A mais que tardia correção do absurdo judicial foi comemorada no tribunal por familiares e amigos

Um homem do Alabama – um negro -, Alvin Kennard, que foi condenado à prisão perpétua após roubar US$ 50,75 de uma padaria quando tinha 22 anos, vai ser libertado depois de mais de três décadas de cárcere, após revisão do seu caso pelo juiz David Carpenter. Ele havia sido preso em 1983.

A mais que tardia correção do absurdo judicial – tornado legal por leis iníquas e indisfarçavelmente racistas – foi comemorada no tribunal por familiares e amigos. Eles pularam, levantaram os braços e se abraçaram, tomados pela alegria e emoção. A audiência ocorreu no dia 28, em Bessemer, Alabama.

Em entrevista a uma emissora de rádio, a sobrinha Patrícia Jones relatou que “todos nós [estávamos] chorando”. “Temos conversado sobre isso, sobre [ele] ficar livre, há mais de 20 anos”.

Kennard, que tem agora 58 anos, passou quase dois terços de sua vida em uma prisão num dos estados mais notórios pelo racismo nos EUA, sob uma lei que impunha a quem tem tivesse três imputações penais, mesmo que se tratasse de delitos menores – como o roubo de 50 dólares em uma padaria -, pena de prisão perpétua.

Uma sentença desproporcionalmente severa que explica parte do fato de que os EUA têm a maior população carcerária do planeta, com os negros sendo desmedidamente penalizados em relação à sua parcela na composição do país: 12% da população e 36% dos detentos. Kennard compareceu ao tribunal algemado e usando um uniforme listrado de vermelho e branco da prisão.

Sob a “lei dos três delitos” do Alabama, Kennard, que estava em liberdade condicional por três acusações de furto de 1979, foi jogado numa cela pelo resto da vida, prisão perpétua, apesar de não ter cometido qualquer crime hediondo, como assassinato ou violação. Era um roubo de 50 dólares.

Ao juiz, Kennard, que trabalhou anteriormente em carpintaria e construção, disse que queria voltar a ser carpinteiro. “Ele disse que quer conseguir um emprego, quer se sustentar e nós vamos apoiá-lo”, disse a sobrinha.

Após a revisão judicial, a advogada de Kennard, Carla Crowder, que é diretora executiva do Centro de Direito e Justiça do Alabama, afirmou que Kennan está “radiante”.

Ela acrescentou que “o que é extraordinário no Sr. Kennard é que, mesmo quando pensou que ficaria na prisão pelo resto da vida, ele realmente mudou sua vida”. “Ele está radiante com esta oportunidade, mas permaneceu a vida toda próximo de sua família, então ele tem um apoio incrível”, ressaltou.

Existem “centenas de prisioneiros em situações semelhantes ainda presos porque não têm advogados”, afirmou Crowder, que foi nomeada para defender Kennard depois que seu caso foi identificado por um juiz com alto senso de justiça.

“É incrivelmente injusto que centenas de pessoas no Alabama passem a vida sem liberdade condicional por crimes não violentos e não homicídios”, denunciou.