José Carlos Ruy (1950-2021), um jornalista e um intelectual comunista
O PCdoB perdeu um dos jornalistas e escritores mais importantes de sua história. Faleceu na manhã nesta terça-feira (2), aos 70 anos, José Carlos Ruy, membro da equipe do Vermelho, do conselho curador da Fundação Maurício Grabois e da comissão editorial da revista Princípios, além de ex-editor da Classe Operária.
Ruy morreu em sua casa, em São Paulo, vítima de um infarto fulminante. Seu corpo foi encontrado pela filha Carolina Maria Ruy, também jornalista, que acompanharia o pai hoje em uma consulta ao oftalmologista.
“José Carlos Ruy foi um grande jornalista. Um militante e dirigente comunista disciplinado, ativo e dedicado. Mas foi sobretudo um homem sensível, atencioso e delicado. Uma pessoa humana ímpar”, registou a presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos. “É doloroso saber da sua partida.”
Luciana lembrou a influência de Ruy sobre outros jornalistas que trabalharam em veículos sob direção do PCdoB. “A Classe Operária, jornal do nosso partido, tem muito do seu DNA, do seu suor e do amor pela comunicação. Gerações de comunicadores do nosso partido cresceram sob seu exemplo, influência e carinho”.
Paulistano, nascido em 7 de outubro de 1950, Ruy era jornalista desde os anos 1970 e foi um dos primeiros membros do PCdoB a ser dirigente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Sob a ditadura militar, colaborou com os jornais Movimento e Tribuna da Luta Operária, entre outros veículos alternativos. No Departamento de Documentação (Dedoc) da Editora Abril, manifestou sua vocação não apenas para a apuração tipicamente jornalística – mas também para a pesquisa histórica.
Em seus textos sobressaía a visão marxista do mundo e dos fatos – o que Ruy acentuou posteriormente, na condição de intelectual orgânico do PCdoB. Membro do Comitê Central do Partido de 1997 a 2009, ele gostava de dizer que era “estudioso de história e do pensamento marxista”. Autodidata, tinha interesse, ainda, pelas lutas históricas dos negros no Brasil, pela história da do movimento feminista e também por literatura – brasileira e estrangeira. Volta e meia, escrevia para o “Prosa, Poesia e Arte”, a seção cultural do Vermelho.
Artigos de sua autoria estão presentes em mais de 20 livros, com destaque para as duas edições de Contribuição à História do Partido Comunista do Brasil – projeto do qual foi um dos organizadores, ao lado de Augusto Buonicore. Ruy foi autor de Os Comunistas na Constituinte de 1946, mas seu projeto de maior fôlego e profundidade foi, sem dúvida, Biografia da Nação – História e Luta de Classes, lançado em 2018. Os livros de Ruy foram publicados pela Editora Anita Garibaldi, em parceria com a Fundação Maurício Grabois.
Renato Rabelo, presidente da Fundação e dirigente do PCdoB, foi um dos companheiros de Ruy que lamentaram sua morte: “A morte do nosso grande camarada José Carlos Ruy é uma perda que deixa imensa lacuna. Era um destacado militante intelectual do nosso Partido, abnegado lutador da causa comunista e civilizacional. Deixa extenso e rico legado que nos inspira e nos fortalece”.
Nos últimos anos, mesmo com a perda parcial da visão e a saúde debilitada em função do diabetes, Ruy se dedicou a traduzir para o Vermelho artigos da mídia comunista e progressista internacional. Nos quase 19 anos do portal, Ruy se destaca também como um dos colunistas com mais textos publicados.
“Como amigo e companheiro na equipe do Vermelho, Ruy foi como um irmão mais velho para mim”, afirma Inácio Carvalho, editor do portal desde 2015. “Nos últimos cinco anos, desde que assumi a editoria do portal, nos falávamos praticamente todos os dias, sobre os mais diversos assuntos – trabalho, acontecimentos políticos, cultura e a vida. Sempre muito disposto, afável e esperançoso na luta do povo, Ruy era um inspirador para quem acredita numa vida melhor, nos seres humanos, na vida e no socialismo. Ruy continua imprescindível e seguirá nos inspirando através de sua obra.”