O historiador Júlio Vellozo comparou o momento atual com a Primavera dos Povos de 1848, a Comuna de Paris, a Primeira Guerra Mundial e a queda das experiências socialistas do leste europeu após 1989.

A edição 159 da revista Princípios chega às mãos dos leitores com uma nova proposta editorial. Com quase quatro décadas de existência, a revista renova seu formato, perfil e conselho editorial para se inserir no debate nacional qualificada para os desafios da nova ordem política e econômica.

A nova edição foi lançada neste início de setembro (3), com apresentação dos envolvidos na empreitada, sob a mediação da socióloga Ana Prestes, também editora-executiva da revista.

O historiador Júlio Vellozo, secretário-geral da Fundação Maurício Grabois e editor da revista considera um feito, em si, a revista Princípios ter uma trajetória tão constante, influenciando o debate marxista na política, na academia e na ciência.

Ele identifica a grande viragem histórica em que se dá a renovação da revista, a partir de uma grande ruptura, “como foi de 1848, da Primavera dos Povos, que produziu um giro teórico muito importante para a esquerda mundial e o marxismo”. Ele também comparou o momento para a esquerda similar à ruptura que foi a Comuna de Paris, a Primeira Guerra Mundial, com a abertura para uma era de revoltas e revoluções, e da queda das experiências socialistas do leste europeu após 1989.

A nova Princípios se candidata a encarar essa ruptura num período novo no Brasil, com a emergência de um governo como Bolsonaro, mas também para o mundo. “Um período marcado por uma crise econômica gravíssima, um novo êxodo no mundo, uma crise climática com reflexos enormes, uma crise do velho modelo de dominação da democracia liberal, que vai sendo abandonado pelas elites e o declínio relativo dos EUA, que vai sendo ultrapassado de forma dolorosa, tortuosa e complexa pela China”, pontua Vellozo.

Segundo ele, essas mudanças pedem para fazermos um esforço teórico grande diante do novo. “O que já sabíamos é insuficiente para interpretar esse novo tempo, por isso a Princípios se renova para continuar essa revista forte, pujante e ligada nos acontecimentos teóricos no mundo”, diz ele.

Ele considera que a revista pode cumprir o papel do soldado batedor, abrindo caminhos, especulando, testando hipóteses, para elaborar a teoria da revolução do nosso tempo.

Olival Freire Jr: Princípios precisa ser rastreável e repercutida
Como cientista, Olival ressaltou a importância da presença digital e acadêmica da revista, de estar na plataforma adequada e ser repercutida pela qualidade e impacto de seus artigos.

 

O historiador da ciência da UFBA, Olival Freire Jr, que foi editor entre 1993 e 2002, ressaltou a juventude dos editores que aceitaram aceitar o desafio da edição da revista. “É uma evidência de renovação da revista muito importante”, disse ele, fazendo referência à trajetória de Fábio Palácio como intelectual.

Ele comparou o momento da criação da revista, com o atual, em que a luta de esquerda era de resistência contra a ditadura. “A criação da Princípios, como do jornal Tribuna da Luta Operária, como a decisão de dirigentes de assumir a legenda do Partido Comunista do Brasil, que não era trivial nem automática devido à corrente interna contrária a isso, era uma aposta na ascensão do movimento democrático”, afirmou Olival, enquanto vivemos momentos de contenção, retrocesso e conservadorismo.

Ele apontou o desafio de tornar a revista clara e didática nos argumentos que oferecerá para a militância, nesse momento em que a esquerda é oposição ao governo. Como cientista, Olival ressaltou a importância da presença digital e acadêmica da revista. “Quem não tiver rastreabilidade no mundo digital não vai aparecer”, declarou, apontando a importância de estar na plataforma adequada e ser repercutida pela qualidade e impacto de seus artigos.

Renato Rabelo: O desafio da ampliação do impacto de Princípios
Presidente da Fundação Maurício Grabois diz que a revista assume o desafio teórico político de maiores horizontes e instrumentos modernos de comunicação. O esforço é estar mais sintonizada com o tempo histórico e estar a altura da missão revolucionária do alcance de uma nova sociedade socialista.

 

Renato Rabelo destacou o contexto de surgimento da revista em 1981, “num período marcado pelo começo do fim do regime militar, no contexto da irradiação ampla da luta pela liberdade no pós-ditadura”. Ressaltou a importância do comando de João Amazonas naquele momento de reestruturação das forças políticas e do partido dos comunistas. “Era um momento delicado em que destacados quadros e dirigentes foram assassinados pela ditadura militar”.

Ele homenageou o comando da revista neste período, desde João Amazonas, passando por José Reinaldo de Carvalho, Rogério Lustosa, Olival Freire Jr, Pedro de Oliveira, José Carlos Ruy e Adalberto Monteiro, até 2018. Citou o “rol precioso” de intelectuais, pesquisadores, cientistas, jornalistas, artistas, lideranças políticas e sociais agregados voluntariamente pela revista.

Hoje, diz ele, acumula-se quase dez mil páginas de um rico acervo de formulação teórica marxista e progressista e muitos artigos com diagnósticos, tendências e caminhos a seguir.

Ele citou a base do conteúdo da revista nesse período. No início foi dado destaque a questões de princípios, da base teórica, e da identidade no novo contexto de redemocratização. Ele sublinhou o debate de João Amazonas sobre a crise teórica do socialismo e o caminho soviético, assim como as questões relativas à história do Brasil, suas potencialidades e impasses. A revista ainda teve papel importante no debate sobre a Constituinte de 1988, assim como no debate sobre o novo projeto de desenvolvimento para o Brasil e o enfrentamento dos rumos nefastos que o país tomava sob o neoliberalismo.

“Agora, partindo dessa significativa herança, e seguindo esse justo lema de renovação, no início desse século em que vivemos tempo de aporia, impasses e entroncamentos, o desafio teórico político se torna exigente de maiores horizontes e instrumentos modernos de comunicação”, defendeu Renato. Segundo o dirigente, a Fundação Maurício Grabois vem desenvolvendo esforços em dois planos, estar mais sintonizada com o tempo histórico e estar a altura da missão revolucionária do alcance de uma nova sociedade socialista.

Renato mostrou que a revista vinha cumprindo um papel híbrido de revista de fôlego com jornal conjuntural, conforme o jornal A Classe Operária deixou de circular. Ele observa que a imprensa digital, hoje, é um espaço enorme para o debate conjuntural, em tempo real, que torna uma revista quadrimestral inadequada para isso.

Assim, a revista muda de projeto visual, passa a ser imprensa em formato livro, com periodicidade quadrimestral e passa a abordar temas de fundo, ensaios, estudos e pesquisas, tornando-se um periódico científico. A revista que já estava qualificada no novo Qualis na Capes como A4, fará adequações para estar presente em base de dados nacionais e internacionais de periódicos teóricos, possibilitando a ampliação de impacto da revista.

“Portanto, são novas tarefas, novos desafios, que nos colocam numa posição mais avantajada na determinante frente da luta de ideias. Bravo! Viva!”, saudou ele.

Adalberto Monteiro: A nova florada de Princípios

Para o poeta e jornalista, a longevidade da revista, com seus quase 40 anos, vem do fato da revista manter fidelidade aos ideias do seu fundador João Amazonas.

 

O jornalista e poeta Adalberto Monteiro, editor entre 2006 e 2018, comparou a revista a uma árvore forte, sadia e com abundância de seiva com uma florada nova para a nova etapa. Para ele, a longevidade da revista vem pelo fato da revista manter fidelidade aos ideias do seu fundador João Amazonas. “Segundo, que a Princípios é uma obra coletiva de vários editores e comissões editoriais que a mantiveram viva”, explicou ele, citando os nomes que trabalharam na revista durante sua passagem pela editoria.

Ele lembrou que a revista enfrentou no início do Governo Lula o tema dos comunistas em governos de coalizão, em que são minoria, e como empreender uma transição do neoliberalismo para um projeto de desenvolvimento. Com a aprovação de um novo programa do Partido em 2009, que traça um caminho da revolução no Brasil a partir de um projeto nacional de desenvolvimento. “Um genuíno produto do marxismo aplicado à realidade brasileira”, sintetizou.

A crise mundial do capitalismo deflagrada a partir de 2007, e o conceito de nova luta pelo socialismo também foram tratados na revista, assim como a memória e a história da luta proletária no Brasil. Ele concluiu apostando sua confiança na capacidade do conselho editorial de, a partir do legado da revista, “continuar a se entrelaçar ainda mais ao pensamento avançado, estabelecendo um intercambio e diálogo ainda mais intenso com a universidade e a intelectualidade brasileira”.

Rosanita Campos: A contribuição ao nacional-desenvolvimentismo

A jornalista afirma que a revista pode assumir a tarefa de fazer o resgate do pensamento nacional-desenvolvimentista e dos principais teóricos dessa corrente, decisiva desde a década de 1930

 

A jornalista Rosanita Campos, representando a Cátedra Claudio Campos da Fundação Maurício Grabois, considera importante e oportuno ter o foco da Princípios na academia, no momento em que “a ciência é questionada, a cultura desprezada e a educação destruída”.

“Nossa tarefa é fazer o resgate do pensamento nacional-desenvolvimentista e dos principais teóricos dessa corrente, decisiva desde a década de 1930”, disse ela sobre a Cátedra Claudio Campos, que deve lançar livro sobre o assunto, assim como estimular debates.

Para ela, só um partido prestes a completar cem anos tem condições de apresentar uma publicações, uma Fundação como a Maurício Grabois e dirigentes como João Amazonas que condensam essa história tão bem.

Marcos Dantas: Revista Princípios para a nova etapa do capital

O professor da UFRJ define a nova etapa capitalista pela acumulação flexível, com a precarização, terceirização, alargamento e distanciamento dos espaços-tempo de trabalho e expansão das cadeias produtivas, com o capital investindo em tecnologia para adaptar sua lógica produtiva à mesma acumulação flexível.

 

O professor de Comunicação da UFRJ, Marcos Dantas, representa os autores da edição 159, considera este número de Princípios particularmente expressivo, porque capta, em função da realidade que estamos vendo nas ruas, a mudança dos processos de trabalho, por expressões como uberização, precarização, gig economy, que caracterizam novas relações de trabalho que vêm sendo implementadas dentro da lógica capitalista de acumulação há uns trintas anos.

“Agora explodiram e são visíveis, a Covid-19 nos convidou a ver o que esta acontecendo com essa moçada que fica se sacrificando doze horas por dia para levar comida, bens de consumo para as casas das pessoas que estão resguardadas por causa da pandemia. Uma parte da classe trabalhadora teve que continuar na rua atendendo a demanda do restante da sociedade”, afirmou.

Esse é um processo que caracteriza uma nova etapa do capitalismo, na opinião dele. “O capital é muito criativo, se renova, vive em crise e busca sempre novas soluções. O tipo de trabalhador que Marx investigou no século XIX já não era o mesmo trabalhador fordista que conhecemos no século XX, a massa concentrada nas fábricas e escritórios”, observou.

Dantas pontua que, com a acumulação flexível, começa esse processo de precarização, terceirização, alargamento e distanciamento dos espaços-tempo de trabalho e as cadeias produtivas começam a se expandir. “E o capital começa a investir em tecnologia que permita adaptar sua lógica produtiva à mesma lógica flexível de acumulação”.

Esses investimentos tecnológicos que o capital vem fazendo, conforme explica ele, reorganizam o sistema de trabalho. “Uma reorganização na divisão internacional do trabalho profundamente punitiva e prejudicial à periferia capitalista. Mudaram as relações de dependência, o pacto colonial é outro”, analisou. No âmbito concreto do mundo do trabalho, mudam as relações de solidariedade com a precarização e individualização das relações de trabalho, provocando competitividade entre explorados.

“Precisamos discutir, porque há um privilégio para um núcleo de trabalho criativo, científico e tecnológico, e uma massa sendo massacrada, aviltada e forçada a emigrar achando que vai encontrar condições melhores num outra situação precária qualquer”, defendeu.

Ele considera que uma revista como Princípios, que se propõe a “acolher, a qualificar, a intervir” no próprio debate acadêmico onde se faz esse estudos, para tentar construir ou reconstruir marcos teóricos que permitam entender e ter uma prática política transformadora e superar a lógica do capital, “é extremamente saudável e nos dá otimismo e estímulo para o trabalho intelectual que fazemos”.

Renildo de Souza: Para entender o “fim do trabalhador assalariado”

O economista critica como intelectuais de todo o mundo minimizam a importância da relação capital-trabalho, dando adeus ao proletariado, já que, supostamente, só existirão “empreendedores”.

 

O economista da UFBA, Renildo Souza, que coordenou o dossiê Trabalho e Proletariado do século XXI na edição 159, disse que a revista chega num momento em que a luta de ideias ganhou muita importância decisiva na vida política no país e no mundo.

Para ele, é sintomático que esse número 159, que marca essa mudança de qualidade na revista, venha com um dossiê sobre o trabalho. “O trabalho é um tema central em relação a sociedade, a economia e a política, embora certos entendimentos subestimem e não percebam a vigência da centralidade do trabalho nos dias de hoje”.

Algumas questões fundamentais desse dossiê, destaca Souza, são as principais mudanças no mundo do trabalho desde 1980: como afetaram a estruturação de classes, como afetaram as lutas dos trabalhadores e como se dá essa reconfiguração do proletariado no século XXI. “Tratamos criticamente dessa nova onda de adeus ao trabalho, à luz dos Grundrisse, da financeirização, da questão de gênero, da novidade do trabalho por plataformização, e da reorganização do trabalho dos professores. É um bom começo para essa nova etapa”, declarou.

Diz ainda que, por um lado, se associa o suposto fim do trabalho ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, por outro, se percebe uma exacerbação de novas formas de exploração da classe trabalhadora. Ele observa que, desde os 1980, fala-se do fim do proletariado a partir da compreensão de que entrávamos numa sociedade pós-industrial. “Agora, esse debate se radicalizou. Estão difundindo teses sobre uma suposta sociedade do pós-emprego, do pós-trabalho assalariado. Não é mais o fim apenas do trabalho fabril, mas do próprio trabalho assalariado, do desaparecimento da figura do empregado e do empregador e da relação capital-trabalho”, avaliou.

Flávia Calé: Princípios para uma geração de escritores e leitores

A presidente da ANPG conta que o Brasil forma anualmente 60 mil mestres e 22 mil doutores no Brasil, o que significa um aumento expressivo de produtores e leitores de conteúdo acadêmico e científico, como o produzido pela revista Princípios.

 

A historiadora Flávia Calé, presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), ressaltou a importância da Princípios se renovar para uma realidade em que a autonomia sobre a produção do conhecimento científico se torna imperativa, uma questão de soberania.

Ela relatou que a pós-graduação se expande pelo território nacional, ampliando o escopo de temas nacionais, na medida em que a região Sudeste dominou por muito tempo a produção científica.

“Passamos a formar anualmente 60 mil mestres e 22 mil doutores no Brasil, o que significa um aumento expressivo de produtores e leitores de conteúdo acadêmico e científico”. Ela ressalta a importância da revista Princípios se abrir para o diálogo com todo esse público da universidade ávido por leitura e vontade de publicar.

“Eu quero destacar uma característica da Princípios que é necessária para o avanço do conhecimento de fronteira que é a interdisciplinaridade. Vivemos sob o signo da compartimentalização do conhecimento que leva a uma visão fragmentada dos grandes problemas teóricos e práticos da sociedade”, afirmou Flávia, apontando a carência de revistas que trazem no seu núcleo essa interdisciplinaridade, um potencial a mais para o sucesso da revista, pela amplitude de público que pode agregar.

No momento em que o conhecimento e a ciência são atacados, ela considera fundamental o diálogo com a sociedade para o impacto do papel da ciência para o desenvolvimento da nação. Para ela, o pensamento progressista, transformador e marxista tem um espaço importante no debate da universidade com capacidade de dar resposta aos desafios contemporâneos.

Luciana Santos: Princípios e os 39 anos de intensa luta de ideias

A presidenta do PCdoB ressaltou que a revista é avessa ao dogmatismo e ao primarismo, que é preciso serem enfrentados na sua base teórica.

Leia abaixo o que disse a presidenta do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, durante o lançamento da nova edição de Princípios:

Boa noite ao Júlio Vellozo que divide com tantos camaradas o editorial da Princípios. É uma tropa de choque dos quadros mais importantes que lidam com uma das frentes mais significativas e estruturadoras do nosso Partido, que é o debate de ideias e a elaboração teórica

Estamos fazendo o relançamento de nosso principal veículo de expressão de debate de ideias e de reunir esse conjunto de intelectuais que procuram compreender o Brasil e os fenômenos sociais, políticos e econômicos contemporâneos.

Em nosso país, são poucos os jornais e as revistas que duram mais que uma década. No âmbito das forças políticas, menos ainda. É por isto que muito nos orgulha estarmos hoje nesta atividade da Revista Princípios. São 39 anos na trincheira da batalha de ideias, refletindo sobre marxismo e os dilemas contemporâneos do Brasil.

Criada, em 1981, sob a regência do João Amazonas, quando o Brasil ganhava ares de liberdade, tem registrada em suas páginas quatro décadas de debate teórico e político sobre o Brasil e o socialismo.

Nascida como revista teórica, política e de informações, a Revista Princípios sempre se orientou na busca por elucidar problemas, aprofundar conhecimento das causas e efeitos dos males que afetam a vida do povo e do país. Uma revista avessa ao dogmatismo e ao primarismo, que é preciso serem enfrentados na sua base teórica.

Para Amazonas, a teoria e a luta de ideias são indispensáveis ao movimento revolucionário. A Princípios cumpre este papel. Uma revista que busca promover o conhecimento, estudo e análise dos clássicos do marxismo, como meio para seu maior domínio e desenvolvimento. Com ideias, propostas e perspectiva revolucionária, tem ajudado o movimento democrático, progressista e popular a enfrentar e vencer grandes obstáculos.

Conhece-se o relato que, no momento de debate sobre a criação da revista, que era necessário um veículo que daria fundamento às ideias progressistas da nossa sociedade. Quais são os princípios para aglutinarmos as forças democráticas e revolucionárias em torno da luta pela transformação do Brasil? Daí, que surge por sugestão do sempre inquieto Bernardo Joffily, o nome de Princípios.

Ao longo destas quase quatro décadas, a Revista Princípios tornou-se um grande catalizador de ideias avançadas da sociedade brasileira e dos intérpretes do marxismo leninismo. Por suas páginas passaram reflexões de teóricos de vários campos, todos comprometidos com uma reflexão séria e crítica sobre os desafios de nosso tempo.

Nesta caminhada, a revista teve destacado papel de debate teórico no período de crise do socialismo, que foi um ponto de inflexão da nossa perspectiva. Contribuiu para reafirmar, portanto, o socialismo em bases novas.

Suas páginas também são fonte de análise de dilemas teóricos e políticos como o neoliberalismo e as particularidades do capitalismo contemporâneo, como também dos impactos do processo de reconfiguração do sistema internacional a partir do ambiente de maior multipolaridade.

Dialeticamente, a revista sempre conseguiu manter uma coerência editorial com a publicação de trabalhos de distintos pontos de vista, estimulando a boa polêmica e a problematização dos problemas do Brasil. Isto faz da revista Princípios uma importante fonte de reflexão dos problemas políticos e teóricos do nosso tempo, com base no marxismo e em outras correntes do pensamento progressista, contribuindo com a formação política de nossa gente.

O melhor da intelectualidade progressista, cientistas, pesquisadores, intelectuais orgânicos do Brasil e do mundo circularam nas páginas da nossa revista.

Hoje, os desafios não são menores do que os apresentados nos idos de 1981. As ameaças do obscurantismo do autoritarismo e do fascismo ressurgem com força em nossa sociedade. O trabalho e as próprias formas de produção e organização passam por transformações. São tempos em que a busca pela alternativa ganha centralidade inigualável.

O mundo vive um impasse. Este impasse tem levado ao surgimento destas forças obscurantistas. São necessárias luzes para atravessarmos este período de trevas.

Fazer uma revista, não é algo simples. Vencer inexperiência, ausência de recursos, eram dos desafios mais simples, diante dos problemas teóricos e políticos que estavam postos para serem enfrentados.

Ao realizarmos esta renovação de seu formato, não poderíamos deixar de homenagear aos que dedicaram anos de suas vidas a ela. João Amazonas, Rogerio Lustosa, Edvar Bonotto in memória. E aos nossos Bernardo Joffylli, Ronald Freitas, José Reinaldo, José Carlos Ruy, Olival Freire, Pedro Oliveira, Adalberto Monteiro, e uma nova geração liderada por Júlio Velozzo.

Desvendar caminhos, abrir veredas é o desafio da Revista Princípios – uma visão multilateral da realidade brasileira, sob a bússola de desbravar novos caminhos para o Brasil como nação próspera, soberana e socialista.

Diálogo de Princípios com política, agrega, agora, o mundo científico

Editor da revista, Fábio Palácio, sinaliza que Princípios muda para se qualificar e se tornar uma revista de elevado mérito científico, num mundo em que a hegemonia civil e a luta das ideias não deve ser subestimada.

Fábio Palácio, editor da revista Princípios

A edição 159 da revista Princípios chega às mãos dos leitores com uma nova proposta editorial. Com quase quatro décadas de existência, a revista renova seu formato, perfil e conselho editorial para se inserir no debate nacional qualificada para os desafios da nova ordem política e econômica.

Foi com este tom que a nova edição foi lançada neste início de setembro (3), com apresentação dos envolvidos na empreitada, sob a mediação da socióloga Ana Prestes, também editora-executiva da revista.

Quatro contribuições

O jornalista Fábio Palácio de Azevedo, professor da UFMA, destacou como editor da revista sua trajetória de quatro décadas, nas quais deu quatro valiosas contribuições ao pensamento marxista brasileiro.

Ele mencionou a luta pela redemocratização, nos seus anos iniciais, formulando propostas para a Constituinte. A crise do socialismo no final dos anos 1980, “quando muitos rasgavam as vestes comunistas abandonando o marxismo e renegando a perspectiva do socialismo”. “Princípios reconheceu a crise do marxismo, mas apontou como alternativa não renegar, mas renovar a teoria como forma de retomar e avançar a perspectiva socialista”, disse.

Para Palácio, uma contribuição muito especial foi o combate ao neoliberalismo em toda a década de 1990. “Falo com toda convicção, que a Princípios foi a publicação que fundamentou teórica e politicamente o combate ao neoliberalismo. Foi a primeira publicação que definiu os contornos e significados do neoliberalismo do Brasil, num período que ninguém no país, mesmo na academia, menciona o neoliberalismo. Princípios foi pioneira em fundamentar o que era o projeto e os caminhos de combate a esse projeto”, garantiu.

Outra grande contribuição foi a fundamentação de um novo projeto nacional de desenvolvimento como o caminho concreto para o socialismo. Algo que se deu tanto do ponto de vista teórico, quanto por propostas concretas de políticas públicas, muitas delas implementadas no ciclo de governos progressistas que vigorou no país entre 2003 e 2016.

“Todas essas inestimáveis contribuições só foram possíveis graças ao trabalho das gerações que nos antecederam no trabalho editorial da Princípios”, celebrou.

Palácio homenageou os leitores da revista, “razão última do trabalho”, na pessoa de José Carlos Cardoso, o Tisiu, falecido no dia do lançamento da revista. “Um operário ilustrado, que sempre confessou ser um leitor voraz da revista”, descreveu.

Revista nível A4 e novas práticas

Palácio admitiu que a nova equipe assume a revista “a partir de um patamar elevado”. De acordo com ele, Princípios muda para se qualificar, como revista científica, para os desafios presentes, para buscar dar respostas a esse novo momento que se coloca hoje.

“Tempo de poder político cada vez mais organizado sob a fórmula de hegemonia civil, que a luta de ideias se torna cada vez mais complexa. Recuar diante dessa luta, subestimando essa dimensão da luta de ideias, não nos ajuda em nada no combate”, alerta ele.

Segundo o especialista em comunicação, a revista muda para se devotar às questões de fundo da teoria, a política e da cultura. “A gente vai abordar, sob uma ótica cada vez mais aprofundada, as grandes questões da política, da filosofia, das ciências duras e moles, da educação, da história, da cultura popular e erudita, da literatura e das artes”, pontuou.

Por isso, uma coisa que preocupa a nova equipe, nesse novo projeto, é torná-la uma revista de elevado mérito científico. Palácio ressaltou que Princípios já é, hoje, uma revista muito bem avaliada pelo estado brasileiro, por meio da condução de uma agência prestigiada como a Capes.

Nessa pré-classificação, a revista já ocupa um nível A4, que é considerado elevado. Significa que, entre oito níveis, ela ocupa o quarto.

“Um dos pontos que a gente não se dá muito conta é que princípios é uma revista muito citada”, afirmou. Em sua opinião, isso se dá, pelo fato dela possuir um rico acervo, de muito valor e atualidade. “Textos de décadas atrás, preservam enorme atualidade no tempo presente”, declarou o editor.

Para aumentar ainda mais esse nível da revista, serão implementadas algumas práticas. O formato de Journal, publicada a cada quatro meses, com dossiês com ampla divulgação prévia, através de editais, textos revisados por pessoas das mesmas áreas, a chamada “pair review”, com avaliação cega são algumas dessas práticas que garantirão o alto nível científico da revista.

A revista será toda indexada, passa a ter registro Doi, registro eletrônico que permite a rápida recuperação de publicações e citações. E, aos poucos, ela será incluída nos indexadores, repositórios eletrônicos que armazenam grandes acervos e bancos de dados de revista, como Google Scholar, Diadorim, Latindex, Scielo, onde professores, pesquisadores e estudantes procuram cotidianamente fontes teóricas de suas pesquisas.

“Sem deixar de dialogar com o mundo político, Princípios vai passar a dialogar com a comunidade científica, acadêmica e cultural. Acreditamos que essas mudanças vão enriquecer a cultura geral e a cultura marxista não só da esquerda, mas de todo o movimento progressista do país”, afirmou.

Ele ainda destacou, em particular, as novas gerações que a revista terá melhores condições de alcançar, por sua vinculação às novas tecnologias e meios virtuais.

Para acessar a versão online da Revista, acesse o link aqui 

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Leia aqui o editorial da nova edição

Assista ao lançamento da revista abaixo:

(por Cezar Xavier)