O senado italiano decidiu, na quarta-feira, abrir um processo contra o xenófobo Matteo Salvini, líder do partido Liga e ex-ministro do Interior, acusado por “abuso de poder e sequestro de pessoas”.

Após fracassar na tentativa de uma eleição regional chave e com a imunidade parlamentar suspensa pelo Senado, o ultradireitista enfrenta agora a Justiça da Catânia (Sicília), que pede punição exemplar pelo bloqueio do barco que colocou em risco a vida de mais de uma centena de imigrantes em julho do ano passado.

De acordo com a própria imprensa italiana, as condições da embarcação eram extremamente precárias, com apenas um banheiro para as 116 pessoas a bordo, tendo sido registradas 29 pessoas com várias doenças, entre elas sarna.

Em um discurso transtornado, Salvini insistiu em dizer que mantinha sua decisão irresponsável e que tinha “orgulho” de ter impedido que imigrantes desembarcassem na Itália por quase uma semana.

“Não sei quanto custará, em termos de pessoal e de dinheiro, provar que sou um criminoso, mas não tenho medo e explicarei que defendi meu país”, declarou o ultradireitista. O crime é punível com pena de até 15 anos de prisão.

Para o ex-ministro do Interior, foi justo o fechamento dos portos e o bloqueio de seres humanos que arriscaram – e continuam arriscando – suas vidas na travessia do Mediterrâneo. “Quero olhar o juiz nos olhos e explicar que defender as fronteiras do meu país é para mim um direito, um dever, e não um crime”, repetiu.

Conforme a Constituição italiana, o Parlamento poderia impedir que um ministro fosse processado por sua administração, se seus integrantes considerassem que ele agiu no âmbito de suas funções e no interesse do Estado. Mas, felizmente, o Senado tem outro entendimento e começou a contagem regressiva para que seja feita Justiça.

Depois de apenas um ano no governo, em junho de 2019, Salvini fortaleceu seus poderes ao obter a aprovação de uma lei que o autorizava a limitar e até a impedir o trânsito de embarcações em águas italianas. Passados dois meses, pouco antes de estourar a crise no governo, o ultradireitista bloqueou o navio humanitário “Open Arms” durante 19 dias, com os imigrantes a bordo, em frente à ilha siciliana de Lampedusa.

Descrita como “desesperadora” e “fora de controle”, a situação fez multiplicar as manifestações em defesa dos direitos humanos e ampliou o desgaste de Salvini, que entrou em confronto até mesmo com os socorristas e a Guarda Costeira.

A expectativa é que no próximo dia 27 uma comissão do Senado também decida abrir um julgamento desse caso. E uma vez aprovada a nova autorização, o ex-ministro será julgado por um tribunal especial composto por três magistrados reconhecidos para ser colocado atrás das grades.