Imagem projetada de janela em "panelaço" contra Bolsonaro

Depois de participar em uma manifestação com claro caráter fascista no último domingo (19), ao lado de sequazes que pediam em seu nome a intervenção militar, a volta da ditadura e a reedição do Ato Institucional número 5, Bolsonaro passou a noite do próprio domingo combinando com os generais com quem divide o Palácio do Planalto, uma nova versão para a fala que faria no dia seguinte durante a saidinha do Palácio da Alvorada.

Por José Reinaldo Carvalho*

Como sempre, a emenda saiu pior do que o soneto, embora alguns iludidos opinem que ele recuou.

Bolsonaro não fez nenhum recuo, nem se contradisse, nem mandou mensagens ambíguas. Não! Ele reafirmou o que disse, enxotou a imprensa aos berros e com expressões grosseiras. Criou uma nova categoria na política brasileira – “eu sou o poder e a Constituição” – e ainda cravou que desta semana não passa o fim da quarentena.

Da boca pra fora, mastigou palavras em “defesa” da democracia e pela manutenção do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal como instituições abertas e transparentes.

A ação golpista de Bolsonaro do domingo e a encenação do “recuo” na segunda-feira não surpreendem nem devem enganar ninguém. A linha geral do comportamento do ocupante do Palácio do Planalto e do grupo que o cerca é golpista e antidemocrática. Desde há tempos este é o modo de agir. Ele agride as instituições e diante da repercussão negativa, encena uma emenda, um arranjo, para em seguida fazer algo pior, conquistar terreno e ir adiante na consecução de seu plano de destruir o Brasil por meio de uma ditadura.

Foi ampla a condenação à ação bolsonarista, o que é positivo. Da esquerda à direita, manifestaram-se os partidos políticos, deputados e senadores isoladamente e todas as instituições, sobretudo as diretamente atingidas pela ofensiva bolsonarista. Mas somente isto já não basta. Qual a consequência? Qual a ação prática decorrente?

Como foram em geral posições retóricas, formais e defensivas, apenas antecipam o próximo episódio. Não nos iludamos. Bolsonaro seguirá no seu desiderato de destruir o país por meio de uma ditadura. Não é para outra coisa que conta clandestinamente com milícias de comerciantes, marginais e comunidades que de religiosas não têm nada. Não foi à toa que elogiou repetidas vezes a ditadura militar, um regime facínora, a tortura e que, às vésperas de ser eleito, ameaçou exterminar a esquerda e mandar adversários políticos e ideológicos para a “ponta da praia”.

Bolsonaro não se deterá pelas proclamações formais de defesa do estado democrático de direito ou pelo conselho de moderação dado por generais que estão aboletados no Palácio do Planalto, na Esplanada dos Ministérios e outros useiros e vezeiros em tuitadas. Esses generais protegem, respaldam e tutelam Bolsonaro. Sua função precípua é garantir seu mandato e impedir sua queda. Mesmo isolado politicamente, Bolsonaro vai escalar mais e mais, seguirá em ofensiva e agirá para que demore e permaneça o regime de extrema-direita que está encarregado de soerguer. Bolsonaro, com a política que leva a efeito, pode levar o Brasil ao caos, à divisão do país, à guerra civil, e à ditadura.

Bolsonaro só será contido se derrubado e para as forças democráticas e progressistas do país aí está o busílis da questão. Não há saída política visível para defender a democracia nos marcos da convivência destas forças com o bolsonarismo. Daí por que sustentar que a alternativa política está no Fora Bolsonaro é o ponto de partida incontornável para organizar a resistência e a luta, unir as forças progressistas e do movimento popular para promover a unidade a mais ampla possível do povo brasileiro.

O futuro da luta democrática do povo brasileiro ficará irremediavelmente comprometido, a partir de 2022. se o centro da disputa política for o embate entre a extrema-direita e a direita.

As forças de esquerda, descortinando a perspectiva de favorecer a constituição de uma frente a mais ampla possível de democratas e patriotas, precisa superar suas vulnerabilidades, recompor o discurso e a posição de combate e evitar a todo o custo a fragmentação de posições. Para cavar as trincheiras da resistência e da luta, é indispensável se unir. A razão de ser da frente ampla, neste momento preciso da vida política brasileira é o Fora Bolsonaro, criar as condições e acumular forças para deter o curso de destruição nacional que seu governo representa.


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