecido jogador profissional de basquete, uma das estrelas do time Los Angeles Lakers, que já tinha reagido ao assassinato de George Floyd, repudiou a brutalidade da policia e lançou a plataforma Mais que um Voto, iniciativa para promover a participação dos norte-americanos negros na votação de 3 de novembro, “para que as pessoas entendam o que está em jogo”.

“Queremos mudança, como comunidade, realmente queremos mudança e isso começa por novembro”, dia das eleições presidenciais nos Estados Unidos, disse a estrela da Associação Nacional de Basquete (National Basketball Association, em inglês), NBA, um dos esportistas que, desde o início do governo de Donald Trump, tem se oposto à sua política.

Donovan Mitchell, dos Jazz de Utah, afirmou que «por isso não nos sentimos seguros morando nos Estados Unidos… Isto é doentio, é um problema real. Exigimos justiça! É uma loucura com este cara [Trump]”.

Outros jogadores e equipes também se uniram aos protestos. Mike Budenholzer, treinador da equipe Bucks de Milwaukee, emitiu um comunicado exigindo o castigo dos culpados e, em nome de George Floyd, Breonna Taylor, Sylville Smith, Ernest Lacy, Dontre Hamilton, Tony Robinson, Jony Acevedo e outras inumeráveis vítimas da brutalidade policial, uma mudança de atitude do governo em relação ao racismo e à violência contra as comunidades populares. A declaração foi apoiada por todo o elenco dos jogadores.

Outros destacados esportistas mostraram sua indignação contra tanta barbárie, como Alvin Kamara, Michael Thomas e Tyrann Mathieu, integrantes de equipes da NFL (liga de futebol americano).
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