José Reinaldo Carvalho: Lutar e vencer
Alguém em sã consciência e honestidade de propósitos duvida de que foi uma vitória Fernando Haddad se qualificar para o segundo turno com 31.342.005 votos, no quadro de uma luta desigual?
Por José Reinaldo Carvalho*
Uma situação assim nefasta deixou sequelas também em setores da esquerda. Uns miravam 2013 como um levante popular por transformações progressistas. Outros nele se basearam para forçar notas interpretativas e na sequência passaram a a encarar o golpe de 2016 como o momento non plus ultra da superação do ciclo lulo-petista (sic!), propício à abertura do novo ciclo neo-desenvolvimentista sob a liderança do… centrão.
Quem poderia imaginar que em tal contexto de ofensiva da direita mais empedernida e da esquerda mais confusa a candidatura do petista Fernando Haddad, em aliança com o Partido Comunista do Brasil que indicou a vice Manuela D´Ávilla, pudesse alçar um voo tão alto, considerando as condições em que a chapa foi lançada, em plena ocorrência de uma fraude eleitoral que foi a todos os títulos o impedimento de Lula?!
É este o critério pelo qual devemos analisar o atual estágio da luta eleitoral a 12 dias da votação e não da antecipação da derrota.
Não esqueçamos de que o plano das forças reacionárias era vencer as eleições já no primeiro turno. Este plano fracassou. Ninguém se engane com as aparências. Este plano incluía considerar Lula, o PT, seus aliados na esquerda como forças proscritas do cenário político. Mas eis que há uma batalha de segundo turno, há eleitos, há candidatos por eleger e nada indica que a esquerda esteja proscrita ou morta, a não ser que se opte por utilizar as armas que a direita pretende distribuir aos ricos.
Pendente do resultado eleitoral, o Brasil democrático e popular aposta na vitória, no avanço e, se há forças de vanguarda dignas desta designação, não pensa em outro cenário que não seja a vitória e o avanço daqueles partidos e movimentos que, impregnados de amor à pátria e convicções de progresso social, encontram-se empenhados em barrar a ameaça fascista e tornar este país um apanágio das liberdades. Não há nem pode haver outro plano estratégico senão este, o que implica lutar até o último voto pela vitória no segundo turno da eleição presidencial.
Existe muita coisa em jogo: a luta contra as desigualdades sociais, o combate ao racismo, homofobia e misoginia, a defesa dos programas sociais, o plano nacional de desenvolvimento, a defesa da soberania nacional, a universalização de direitos, a política externa de integração entre povos, defesa da paz e inserção do Brasil num mundo carregado de ameaças.
Esta postulação requer a mobilização de todas as reservas ideológicas e morais do Brasil democrático, progressista e popular, a capacidade de desatar a energias criadora e mobilizadora das massas populares no Brasil urbano e profundo, de fustigar a memória nacional sobre os danos até hoje não reparados de 21 anos de ditadura castrense, de uma década de flagelo neoliberal e a habilidade de fazer soar o alarme da consciência coletiva para a ameaça da perda de direitos e a transformação de trabalhadores e empreendedores em párias.
Requer também a renovação da capacidade da esquerda para unir amplas forças políticas e sociais numa frente tão ampla quanto seja possível para conjurar o perigo do fascismo.
Fazem bem o Haddad e as forças de esquerda e centro-esquerda (PT, PCdoB, PSB, PCB, PSOL e PROS) que se reuniram nesta segunda-feira (15) em Brasília. Serenas e firmes, decidem sobre tarefas imediatas, ignoram ruídos, miram o futuro da árdua mas não impossível tarefa de construir a unidade, acima de toda tendência à fragmentação.
Tempo haverá para todo tipo de debate e exercício de formulação programática, desde que prevaleçam a lucidez, a capacidade de lutar e a unidade. O ciclo progressista iniciado com a primeira eleição de Lula em 2002 e continuado por Dilma teve virtudes e defeitos, misérias e grandezas. Tempo haverá para o balanço judicioso e criterioso, para autocríticas e a abertura de novos caminhos.
Neste instante dramático e crucial, a firmeza quanto ao rumo é tudo. E como dizia certo bigodudo que ganhou a Segunda Grande Guerra, a esquerda não pode nem deve jamais perder de vista a direção do golpe principal.
A vitória do candidato da frente democrática, Fernando Haddad, é o antídoto à candidatura de Bolsonaro, a qual representa uma ameaça à democracia e aos valores civilizacionais, a ascensão das forças de extrema direita, fascistas, o perigo de restabelecer uma ditadura, a aplicação de políticas antissociais, a perseguição às forças de esquerda, a repressão aos movimentos sociais.
Há tempo para lutar, agora. E para vencer, já.
*Jornalista, membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), editor do Resistência e diretor do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz.