Um veneno para a economia como um todo, a taxa básica de juros (Selic) a 10,75% ao ano também vai dificultar o acesso dos brasileiros aos financiamentos para o imóvel próprio. Desde janeiro de 2021, a taxa subiu mais de 7 pontos percentuais por decisão desastrosa do Banco Central, com aval de Bolsonaro, de conter a inflação arrochando os consumidores e o setor produtivo. Para a vida dos brasileiros que sonham com a casa própria, isso significa crédito mais caro e escasso.

Uma simulação feita pelo professor da Fundação Getúlio Vargas, Alberto Ajzental, mede esse impacto. Em um cenário de financiamento de um imóvel de R$ 250 mil (com financiamento de 80% do valor, ou seja, de R$ 200 mil do total) em um prazo de 20 anos, a diferença do valor total contratado fica em R$ 64 mil reais comparando a Selic de janeiro de 2021, em 2% ao a.a., com a atual taxa, de 10,75% ao a.a. Mensalmente, isso significa que uma parcela de R$ 2.191 subiria para R$ 2.725, ou seja, R$ 534 a mais todos os meses, que fazem grande diferença nos orçamentos já corroídos das famílias.

Além disso, com a Selic a 2% (já descontada a inflação), a renda familiar exigida normalmente por um banco para conceder esse empréstimo seria de R$ 7.303. Agora, a renda exigida é de R$ 9.083. Esse aumento, nos cálculos do professor, exclui mais de 3 milhões de famílias do sonho da casa própria.

“Nenhuma compra se compara à compra do imóvel por parte de uma família, no que diz respeito ao volume de capital necessário e ao prazo. Ou seja, você precisa de muito dinheiro emprestado por um longo período. Você percebe que uma variação da parcela faz com que a renda da família tenha que ser bem maior”, declarou Ajzental.

De acordo com o economista Ajzental, coordenador do curso de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), cada variação de 2,5 pontos percentuais (p.p.) da Selic gera aumento de 1 p.p. no Custo Efetivo Total (CET), o que afeta a contratação do financiamento imobiliário por aproximadamente 1 milhão de famílias.

Na outra ponta, a oferta também fica menor. Quem investe em imóveis e construções – e também depende de crédito – coloca o pé no freio diante de um cenário que combina recessão, desemprego, inflação elevada e juros altos.

Nos últimos 12 meses, por exemplo, o Índice Nacional de Custo da Construção ao Mercado (INCC-M) acumulou alta de 13,7%, pressionado pela elevação dos juros e pela inflação de materiais para construção.