João Campos (PSB)

O prefeito eleito do Recife, João Campos (PSB-PE), disse que esquerda e centro-esquerda têm que dialogar com outros campos políticos para não deixar Jair Bolsonaro ganhar em 2022.
“Para a esquerda prosperar, precisará encarar a pergunta: qual é o programa mínimo, que tenha a democracia e o enfrentamento às desigualdades como valores inegociáveis, que afinal pode unir o Brasil?”, disse.

“O que precisamos é fazer política com objetividade e conversa, muita conversa mesmo. Só assim a centro-esquerda poderá vencer as eleições em 2022 e as outras que virão”, sentenciou, em entrevista concedida à revista Veja.

“As urnas mostraram que a maior parte da população está num terreno que não é o bolsonarismo nem o petismo. O PT não venceu em nenhuma prefeitura de capital, e a polarização que marcou 2018 sai enfraquecida”, frisou.

“O campo do meio ganhou força. A questão agora, para nós, da centro-esquerda, é justamente tentar nos unir”, afirmou.

Para ele, as eleições municipais deram mais força para outros partidos e lideranças de esquerda que não são do PT. “Essa esquerda, que não é mais aquela encabeçada pelo PT, está ainda em construção e abrange um leque bem variado”, avaliou.

João Campos disputou o segundo turno contra Marília Arraes (PT) e venceu por 56,3% contra 43,7%.

O futuro prefeito acredita que a insistência do PT em lançar uma candidatura própria mostrou que o partido não está com disposição para dialogar e acabou por isolá-lo.

“Todo mundo diz que quer conversar, mas quando se senta à mesa não demonstra a flexibilidade necessária. O PT escolheu lançar candidaturas próprias nessas eleições municipais, uma clara postura de quem, na prática, trata a coisa na base de ‘O.k., converso com você, mas desde que eu tenha tudo’. Cadê o verdadeiro exercício do diálogo?”, questionou João Campos.

“Em Pernambuco, toda a esquerda está junto. Quem se isolou foi o PT”, apontou.
Sua vitória, avaliou, aconteceu porque ele conseguiu unir muitos partidos e lideranças em torno de sua candidatura. Mesmo sendo amplo, seu governo não deixará de ser de esquerda, observou o prefeito eleito.

“Juntamos progressistas e liberais em torno de um objetivo, mas quem tem a liderança na coligação é o PSB. Portanto, o que predomina é o tom centro-esquerda. Você disputa uma eleição para ganhar”, assinalou.

João Campos citou a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), derrotada pelo prefeito Bruno Covas em São Paulo, como um exemplo de caminho político estreito e sectário a ser seguido.

“Eu costurei uma frente de doze partidos, enquanto a candidatura dele [Boulos] caminhou numa área bem mais restrita, conversando só com gente e partidos parecidos entre si”, comparou.