Você sabia que um brasileiro com 15 anos de idade já pode tirar o título de eleitor, desde que complete 16 até 2 de outubro – data do primeiro turno das eleições gerais? No Brasil, o voto aos 16 e aos 17 anos é facultativo. Mas, para exercer esse direito, é precisam se alistar na Justiça Eleitoral até esta quarta-feira (4/5).

Recente enquete feita pela Unicef e pela Viração Educomunicação junto a mais de 3 mil adolescentes de 15 a 17 anos, de todas as regiões do País, mostra que o interesse pela participação na política está em alta. De acordo com a consulta, divulgada no último dia 10 de abril, 90% dos jovens dizem que “o voto tem poder para transformar a realidade”. Entre esses potenciais eleitores, 64% afirmam que vão votar em 2022, 21% não sabem e somente 15% dizem que não votarão.

Foi graças à luta das entidades estudantis e juvenis que a Constituição de 1988 alterou a idade mínima para votar – de 18 para 16 anos. No dia em que a Carta Magna foi aprovada, 500 jovens, liderados pela Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), ocuparam o Congresso Nacional. Ao incorporar, de imediato, 6 milhões de jovens ao eleitorado, a “Constituição Cidadã” ajudou a consolidar o processo de redemocratização do País, após mais de duas décadas de ditadura militar (1964-1985).

Hoje, 34 anos depois, 6 milhões de jovens podem votar nas eleições 2022, e o Brasil segue na vanguarda: apenas em sete países o voto é garantido a partir dos 16 anos. Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indicam que a participação de eleitores de 16 e 17 anos vinha caindo de pleito a pleito desde 2014 – um provável reflexo das tentativas de criminalização da política em geral e da esquerda em particular.

“Tirem o título de eleitor. E votem”

Para inverter essa tendência em 2022, lideranças e entidades saíram a campo. Foi o caso da Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas) de São Paulo, que lançou, em 11 de agosto passado, Dia do Estudante, a Campanha de Alistamento Eleitoral dos Alunos do Ensino Médio. “No Brasil, há seis milhões de jovens com 16 e 17 anos. Porém, apenas um milhão possuem o título de eleitor”, apontava a Umes. “Na cidade de São Paulo, o número de jovens com 16 e 17 anos ultrapassa os 300 mil. Mas só 17,5 mil têm título de eleitor.”

A Campanha de Alistamento Eleitoral percorreu escolas para dialogar com os estudantes e incentivá-los a votarem. “Está na hora de mudarmos radicalmente essa situação. Para que nosso repúdio a Bolsonaro se manifeste nas urnas, é preciso que todos que têm direito tirem o título de eleitor. E votem”, conclamava a entidade.

Também em 2021, a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) anunciou a campanha Se Liga 16, com o objetivo de “conversar com os estudantes sobre a necessidade de ser o agente de seu próprio futuro”. A iniciativa envolveu ações nas escolas – sobretudo nos grêmios estudantis – e nas redes. “A ideia é disponibilizar as informações, principalmente que hoje se pode tirar o título de eleitor online.”

“Superpoderes”

Com o título na mão, esse segmento do eleitorado – além de fortalecer a democracia – pode se tornar um trunfo para candidaturas do campo democrático e progressista. Conforme pesquisas de diversos institutos, é entre os eleitores de 16 a 24 anos que a gestão Jair Bolsonaro alcança sua maior rejeição.

O último levantamento da BTG/FSB, divulgado em 25 de abril, mostra que 56% dos eleitores nessa faixa etária consideram o governo “ruim” ou “péssimo”. Na faixa etária seguinte, do eleitorado entre 25 e 40 anos, a desaprovação a Bolsonaro cai para 45%. Em termos de intenções de voto, o presidente tem 32% do eleitorado geral – mas apenas 25% dos eleitores entre 16 e 24 anos.

Ex-presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes) e da UJS (União da Juventude Socialista), Carina Vitral é uma das organizadoras da campanha Tire o Título! (www.tireotitulo.com.br). Fruto de uma parceria com a UBM São Paulo e a Umes, o projeto orienta jovens em busca do primeiro voto e até brinca com a missão de derrubar o “mito” Jair Bolsonaro da Presidência: “Jovem: Você Tem Superpoderes pra Mudar o Brasil”.

“É uma campanha nas redes e nas ruas. Foi impressionante sentir que a juventude está atenta aos desafios e rejeita efetivamente o Bolsonaro”, diz Carina. Segundo ela, estes últimos dias de prazo para jovens brasileiros tirarem o título e votarem nas eleições de outubro serão decisivas. “Precisamos seguir mobilizados para ampliar essa campanha. Esta é a hora de lembrar os jovens da família, organizar palestras e mutirões nas escolas, efetivar ainda mais títulos.”

A mobilização tem surtido efeito. Segundo o TSE, o alistamento eleitoral de adolescentes de 15 a 17 anos cresceu 45,63% em um único mês – de 199.667 novos títulos em fevereiro para 290.783 em março. “Chama a atenção o aumento da procura pelo documento entre aqueles com apenas 15 anos”, diz o TSE. “Em março, foram emitidos 23.185 novos títulos para esses adolescentes, contra 12.297 documentos feitos em fevereiro, um incremento de 88,5%”.

Nesta reta final, a prioridade é levar informação de qualidade e credibilidade aos futuros eleitores. A enquete da Unicef/Viração Educomunicação mostrou que diversos adolescentes de 15, 16 e 17 anos não sabiam que poderiam votar. Além disso, 64% afirmaram querer saber como tirar o título de eleitor online. As iniciativas das entidades estudantis e das jovens lideranças políticas vieram em ótima hora.