Jandira: resistência ao fascismo não pode ficar restrita à esquerda
A líder da Minoria na Câmara, Jandira Feghali (RJ), representou o PCdoB nesta terça-feira (12) na Casa, onde foi realizado o debate “Crise política internacional e a luta popular”, no evento “Brics dos Povos”. O encontro antecede reunião do bloco e reúne cientistas e ativistas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para discutir política externa e solidariedade entre povos.
Jandira destacou o avanço do fascismo entre os temas mais importantes da agenda internacional. Ela defendeu que é necessário ampliar horizontes para isolar a extrema-direita:
“Essa luta [contra o fascismo] não terá sucesso se se limitar à esquerda. Nós precisamos ser mais amplos que a esquerda para isolar os fascistas nesse país, para isolar os fascistas na América Latina. Essa é uma visão que nós temos, alguns podem não concordar com isso, mas se remontarmos ao período da ditadura militar, nós só fomos capazes de derrotar a ditadura ampliando os nossos horizontes”, disse.
A parlamentar dá o exemplo da “batalha” dentro do Congresso Nacional.
“A gente só isola os fascistas e os fundamentalistas aqui dentro quando a gente amplia nosso olhar. Na sociedade, nós só seremos capazes de derrotar os fascistas se a gente ampliar para (agregar) os democratas e progressistas desse país. Nem todo mundo na sociedade é de esquerda e nem todo mundo é fundamentalista de direita.”
Bolívia
A comunista também prestou solidariedade às vítimas do golpe, nomeando o povo boliviano, o ex-presidente Evo Morales e a prefeita de Vinto, Patricia Arce, agredida por extremistas.
“O que aconteceu na Bolívia é muito expressivo para nós e deve nos alertar muito profundamente do que acontece na América latina”, disse.
Jandira criticou ainda o voto do Brasil a favor do bloqueio a Cuba, depois de 27 mantendo posição contrária. Para ela, esta é uma “decisão abjeta de alinhamento automático” aos Estados Unidos.
Multipolaridade
A parlamentar afirmou que espaço como o “Brics dos Povos” expressa a relevância da multipolaridade, e que é fundamental reconhecer que o mundo vive uma grande tensão e uma grande ameaça à paz.
“Não falo aqui de terceira guerra mundial, porque hoje vivemos guerras diferenciadas e de diversas dimensões pelo mundo, mas um mundo de tensão que corresponde a fase do capitalismo contemporâneo, agressivo, de expansão dos mercados e que corresponde exatamente a uma visão de resistência à multipolaridade”, argumentou.
Independentemente da posição do governo Bolsonaro, que tem enfraquecido o Brasil nos blocos dos quais era protagonista, a deputada diz que o Brics é instrumento fundamental de independência regional para os países em desenvolvimento.
Capital financeiro
Outro tema tratado pela parlamentar é a captura do poder político no mundo pelo capital financeiro, que tem profunda ligação com a desregulamentação do mundo do trabalho e a perda de direitos sociais pelos povos.
“Nós temos hoje como massa financeira quase US$ 300 trilhões circulando que representa três vezes o PIB mundial. Essa busca acumulativa de capital leva a uma completa distorção da realidade mundial e uma profunda desigualdade”, argumentou.
Além disso, aprofunda com grande força as desigualdades sociais. “Nós temos nessa acumulação de riqueza um dado em que 1% da população mundial acumula 50% da riqueza e 75% dos pobres tentam se virar com 3% da riqueza mundial”, diz.
Fake news
Outro grave problema apontado do mundo hoje é o uso da tecnologia para influenciar na formação de opinião por meio das chamadas fake news. Na avaliação de Jandira, a circulação de notícias falsas, promovida com uso de robôs e outros modos de impulsionamento, têm violando a soberania popular como aconteceu no Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e nas eleições brasileiras. Também interfere nas manifestações de rua e nos confrontos violentos.