Em entrevista ao jornal L’Humanité, do Partido Comunista Francês, o Secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB José Reinaldo Carvalho falou sobre a situação política do Brasil, a confirmação pelo TRF4 da condenação de Lula e a luta das forças progressistas contra a agenda golpista implementada por Temer. Reinaldo destacou que “a solidariedade internacional será um elemento importante de nossa resistência e de nossa luta”.

Humanité: Como a população brasileira reagiu à condenação de Lula? Está prevista a realização de manifestações?
José Reinaldo Carvalho: Houve grandes manifestações, principalmente em Porto Alegre (70.000 manifestantes) e em São Paulo (50.000). Nas principais cidades do país foram realizados diferentes tipos de manifestações contra a condenação injusta de Lula, exigindo sua liberdade e a garantia de seu direito a ser candidato nas próximas eleições presidenciais, cujo primeiro turno terá lugar em 7 de outubro. As manifestações foram organizadas pela Frente Brasil Popular, integrada pelo PT, o PCdoB e cerca de uma centena de organizações populares. Nas manifestações de Porto Alegre (23 de janeiro) e de São Paulo (24 de janeiro), Lula esteve presente e foi o principal orador. Ele demonstrou lucidez, firmeza, serenidade. Disse que não fugirá à luta e anunciou que em qualquer circunstância será candidato à Presidência da República. No dia seguinte ao da sua condenação, numa reunião da Comissão Executiva ampliada do seu partido, o PT, decidiu-se lançar a candidatura de Lula à Presidência da República.

Trata-se de uma condenação política com o objetivo de fortalecer a direita?
Não há dúvida de que se trata de uma condenação política, pois o tribunal que o condenou não conseguiu demonstrar nem provar que Lula cometeu um crime. A opinião consensual de toda a esquerda brasileira é que a condenação de Lula a uma pena de prisão de 12 anos e um mês e a decisão de impedir sua candidatura à Presidência constituem a nova etapa do golpe de Estado perpetrado em 2016. Desde então, a direita no poder começou a realizar as chamadas “reformas”, que não são outra coisa senão ataques aos direitos dos trabalhadores e do povo, e toma uma série de medidas que debilitam a economia nacional e a tornam ainda mais dependente do capital financeiro internacional. A continuidade da aplicação desse programa depende do exercício do monopólio do poder político pelos partidos de direita e da restrição dos direitos democráticos. Isto depende da anulação de toda possibilidade de retorno das forças progressistas e de esquerda ao governo nacional. Todas as pesquisas mostram que se Lula for candidato, ele provavelmente vencerá a eleição presidencial. O único meio que a direita encontrou para impedir sua vitória é a condenação judicial. Assim, a condenação de Lula e o impedimento de sua candidatura já são em si mesmos ataques contra a democracia. Efetivamente, no Brasil depois do golpe de Estado de 2016 e dessas recentes decisões judiciais, a democracia já não está em vigor. Como um sistema de governo poderia ser democrático se impede a candidatura de seu principal adversário, que é ao mesmo tempo o maior líder popular de toda a história do país?!

A direita considera que atacando os símbolos progressistas (golpe de Estado contra Dilma e este julgamento de Lula) enterrou todos os avanços sociais?
Este é o objetivo da direita. Já estão em curso ataques aos direitos do povo. Haverá uma dura luta na qual as forças progressistas, os partidos de esquerda e os movimentos sociais resistirão e defenderão as conquistas alcançadas durante os governos Lula e de Dilma.


Edição de domingo  Humanité Dimanche publicou entrevista com dirigente comubnista brasileiro

Um movimento internacional de apoio a Lula é importante e necessário?
Sim, a solidariedade internacional será um elemento importante de nossa resistência e de nossa luta. Durante os dias que precederam o julgamento de Lula, o PT, o PCdoB e o Fórum Social Mundial organizaram manifestações nas quais participaram partidos políticos e movimentos sindicais da América Latina e da Europa. Do velho continente vieram delegações do Partido da Esquerda Europeia e do Partido Comunista Português. A solidariedade com Lula e o povo brasileiro é necessária não somente para impedir uma injustiça. É necessário compreender que a liquidação da democracia no Brasil implica efeitos negativos para as lutas dos povos irmãos e terá um impacto negativo na correlação de forças internacional. O Brasil é uma grande nação e os impactos das derrotas da democracia em nosso país exercerão papel negativo na luta anti-imperialista. Sob um governo antinacional, antidemocrático e reacionário, o Brasil será um bastião da reação mundial.

Quais são os próximos desdobramentos?
Há um longo caminho jurídico a seguir. A defesa de Lula apresentará recursos aos tribunais superiores, seja ao Superior Tribunal de Justiça, seja ao Supremo Tribunal Federal, a fim de garantir sua liberdade. Enquanto a Corte Suprema (STF) não se pronunciar, Lula tem direito à liberdade. Do ponto de vista dos procedimentos ligados à eleição presidencial, no Tribunal Superior Eleitoral, o PT tem o direito de registar a candidatura de Lula até a data limite de 15 de agosto. A direita apresentará contestações, assim como setores do Poder Judiciário. Haverá uma longa batalha política e jurídica, cujos resultados são imprevisíveis.

Fonte: L’Humanit

Tradução: Resistência