Bannon, agora condenado, teve participação ativa no golpe tentado por Trump com invasão do Capitólio

O ex-estrategista-chefe de Donald Trump na Casa Branca e marqueteiro da campanha de 2016, Steve Bannon, foi considerado culpado de desacato ao Congresso dos EUA por um júri federal na sexta-feira (22), por ignorar intimações do comitê seleto da Câmara de Deputados que investiga o assalto ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Em outubro, como ocorre no sistema judicial norte-americano, caberá ao juiz Carl J. Nichols decidir a sentença a cumprir – Bannon foi considerado culpado de duas acusações de desacato, com pena mínima de 30 dias de prisão e multa de até US$ 100.000. O magistrado pediu a Bannon que passasse no escritório de seu oficial de condicional no final da tarde.

Registros telefônicos da Casa Branca obtidos por investigadores do Congresso mostraram como, no dia anterior à invasão do Capitólio, Trump ligou duas vezes para seu ex-assessor e agora podcaster de extrema direita. Minutos após o bate-papo por telefone, Bannon foi ao seu podcast War Room: Pandemic e anunciou: “Todo o inferno vai acontecer amanhã. Está tudo convergindo e estamos no ponto de ataque.”

Bastaram três horas de deliberações para o júri considerar Bannon culpado. A equipe de Bannon desistiu do caso na véspera sem chamar nenhuma testemunha de defesa – incluindo o próprio Bannon – para depor e, em vez disso, pediu ao juiz que o absolvesse, de acordo com a Associated Press.

Depois que o comitê da Câmara sobre o 6 de janeiro emitiu suas intimações em novembro do ano passado, Bannon foi citado pelo The Daily Mail como respondendo: “Eu estou com Trump e a Constituição”.

A defesa tentou sabotar o julgamento com alegações espúrias, como o questionamento se foi o próprio presidente do comitê do 6 de Janeiro, o deputado democrata Bennie Thompson, quem realmente escreveu “cada palavra” das intimações a Bannon que assinou, e até se a assinatura era mesmo dele.

A equipe de Bannon também buscou alegar que este jamais teve de aparecer para testemunhar por estar “protegido” pelas regras do “privilégico executivo” do ex-presidente, apesar de já fazer anos que o ex-guru foi demitido da Casa Branca. A própria pretensão de Trump a ter tal “privilégio” depois de encerrado o mandato foi rechaçada por juízes da Suprema Corte, com um deles registrando que “presidentes não são reis”. Nem havia qualquer registro de ordem explícita de Trump a Bannon para que ficasse quieto.

Bannon também nunca entregou nenhum documento solicitado pelo Comitê de 6 de janeiro que não tivesse nada a ver com a Casa Branca, como suas comunicações com golpistas e membros do Congresso que tentaram derrubar a eleição de 2020.

Os prazos da intimação formaram os fatos fundamentais do caso: Bannon nunca entregou documentos até 7 de outubro de 2021 e não testemunhou em 14 de outubro de 2021. Mas foram as próprias postagens de Bannon na plataforma de mídia social pró-Trump, Gettr, que demonstraram sua satisfação em se esquivar da intimação.

No banco das testemunhas, o agente especial do FBI Stephen Hart revisou as duas postagens, nas quais Bannon parecia copiar e colar manchetes sobre sua resistência e ligadas a notícias. Gaston disse aos jurados que as postagens eram “o réu comemorando seu desafio”.

No currículo de Bannon, além da notoriedade ganha como editor do Breitbart.news e suas fake news e no escândalo da Cambridge Analytica, consta também o golpe pra cima dos admiradores de Trump, de US$ 25 milhões, para “construir o muro” do presidente.

Todos os responsáveis pelo ataque ao Capitólio, inclusive na Casa Branca, terão que “responder por seus atos perante a Justiça”, afirmou na oitava audiência pública na quinta-feira (21) do comitê de investigação, seu presidente, o democrata Bennie Thompson. Trump – ele, continuou – “tentou destruir nossas instituições democráticas” e abriu o caminho “para a anarquia e a corrupção”. “Isso terá sérias consequências, caso contrário, temo que nossa democracia não se recupere.”

Como as investigações demonstram, foi o ex-presidente que convocou seus apoiadores a Washington no dia em que os membros do Congresso certificaram a vitória de seu oponente, o democrata Joe Biden, nas eleições presidenciais.

Por volta de meio-dia, em um discurso inflamado na capital dos EUA, Trump pediu aos apoiadores que “lutassem como o inferno” contra a suposta “fraude eleitoral maciça”. Em seguida, voltou para a Casa Branca, enquanto a multidão lançava um ataque ao Congresso dos EUA.

Trump demorou mais de três horas para pedir aos apoiadores para que deixassem o Capitólio. “Eu entendo sua dor”, declarou o então presidente dos Estados Unidos em um vídeo postado no Twitter. “Mas vocês têm que voltar pra casa agora”.

Nenhuma ambiguidade

Durante todo esse tempo, Trump “não pegou o telefone nem uma vez para ordenar que seu governo” ajudasse a polícia, acusou a vice-presidente do comitê 6 de janeiro, a republicana Liz Cheney. “Em nossa audiência esta noite, você viu um presidente americano confrontado com uma escolha dura e inconfundível entre certo e errado. Não havia ambiguidade, nenhuma nuance. Donald Trump fez uma escolha proposital para violar seu juramento de posse”.

“O caso feito contra ele não é feito por seus inimigos políticos. Em vez disso, é uma série de confissões dos próprios indicados de Donald Trump, seus próprios amigos, seus próprios funcionários de campanha, pessoas que trabalharam para ele por anos e sua própria família.”

Para concluir, a filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, chamou “cada americano” a considerar isso: “um presidente que está disposto a fazer as escolhas que Donald Trump fez durante a violência de 6 de janeiro pode ser confiado em qualquer posição de autoridade em nossa grande nação? Novamente?”