Jussara Cony: Este não é um momento qualquer da luta de classes
Por Jussara Cony*
“Acalmem os corações. As ruas chamam”.
Tenho 76 anos. A pouco encontrei muitos lutadores e lutadoras, lá no Incra e rumo ao MPF, na luta de nossos guaranis da Ponta do Arado, em Porto Alegre, com expressivas lideranças de nossos ancestrais do RS e do Brasil a conduzir esse importante movimento de unidade e luta!
Milito desde os 16 e aos 18 já fiz parte da Juventude da Legalidade, liderada por Brizola e na qual, o Partido Comunista do Brasil, na figura de João Amazonas, aqui instalou seu Comité Central para contribuir com aquele momento histórico da luta pela legalidade democrática no Brasil. E na qual, a nossa liderança estudantil foi o então jovem Presidente da UNE, Aldo Arantes.
Devem vocês estarem se perguntando, a troco de que eu estou a discorrer sobre esses tempos.
Pois bem, porque entendo que a História é sempre nossa aliada em momentos difíceis para que possamos refletir e tomar,em unidade, o rumo que a luta exige! O mais correto que possamos alcançar!
Sou militante, dirigente municipal e estadual e já tive a honra de ser, por vários mandatos, membro do Comité Central do PCdoB, em épocas de históricas lutas contra a ditadura e no processo de redemocratização do Brasil e enquanto exercia alguns dos mandatos parlamentares do partido.
Porque, na luta ferrenha de gerações que ultrapassaram todas essas etapas, está o grande desafio: o fascismo se instalou na nossa pátria! E me pergunto, desde sempre e agora: O que fazer? Clássico, né!
Há um preso politico neste país!
Há uma mulher e um homem, jovens, talentosos, guerreiros, que cumpriram um papel estratégico no ultimo enfrentamento, por um Projeto de Nação, com as forças mais retrógradas que se aglutinaram, desde o Golpe a um governo eleito, para, insana e despudoradamente, destruir o Brasil, representadas por uma aliança que significa o que de mais espúrio já se juntou.
Os movimentos sociais e populares se encontram ávidos por uma Frente verdadeiramente ampla e unitária para forjar a mais decisiva Resistência!
Faço esse resumo – é um resumo mesmo meus camaradas, companheiros, amigos! Passa um período de praticamente 60 anos por minha mente e meu coração – porque não posso calar. Não me é dado o direito de calar. Tenho um incondicional e lindo amor à luta! E ele transborda para além de mim, para minha família, para meu partido, para os companheiros de outras forças politicas, para as lutas populares onde me perfilei sempre.
O meu Partido, o PCdoB, em toda sua história e tenho vivido uma boa parte dela, nunca deixou de cumprir seu papel de buscar agregar e ampliar e luta pela democracia, pelos direitos do povo, pela soberania nacional, por um Projeto Politico, Econômico e Social que tivesse, como elemento fundante, a qualidade e a dignidade de vida do povo brasileiro. E assim o fez com seus militantes e dirigentes participando, para além das fileiras e instâncias do partido, nos movimentos populares, sociais e nos parlamentos. Isso, no parlamento burguês, sem ilusão de classe! E na institucionalidade , quando assim a conquistamos, sem ilusão de classe!
Porque aos comunistas cabe estar onde luta houver. E, pra isso, cabe não se isolar! Aliás, nosso isolamento se constitui em ânsias, conluios e prerrogativas da direita, do fascismo e, em algumas vezes, até da disputa,no mesmo campo, que se estabelece no tipo e etapa de sociedade que vivemos.
E isso pelo significado de um Partido Comunista para, junto com as forças democráticas, populares, de esquerda e, em determinadas circunstâncias, até de centro, garantir que não haja nenhum retrocesso e sim avanços nas conquistas do povo brasileiro ao longo de séculos.
E pelo significado, também, de ter presente o papel dos movimentos sociais, sindicais, populares, democráticos e da institucionalidade burguesa – perigosa e, para os menos avisados, encantadora!
Hoje, o Judiciário tutela a Nação! O Executivo está tomado de assalto – numa eleição fraudulenta – pelas forças retrógradas e fascistas que lá se instalaram.
E o Legislativo numa correlação de forças absolutamente desfavorável à esquerda e às forças populares que, entendo, devam – na luta dentro e para além do parlamento – se aglutinar para construir a Frente Ampla para a Resistência!
E, nesse momento, brotam de meu raciocínio, alguns questionamentos. A todos nós!
Querem o que mesmo, meus camaradas, companheiros dos partidos aliados históricos? Que não forjemos espaços para o protagonismo político exigidos dos comunistas e de todos nós neste momento?
Querem nosso isolamento no Poder Legislativo – no papel que nele temos o dever de cumprir – num gueto, sem espaços políticos nas estruturas desse poder? Eu estou dizendo, pela experiência de seis mandatos, em etapas diferenciadas de lutas , sem nunca o partido abrir mão de seus princípios e ideologia! E sem nunca se isolar para cumprir o principal papel de um mandato revolucionário: abrir todos os espaços e estruturas politicas e organizativas pra luta do povo.
Para que não tenhamos, nós e nossos aliados históricos, como o PT por exemplo, possibilidade de garantir, no legislativo nacional, centro onde se dá a visibilidade da disputa entre dois projetos absolutamente antagônicos, a garantia da participação concreta do povo, lá dentro, em momentos decisivos para o diálogo e a luta se constituírem em avanços e para,principalmente, fazer o enfrentamento ao governo golpista, entreguista e antidemocrático que se instalou no Planalto?
Que Reforma Politica esperam vinda desse governo, ao qual somos oposição? Certamente, de novo, a clandestinidade, como em 1947, retirando do parlamento nossos representantes. É bom lembrar que a cláusula de barreira estava pronta pra nos tirar os espaços nessa eleição, caso não ocorresse a fusão com os camaradas do PPL.
Querem colocar sobre nós a falácia que participar da eleição para Presidência da Câmara, com a reeleição do atual Presidente (eleição anterior fruto de acordos também) é apoio ao Governo de Bolsonaro-Mourão? Ao PCdoB, partido que cumpriu papeis decisivos na política brasileira em seus quase 100 anos de existência, em grande parte na clandestinidade mas na luta? E no Golpe à Democracia com o fraudulento impeachment a Presidenta Dilma? E no Golpe sobre o Golpe das eleições de 2018?
Meus camaradas, companheiros, amigos, no popular, como dizia meu velho pai comunista: “O furo é bem mais embaixo!”
Acalmem os corações. As ruas chamam. A Frente Ampla tem pressa e o tiro certeiro é nos inimigos do Brasil, de dentro e de fora. Que estão no Executivo e no Judiciário e nos seus prepostos no Legislativo.
Finalizo, com um pensamento meu que se mistura com o pensamento sempre com a coerência do fazer a politica revolucionária de minha querida camarada Jandira Feghali.
Uma coisa é ocupar os espaços para exercer, através de nossa Bancada, a política revolucionária do PCdoB na Câmara dos Deputados e isso pressupõe, hoje, o apoio que damos à reeleição do atual Presidente da Câmara, na garantia de ser preservada nossa histórica ação parlamentar e sua relação com os movimentos populares, sociais e democráticos da sociedade em luta. Outra são, como afirma Jandira Feghali, as posições programáticas do Partido,muito claras e postas,concretamente, na campanha eleitoral de 2018 que serão agudas,fortes, firmes na luta, no Congresso, nas redes e nas ruas.
Para elevar ao mais alto patamar a Unidade do Povo: Bandeira da Esperança e Chave de Nossa Vitória, como afirmou, em outros tempos, João Amazonas, na resistência e no enfrentamento ao governo que se instalou no Brasil, fruto de um processo espúrio e fraudulento que sempre denunciamos! E com a sempre necessária e sábia paciência revolucionária!
Essa é minha contribuição com respeito a todos e todas com os quais tenho andado pelos mais diversos e necessários caminhos por uma pátria livre, democrática e, um dia, socialista.
Não vou, com toda minha sinceridade, ficar pelas redes sociais e disputar quem é mais ou menos revolucionário. Deixo, apenas, um dos meus momentos de reflexão, por dever de oficio e de amor, de uma mulher feminista, comunista, revolucionária.
Porto Alegre, 16 de janeiro de 2019
*Jussara Cony é militante e dirigente municipal de Porto Alegre e estadual do PCdoB-RS.