O último e desolador momento que restou à mãe do estudante Marcos Vinicius, de 14 anos, foi a pergunta do jovem ensanguentado no chão de terra da favela da Maré: “Eles não viram que eu estava com roupa da escola, mamãe?”

Por Jandira Feghali*

Baleado por um tiro de fuzil a caminho do CIEP na comunidade, Marcos teve finalizado sonhos e a chance de construir sua vida.

oi enterrado em meio ao sofrimento e revolta de uma população vulnerável e cotidianamente presente nos noticiários policiais pelas frequentes perdas de seus filhos, mulheres e homens, meninas e meninos, em geral pretas e pretos jovens e transformados em números frios de uma estatística crescente no Rio de Janeiro.

Mas algumas mortes “da Maré” repercutem muito e fazem deste tema a violência, algo assustador.

A violência urbana ou a violência política.

Marcos e Marielle.

Vila Vintém agora grita por Guilherme.

Rocinha, Alemão, e tantas outras favelas gritam pelos seus e suas.

E continua o nosso ruidoso questionamento: Até quando?

Como uma ação conjunta da polícia civil e do Exército, com helicópteros em rasantes e dando disparos numa área escolar, podem deixar o Governo do Rio e suas corporações incólumes?

É preciso investigação séria e célere sobre a responsabilidade da morte do estudante.

Pois em plena intervenção federal, junto da gestão Pezão e do MDB para conter a violência no Rio de Janeiro, vemos a marca das ações: improviso, sem planejamento inteligente, desprezo pela vida dos civis inocentes.

A camisa de Marcos com o brasão da rede estadual manchada de seu sangue é a prova disso.

Não é de hoje que alertamos que a intervenção em andamento no Rio não é solução para a grave crise de segurança experimentada no estado.

E quem está pagando com a vida o preço disso tudo é principalmente a parcela de sempre do povo.

A já discriminada em todas as dimensões da vida.

Os considerados e tratados como sub-cidadãos e eliminados na guerra contra os pobres. Barbárie!

É preciso denunciar sistematicamente o desgoverno que só pensa em congelar investimentos, entregar nossas riquezas, sequestrar direitos e futuro e enterrar, sem dó, nossos jovens.

Nos palácios do Planalto e Guanabara, os responsáveis maiores!

De acordo com dados do último Atlas da Violência, publicação do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública , a taxa de homicídios no Brasil atingiu marca nunca antes vista.

Chegamos a 30 homicídios por 100 mil habitantes.

O texto sugere uma reflexão acerca do que chamam de “verdadeira crise civilizatória”.

Os dados falam por si.

Nosso estado e seus jovens clamam por políticas públicas de segurança há tempos.

Os remendos apresentados só têm agravado a situação e, se por um lado, parte da população apoiava  a intervenção federal, a maioria já entendeu que não trará solução.

Seu planejamento, só agora, quatro meses depois, foi apresentado à sociedade.

Vários são os desafios nesta área, mas são necessários investimentos em políticas públicas e uma capacitação nos três níveis de governo que permita a integração dos sistemas de inteligência e investigação, para maior eficiência e menor risco das ações.

Mas não nos esqueçamos que a desigualdade é mãe fervorosa da violência que massacra nossos jovens e lhes nega a oportunidade de um desenvolvimento pleno ou mesmo de viver.

E desigualdade não se combate com tanques nas ruas ou tiros que tombam crianças e adolescentes.

 *Jandira Feghali é médica, deputada federal (PCdoB/RJ) e vice-líder da oposição