Jornalistas cristãos denunciam fake news envolvendo religião e política
O site Bereia tem coletado e checado conteúdo noticioso suspeito de desinformar e manipular com objetivo político. Com o início da campanha eleitoral, o coletivo de jornalistas, que pesquisam ou têm interesse em religiões no país, já observa a reedição de ataques políticos envolvendo mentiras, principalmente circulando em mídias sociais de grupos religiosos.
Sites de checagem não são novidade, mas o projeto Bereia se diferencia por demonstrar a preocupação de setores religiosos com a circulação de boataria que afeta a imagem deste segmento social e prejudica suas tomadas de decisão política. Conta com apoio de diversas organizações, inclusive internacionais, de cristãos, evangélicos e católicos. A iniciativa visa a buscar a verdade, inclusive para desmistificar a opinião sobre evangélicos e suas lideranças. O site classifica as cerca de 300 informações checadas desde outubro de 2019, primeiro ano do Governo Bolsonaro, como verdadeiras, imprecisas, enganosas, inconclusivas ou falsas.
Um levantamento feito pelo próprio Bereia, revelou que cerca de 77% das notícias são informações cuja veracidade não pode ser confirmada. A maior parte deste material checado até junho de 2020 era sobre a pandemia de covid-19 (32%), seguida de política brasileira (22%).
Naquele período, fora as redes sociais mais comuns, a maior parte dos sites de origem das notícias eram ligados a organizações ou indivíduos religiosos, alguns deles políticos. Há uma grande quantidade de notícias enganosas checadas pelo Bereia relacionadas a estes sites, que, por vezes, apresentam fatos reais de forma distorcida, e confundem o leitor em relação àqueles conteúdos. Um deles é o Gospel Prime, citado em reportagem da revista Época como o número um de uma lista com os 10 maiores veiculadores de notícias falsas no país.
Catálogo de mentiras
A mais recente checagem diz respeito à circulação de uma mentira sobre o governo Lula ter distribuído livro de educação sexual para crianças pequenas nas escolas. Mas o site ainda checa afirmações de pessoas evangélicas ou católicas em cargos públicos, assim como desinformação da mídia sobre evangélicos. O pastor e deputado Marco Feliciano (PL-SP) é uma figura frequente na checagem, assim como o pastor Silas Malafaia.
O site tem seus limites, porque o fluxo de desinformação e fake news circulando em período eleitoral é muito maior que a capacidade de checagem. O governo Bolsonaro e seus aliados são fonte inesgotável de informação imprecisa ou manipulada, conforme revelam todos os sites que fazem esse tipo de divulgação.
Por outro lado, o Portal apurou que setores de partidos e campanhas eleitorais também consideram insuficiente a checagem. Alguns avaliam que ela pode contribuir para disseminar ainda mais as falsas notícias. Outros argumentam que é preciso uma abordagem diferente para desmobilizar esses discursos.
Os especialistas afirmam que a mentira mobiliza emoções nas pessoas, como frustração, raiva e revolta. Para neutralizar esse efeito, seria necessário acessar estes sentimentos com uma mensagem tão forte quanto. Somente dados estatísticos e fatos seriam insuficientes para chegar aos corações e mentes de pessoas que encontram confirmação de suas crenças em mentiras.
Ainda assim, sites de checagem como Lupa, Pública, Fato ou Fake, E-farsas, Fake Check ou Bereia são importantes catálogos de informação duvidosa encontrada frequentemente nas redes e sites, ou circulando por aplicativos de mensagem. É cada vez mais comum as pessoas receberem algum conteúdo suspeito no grupo de WhatsApp ou Telegram, checar nestes sites e denunciar a mentira aos participantes.
A imagem de um print de matéria com característica visual do portal de notícias G1, do Grupo Globo, com o título “Lula diz: ‘No meu governo, Bíblia vai adotar pronome neutro e não terá mais o nome de Jesus”, circulou amplamente este ano. Mas os alvos vão além dos adversários políticos de Bolsonaro, como já foi o ex-juiz Sérgio Moro e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Muitas notícias são ataques a segmentos da sociedade associados à esquerda, como LGBT+ e religiões de matriz africana. Outras não são necessariamente mentiras, mas manipulações discursivas de políticos ou pastores para demonizar o PT, Lula ou a esquerda.
Por Cezar Xavier