Missa celebrada após tentativa de incêndio na Igreja de Todas as Nações situada no local onde Jesus fez a última ceia

Líderes das igrejas de Jerusalém alertam que os cristãos “têm sido alvo de frequentes e ataques por grupos radicais marginais” judeus “por toda a Terra Santa”. A denúncia de “incontáveis incidentes” consta de um manifesto assinado por patriarcas e diretores de igrejas da cidade sagrada para as três religiões monoteístas.

Divulgado no dia 13 de dezembro, o documento intitulado “Declaração sobre as atuais ameaças contra a presença cristã na Terra Santa”, na oportunidade da aproximação da data natalina, adverte para ataques verbais, físicos e para a vandalização de locais sagrados e igrejas.

Uma das mais graves destas agressões foi contra o monastério da Igreja Romana em Jerusalém que foi vandalizado e teve sua entrada incendiada. Foi o quarto ataque ao monastério em apenas um mês, conforme reporta o portal Daily Sabah.

Declaração dos Patriarcas e Diretores de Igrejas em Jerusalém

Apesar de nenhum suspeito haver sido detido ou localizado, a Assembleia dos Católicos Ordenados na Terra Santa declarou que as autoridades suspeitam de “judeus religiosos ortodoxos”.

Para os líderes religiosos cristãos, a frequência e a constância destes ataques aponta para “uma tentativa sistemática de levar a comunidade cristã a deixar Jerusalém e outras partes da Terra Santa”, que inclui, nos dias de hoje, o Estado de Israel e os territórios palestinos, em grande parte ocupados.

Estes líderes religiosos também advertem que grupos com posições judaicas supremacistas estão adquirindo propriedades das mãos de cristãos, em particular no histórico e milenar Bairro Cristão. Com isso, prossegue o documento, tais grupos radicais combinam “negócios e táticas de intimidação” com a finalidade de expulsar os atuais moradores de seus lares. Também observam que a população de cristãos na região tem declinado em proporção com integrantes de outras religiões: se em 1922 a população que assumia o cristianismo perfazia 10%, em 2019, já tinha declinado a 2% de toda a população.

Em outra declaração conjunta, Justin Welby, o arcebispo de Canterbury, principal líder da igreja na Inglaterra e Hosam Naoum, arcebispo anglicano de Jerusalém, denunciaram que “alguém acendeu um fogo na Igreja de Todas as Nações localizada no Jardim do Getsemane, local onde Jesus fez sua última oração antes de sua crucificação”.

O documento, que também serve de largada para uma campanha para resistir a este quadro adverso e que incluirá um site, petições e artigos, também protesta contra a negligência da polícia israelense, cujo governo controla os locais onde os cristãos estão sob ataque e, assim, deixa de fornecer a proteção adequada aos moradores cristãos.

Em resposta ao documento e respectiva campanha, o governo israelense, através de seu Ministério do Exterior, ao invés de assumir o compromisso de elevar o nível da proteção e das investigações sobre os ataques, procura desqualificar os denunciantes afirmando que suas acusações “são sem base e distorcem a realidade da comunidade cristã em Israel” e ainda, em uma demonstração de cinismo atroz, diz que ao invés de fazer uma tal campanha “se deve esperar dos líderes das igrejas a busca da tolerância e da coexistência e o entendimento de sua responsabilidade e das consequências do que publicaram, que pode levar à violência e prejudicar pessoas inocentes”.

O patriarca da Igreja Grega Ortodoxa em Jerusalém, Teophilus III, que foi o proponente da campanha, contestou: “Em nenhum momento da história dessa região o futuro da comunidade cristã foi tão abalado”.

“Os grupos de radicais têm a intenção de nos arrancar dos nossos lares, dos nossos negócios, e dos nossos locais de rituais sagrados. Ao invés de aceitar a divisão entre nós, devemos nos unir em favor de uma Terra Santa pacífica e tolerante a todas as religiões”.