João Batista Lemos: “Ampliar radicalizando, radicalizar ampliando”
Vivemos hoje no Brasil uma das mais complexas e difíceis conjunturas de nossa História Política recente, os direitos e as conquistas das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros (as) vem sendo constantemente atacados por uma classe dominante que quer aprofundar as desigualdades e entregar o país nas mãos do capitalismo internacional. Querem institucionalizar o neoliberalismo no poder e recolonizar o Brasil.
Uma aliança golpista e entreguista se consolidou em nosso país, uma articulação forte que envolve setores político-partidários conservadores liderados, sobretudo, pelo PSDB e pelo PMDB; segmentos do Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal, da Grande Mídia e os grandes atores do capitalismo financeiro internacional. Eles deram um golpe de Estado para impor uma agenda regressiva para o povo e para a Nação e farta para o Mercado e para as grandes potências capitalistas.
Michel Temer, o usurpador, foi a alternativa para tentar construir um espécie de neo-colonialismo do século XXI no Brasil. Isso quer dizer, transformar o Brasil em mero exportador de matérias primas e importador de produtos com maior valor agregado. O que leva a destruição da indústria e engenharia nacional. Essa grande coalizão golpista agiu para preservar seus privilégios, ampliar as condições de acumulação de capital e concentração de renda, além de buscar baratear e sucatear o trabalho com a desregulamentação das relações de trabalho com a retirada de direitos da classe trabalhadora.
Entretanto, as contradições desse bloco estão fervilhando. Setores produtivos nacionais estão vendo suas indústrias entrarem em falência por falta de investimentos, o resultado são mais de 14 milhões de desempregados. Michel Temer já não tem mais condições de permanecer no poder e a qualquer momento pode ser descartado por aqueles que o ajudaram a concretizar o golpe de 2016. Para essa coalizão golpista o que realmente importa é a aprovação dessa agenda anti-povo que está em debate no país e, certamente, buscarão uma via anti-democrática para garantir seus objetivos em detrimento da grande maioria da Nação brasileira.
Com a iminente saída de Temer, a tese principal deste bloco conservador é o caminho da eleição indireta que permitiria um arranjo com a maioria vendida do Congresso Nacional em torno de um nome que dê continuidade a esse famigerado projeto ultraliberal.
Nesse contexto de vácuo de poder, também é relevante lembrar que a luta contra-hegemônica e as disputas das narrativas ou interpretações por meio de variados instrumentos de comunicações – das redes sociais aos jornais impressos, das rádios às TVs comunitárias – ganham uma importância estratégica diante dos acontecimentos, para fazer frente a grande mídia neoliberal. Historicamente as lutas das massas se desenvolvem não de forma linear, mas em saltos, pois as contradições vão se avolumando, tendo seu tempo de descenso e de ascensão. A luta de massas não vem de uma ação voluntariosa nossa, estoura de forma espontânea, embora, contendo elementos de consciência. Mas as ideias não eclodem espontaneamente, ou elas vêm das classes dominantes, através de suas instituições, ou vem de nossas organizações. Nesta questão ganha importância a combinação das mobilizações póliticas com as atividades culturais, para ganhar as emoções, corações e mentes do povo brasileiro em defesa dos seus direitos, da liberdade política e da soberania nacional, através de artistas, teatros de rua, shows e demais atividades culturais. Por isto, é necessário renovar nossos vínculos, nossa linguagem com as massas. O fator organização de base através de suas variadas formas também é elemento de mobilização.
A resistência cresce, amplos setores já se incorporam à luta pela bandeira das Diretas Já e por nenhum direito a menos. É preciso fortalecer cotidianamente essa luta. Nessa realidade, é fundamental ampliar radicalizando e radicalizar ampliando.
Mas nossa linha mestra deve ser sempre a ampliação da unidade em torno da democracia. Precisamos mobilizar a sociedade brasileira, atraindo os setores produtivos nacionais, artistas, setores das igrejas, e o conjunto dos movimentos sociais, para transformar os milhares que já estamos mobilizando nas ruas em milhões. Em uma massa de brasileiros (as) que poderá impactar o Congresso Nacional mostrando que quem comanda a Nação é o povo brasileiro: soberano, plural e trabalhador. Pois o centro da luta de classes hoje é o entrelaçamento do fator democrático com o fator nacional.
Nesse momento, questão central é fortalecer a unidade da classe, preparar todas as mobilizações já em curso nas ruas, das panfletagens nos locais de trabalho, escolas, bairros e igrejas, para deflagrar a nova Greve Geral convocada pelas Centrais Sindicais, que é essencialmente uma luta política de ampliação e radicalização, afinal, a ação política não está só no parlamento (e essa luta não pode ser subestimada), ela também é social e é de classes.
Renovar cada vez mais nossas ligações com as massas se faz necessário para robustecer a nossa capacidade de luta e de resistência. Assim, criaremos condições de, através dos anseios do povo brasileiro, alterar a correlação de forças em nosso país para abrir perspectiva de um futuro promissor e com mais oportunidades para nossa gente por meio de um novo projeto nacional de desenvolvimento com democracia, distribuição de renda, valorização do trabalho e soberania nacional. Sempre no rumo do socialismo.
Como dizia Antonio Gramsci, “o presente contém todo o passado”. Devemos assumir com afinco nossa responsabilidade de luta e resistência nessa quadra histórica em nome dos sonhos do futuro e das batalhas e lições do passado.
Vamos à luta!