O presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antônio Corrêa de Lacerda, criticou a decisão do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros (Selic) a 10,75% ao ano.

“A elevação de juros num momento em que há uma economia em estagnação traz o risco de uma recessão. A estagnação da indústria no Brasil já é bastante longa. Não é um problema novo, mas evidentemente que a elevação dos juros neste momento agrava muito a situação da indústria”.

“Uma coisa é a taxa de juros básica, que já está elevada. Mas outra, é que há uma distância enorme entre as taxas no Brasil, que é entre a taxa básica e a do tomador final – o custo do capital de giro que as empresas, inclusive pequenas e médias, utilizam para suas atividades, para fazer a folha de pagamento, quitar dívidas com fornecedores ou comprar matéria-prima. Ou então, o fato delas estarem endividadas”.

“Nós sabemos que as empresas e as famílias se endividaram nos últimos dois anos muito em função da pandemia e da crise econômica. Você elevar a taxa de juros, como tem ocorrido, e sem nenhuma medida para amenizar essa distância entre a taxa básica e a do tomador final, isso sim cria um problema seríssimo para a economia agora, já em 2022”, argumentou Lacerda, em entrevista ao JP News, nesta semana (2).

O professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) também criticou o fato de no Brasil não haver mais uma política industrial.

“Não temos política industrial no Brasil. Se a gente lembrar o que ocorreu no governo Bolsonaro, a equipe Guedes, primeiro foi a extinção do Ministério da Indústria e Comércio, assim como o do Planejamento. Sob o argumento de uma pretensa simplificação e redução de custos, se juntou tudo no Ministério da Economia. Mas veja que esse ministério tem sido insuficiente para operar todas as questões envolvendo a indústria”.

“A indústria brasileira passa por problemas estruturais muito sérios. Mas veja que há uma grande transformação na economia mundial nessa área, bem como na nanotecnologia, o 5G, a chamada indústria 4.0. Então, existe um conjunto de transformações no ponto de vista tecnológico, a transição para a economia digital, assim como para a economia verde. Então, neste momento com tanto problema doméstico e mais uma alteração substancial no cenário internacional, não ter no Poder Executivo órgãos e profissionais que se dediquem a este assunto é uma grande contradição. Porque, se você não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve; e os caminhos que se têm tomado são equivocados”, criticou economista.

Sobre a proposta em estudo do governo de reduzir as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) linearmente em 15% a 30%, Corrêa de Lacerda diz ser mais do mesmo.

“O problema é que nos tornamos reféns de medidas paliativas, que são tomadas nas horas de emergência para socorrer A ou B, mas que fogem do tema central que é a reforma tributária”.

“Temos uma estrutura tributária totalmente distorcida. Tributamos mais a produção e o consumo do que a renda e a riqueza, ao contrário da maioria dos países da OCDE. É preciso enfrentar essa questão e discutir tributação sobre lucros e dividendos, herança, renda e patrimônio de forma geral”, defendeu o presidente do Cofecon.