O Dia Nacional da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres é celebrado no dia 6 de dezembro, desde 2007. A origem do dia de mobilização é emblemática. Remete a uma chacina de estudantes no Canadá, em 1989. Um jovem universitário entrou armado em sala de aula e obrigou os homens a saírem para que ele pudesse assassinar as mulheres daquela turma, e na sequência, se suicidou. A explicação para esse ato veio em uma carta, deixada pelo estudante: ele não admitia que mulheres frequentassem o curso de Engenharia, uma área do conhecimento essencialmente masculina.

Essas datas contribuem para dar visibilidade a uma ação que deve ser cotidiana: o combate ao machismo, à masculinidade tóxica e a uma cultura de violência com base no patriarcado, que considera a mulher e o seu corpo propriedades do homem e, em decorrência, a ele deve submissão. Na Bahia, somente em dez dias, aconteceram quatro feminicídios, cometidos por pessoas que tiveram relações intimas com as mulheres assassinadas. A maioria, feminicídios de mulheres negras. A violência doméstica e familiar contra as mulheres ocorre no espaço em que elas deveriam se sentir mais seguras: o ambiente do lar. E invade o espaço público, aos olhos de todo o mundo.

Julieta Palmeira*

Investigar e punir os assassinos, fortalecer em todo o estado a Rede de Atenção às Mulheres em Situação de Violência são medidas imprescindíveis. O Estado deve dar proteção efetiva às mulheres, principalmente as que são sobreviventes, termo usado por algumas organizações e instituições para evitar o estigma da palavra vítima. Quando uma mulher morre por feminicídio significa que falhamos enquanto sociedade. Precisamos parar de considerar que são todos psicopatas os que praticam esse crime hediondo. A cultura machista, misógina, assentada na desigualdade social, no racismo promove a violência contra as mulheres, naturalizando essa violência. Mas não podemos justificar o feminicídio e outros tipos de violência contra as mulheres pensando nessa cultura, que coloca a mulher em situação de subalternidade.

Os homens precisam se despertar para uma nova masculinidade, em que possam ser sensíveis, afetivos, sem medo. Uma nova masculinidade que não considere a agressividade como uma virtude masculina. Essa nova masculinidade timidamente começa a ser gestada e precisa ganhar corpo. Uma masculinidade nova que valorize o respeito às mulheres, o direito à autonomia econômica e social. As mulheres precisam estar em postos de decisão na sociedade, na política, ao lado desses novos homens. Precisamos de todos nessa luta suprapartidária a favor de uma vida plena.