Multidão em Atenas apoia banimento da gangue nazista Aurora Dourada | Foto: Yorgos Karahalis/AP

O partido nazista Aurora Dourada foi declarado organização criminosa pelo Tribunal Penal de Atenas, na quarta-feira (07). A decisão foi anunciada após cinco anos de julgamento, por meio de uma ação que envolve assassinato e duas tentativas de homicídio.

A sentença do que é considerado um dos julgamentos mais importantes na história política da Grécia foi recebida com aplausos na sala de audiência, e muito comemorada pelas mais de 15 mil pessoas reunidas na frente do Palácio de Justiça. A juíza Maria Lepenioti, que presidiu o processo, declarou que o fundador e líder do partido, Nikos Michaloliakos, e outros membros importantes são culpados de “comandar uma organização criminosa” que ameaça a democracia no país.

Faixas onde se liam frases como “Eles não são inocentes” ou “O fascismo não é uma opinião, é um crime”, que também eram ditas pelos manifestantes, se espalharam pelo centro da capital grega. Também ecoavam palavras de ordem como “O medo não vencerá” e “Nazistas na cadeia!”.

Ao todo, foram julgadas 68 pessoas, incluindo 18 ex-deputados do partido, entre os quais figuram o euro-deputado independente Yiannis Lagos – que abandonou a agremiação no ano passado – e o ex-porta-voz, Ilias Kassidiaris. Os presentes no interior e nas cercanias do tribunal aplaudiram a leitura da sentença que condena os nazistas.

No coração de muitos a renhida e heroica luta encetada pelos gregos para vencer as forças fascistas e nazistas que ocuparam a Grécia na Segunda Guerra Mundial,

O Amanhecer Dourado foi fundado na década de 1980, originalmente como uma organização neonazista. Em 2012, o grupo – que funcionava ilegalmente – resolveu virar partido e disputar eleições parlamentares durante uma grave crise financeira que afetou o país, e teve até 7% dos votos, elegendo mais de 20 deputados. Em 2015, conseguiu eleger a terceira maior bancada do Parlamento. No entanto, em 2019, os dourados já estavam desgastado pelas barbaridades cometidas e não conseguiram eleger nenhum deputado, em meio à pressão popular gerada pelo julgamento de seus membros.

A decisão judicial desta quarta-feira baseia-se concretamente em quatro casos: o assassinato do rapper e ativista de esquerda Pavlos Fyssas em 2013, ataques a migrantes, atentados contra ativistas de esquerda e pela natureza criminosa do partido.

Um dos réus, Yorgos Roupakias, alto membro da organização, admitiu que estava por trás do assassinato de Fyssas. Ele pode ser sentenciado à prisão perpétua.

Nenhum dos integrantes da cúpula do grupo fascista esteve presente à audiência final do julgamento e, embora o tribunal até a quinta-feira, 8, não tinha informado quais são as penas, podem receber entre 5 e 15 anos de prisão.

A mobilização de milhares de pessoas foi convocada pelo movimento antifascista, sindicatos e partidos de esquerda. “O impacto do veredicto deste julgamento emblemático ultrapassará amplamente as fronteiras da Grécia” e deverá significar que “os crimes de ódio já não serão mais tolerados”, assinalou Niels Muiznieks, diretor da Anistia Internacional na Europa.

Representantes de partidos de todo o espectro político, desde o partido conservador da Nova Democracia ao Partido Comunista da Grécia, estavam na manifestação.

“Pavlos, você ganhou!”, expressou a mãe do rapper, Magda, diante do tribunal, após o veredicto. Chryssa Papadopoulou, advogada da família de Fyssas, afirmou que a decisão seria “um passo chave para a justiça e para o movimento antifascista” na Grécia e na Europa.

O tribunal também tratou de duas tentativas de homicídio nas quais estão implicados vários membros do mal chamado Amanhecer Dourado: um contra pescadores egípcios em 12 de junho de 2012 e o outro contra integrantes da central sindical PAME, em 12 de setembro de 2013.