Jimmy Carter

Recém recuperado de uma cirurgia no quadril, o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, ao retomar suas preleções dominicais na Igreja Batista Maranatha, no estado da Geórgia, relatou seu diálogo, de abril, com o atual presidente Donald Trump, sobre as relações com a China. Em resumo, Carter disse a Trump que enquanto os EUA nos últimos anos gastaram trilhões de dólares em guerras, a China investiu em projetos como ferrovias de alta velocidade que beneficiam seu povo.

Com 94 anos, Carter é o ex-presidente dos EUA mais longevo da atualidade. Partiu dele a iniciativa de enviar uma carta a Trump sobre as relações com Pequim, e este lhe telefonou de volta. “O principal objetivo de seu telefonema era dizer-me francamente em uma linha privada que os chineses estavam se adiantando em muitos aspectos”.

Foi durante o mandato de Carter que EUA e China normalizaram as relações diplomáticas há 40 anos. Era a primeira vez que os dois se falavam. Como narrou Carter, Trump estava particularmente preocupado sobre como a China está “se adiantando”. Questão sobre a qual teve de concordar.

“E você sabe por quê?”, retrucou Carter. “Eu normalizei as relações diplomáticas com a China em 1979. Desde 1979, sabe quantas vezes a China esteve em guerra com alguém? Nenhuma. E nós ficamos em guerra”, disse ele. (com exceção do breve conflito de fronteiras entre China e Vietnã semanas após o reatamento).

Carter afirmou que os EUA são “a nação que mais guerreiam da história do mundo” devido ao desejo de impor valores americanos a outros países, enquanto a China priorizou investir seus recursos em projetos como ferrovias de alta velocidade em vez de gastos de defesa.

“Quantas milhas de ferrovia de alta velocidade nós temos neste país?”, indagou o ex-presidente. A que sua congregação respondeu: “zero”.

“Nós desperdiçamos, eu acho, US $ 3 trilhões”, disse Carter, referindo-se aos gastos militares americanos só no Iraque e Afeganistão. “A China não desperdiçou um único centavo com a guerra, e é por isso que eles estão à nossa frente. Em quase todos os aspectos”.

“E eu acho que a diferença é que se você pegar US $ 3 trilhões e colocá-los na infra-estrutura americana, você provavelmente terá US $ 2 trilhões sobrando. Teríamos ferrovia de alta velocidade. Teríamos pontes que não estão em colapso. Teríamos estradas mantidas de forma adequada. Nosso sistema educacional seria tão bom quanto o da Coréia do Sul ou de Hong Kong”.

“Eu não estava comparando o meu país adversamente com a China”, esclareceu Carter. “Eu estava apenas apontando isso porque eu recebi uma ligação ontem à noite”. O ex-presidente disse que entende que Trump se preocupe com a China superando os EUA como a maior superpotência econômica do mundo.

“Eu realmente não temo esse tempo, mas incomoda o presidente Trump, e não sei por quê. Não estou criticando ele – esta manhã”, disse Carter, rindo.

A conversa entre Carter e Trump foi confirmado pela Casa Branca. “O presidente Jimmy Carter escreveu ao presidente Trump uma linda carta sobre as atuais negociações com a China e no sábado eles tiveram uma ótima conversa telefônica sobre a posição do presidente Trump sobre o comércio com a China e vários outros tópicos”, registrou um porta-voz.

A presença de Carter na igreja Maranatha foi para agradecer pelas mensagens e votos que recebeu de pronto restabelecimento. Nesta quarta-feira, Carter receberá o prêmio inaugural George HW Bush [Bush Pai] de estadista nas relações EUA-China. O prêmio consiste em reconhecer as “profundas contribuições de Carter para o desenvolvimento de relações construtivas e mutuamente benéficas” entre os Estados Unidos e a China, informou a Fundação George HW Bush em um comunicado.