“Percebe-se facilmente o ânimo de incriminar e dar por definida uma culpa que não se sustenta em nenhuma prova", diz o jornalista (Foto dos brigadistas reproduzida do twitter)

O jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto afirmou, em artigo publicado no jornal O Estado Net na segunda-feira (23), que o indiciamento dos brigadistas de Alter do Chão pela polícia civil do Estado é uma farsa.
“Percebe-se facilmente o ânimo de incriminar e dar por definida uma culpa que não se sustenta em nenhuma prova, parecendo que a acusação, a prisão e o indiciamento servem a um enredo oculto, embora não invisível”, diz o jornalista.
A Polícia Civil encerrou investigação que aponta que quatro voluntários das Brigadas de Alter do Chão (PA) seriam os responsáveis por provocar incêndios que eles mesmos combateram. A defesa dos brigadistas emitiu nota na sexta-feira (20) denunciando ilegalidades no processo e direcionamento na investigação.
A defesa dos brigadistas contesta o inquérito da Polícia Civil – que, segundo o MPF, não deveria ser responsável pelo caso. “A notícia do indiciamento dos integrantes da Brigada de Alter do Chão surpreende a Defesa e representa uma enorme injustiça. O indiciamento é fruto de ilegalidades e, infelizmente, indica direcionamento da investigação”, dizem os advogados.
Na opinião de Lúcio Flávio Pinto “a versão é inverossímil, inacreditável, maluca. Segundo ela, cinco integrantes de uma brigada de voluntários contra incêndio de Alter do Chão, que se tornou o mais famoso balneário do Pará (e dos mais celebrados balneários brasileiros em todo mundo), simulavam combater o fogo, mas, na verdade, o desencadearam”.
“De declarados bombeiros se transformaram ardilosamente em incendiários para bater fotos e espalhá-las à cata de doações para si e sua causa. Um golpe inédito nos anais desse tipo de história, além de temerário e certamente insustentável”, acrescentou.
O Ministério Público Federal considera como principais suspeitos grupos empresariais do setor de turismo que cobiçam a exploração da região, que é considerada área de preservação ambiental.
“Por se tratar de um dos balneários mais famosos do país, a região é objeto de cobiça das indústrias turística e imobiliária e sofre pressão de invasores de terras públicas.”, diz um comunicado MPF. Segundo o MPF, o órgão chegou a enviar um ofício à Polícia Civil do Pará requisitando o acesso integral ao inquérito que acusa os voluntários.
Para o jornalista a polícia agiu de forma açodada. “Com base em diz-que-disse, a polícia prendeu os acusados, jogou-os na cadeia, raspou-lhes os cabelos, vestiu-os como presidiários e os humilhou o quanto pôde. Inicialmente, o juiz estadual manteve a arbitrária prisão, voltando atrás dois dias depois, tal foi a reação ao absurdo”, avaliou.
Ele lembrou que o governador substituiu o delegado responsável mas não impediu a conduta irresponsável dos investigadores. Jair Bolsonaro usou o episódio para reforçar suas afirmações de que ONGs eram responsáveis pelas queimadas na Amazônia.
“O governador tirou o delegado que iniciara a investigação, mandando – novamente de Belém – outro para continuar o serviço. Trocou seis por meia dúzia, já que o relatório final sustenta as mesmas ilações do primeiro delegado. Quando se esperava por sólidas provas para sustentar a algaravia acusatória, o que se vê é ainda pior. Tudo se baseia em testemunhos, dados por pessoas sem legitimidade ou credibilidade”, denunciou o jornalista.
“Percebe-se facilmente o ânimo de incriminar e dar por definida uma culpa que não se sustenta em nenhuma prova, parecendo que a acusação, a prisão e o indiciamento servem a um enredo oculto, embora não invisível.
Se é isso que a polícia civil tem para sustentar o seu procedimento, então se espera que haja um deslocamento de competência e a participação do Ministério Público para que o Pará seja poupado, mais uma vez, de se apresentar ao mundo como um lugar de abusos sem os freios do direito e da justiça. Um sítio da violência, inclusive institucional”, argumentou Lúcio Flávio.