Jandira denuncia depredação e racismo de parlamentar do PSL na Câmara

A líder da Minoria, deputada federal Jandira Feghali, denunciou nesta terça-feira (19), pelas redes sociais, ato de depredação e racismo perpetrado pelo deputado Coronel Tadeu (PSL), nos corredores da Câmara. O parlamentar, do partido que elegeu Bolsonaro, arrancou da parede e quebrou um quadro em exposição na Câmara pelo mês da Consciência Negra. O vandalismo aconteceu no mesmo dia em que a Casa realizou Sessão Solene e parlamentares comunistas se posicionaram contra o racismo no Plenário.
O quadro depredado na Câmara pelo parlamentar do PSL trazia uma ilustração do cartunista Carlos Latuff. A imagem era de um policial com arma em punho, de costas, afastando-se do corpo de um negro vestindo camisa estampada com a bandeira do Brasil. Junto ao desenho havia dados sobre o extermínio da população negra.
Jandira garantiu que a denúncia não acaba no vídeo já divulgado. Ela fará registro de ocorrência no Departamento de Polícia Legislativa (Depol) e vai acionar o Conselho de Ética da Câmara e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM).
URGENTE! Deputado Coronel Tadeu (PSL) vandaliza exposição na Câmara sobre o Mês da Consciência Negra!!! DIVULGUEM!!! pic.twitter.com/E5qTWppRqj
— Jandira Feghali (@jandira_feghali) 19 de novembro de 2019
Para a deputada, a atuação do parlamentar do PSL é “antidemocrática e inaceitável”.
O deputado Coronel Tadeu ter quebrado a charge de @LatuffCartoons, uma crítica ao genocídio negro nas periferias, é o reforço da necropolítica, do ethos fascismo, do racismo institucional. E isso numa exposição DA CÂMARA. Um trabalho institucional. Antidemocrático, inaceitável!
— Jandira Feghali (@jandira_feghali) 19 de novembro de 2019
A exposição estava montada no corredor que liga os anexos 2 e 3 da Câmara ao prédio principal.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) também se posicionou:
É um absurdo! Atitude violenta, antidemocrática, que demonstra a truculência de parcela das forças de segurança com a população negra. https://t.co/jcMOPn4InQ
— Orlando Silva (@orlandosilva) 19 de novembro de 2019
Mais racismo
A atitude do deputado Coronel Tadeu foi defendida pelo deputado Daniel Silveira, também do PSL, ao afirmar que gostaria de “apertar a mão” de quem retirou o painel. Disse que genocídio negro é uma “falácia” e que, na sua atuação como policial militar, nunca viu tal prática.
Jandira também criticou a dala de Silveira, que durante a eleição quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. Jandira também lembrou do assassinato da menina Ágatha Felix, de 8 anos, morta em 20 de setembro por tiro disparado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.
No dia que a perícia comprovou que a bala de um policial assassinou a jovem Ágatha, que é negra, este senhor expõe sua constatação sobre negros do Rio de Janeiro. Chocante o nível. pic.twitter.com/JF2hMA6gtz
— Jandira Feghali (@jandira_feghali) 19 de novembro de 2019
Sessão solene contra racismo
O ato de vandalismo e fala que nega os dados sobre genocídio da população negra por parte de parlamentares do PSL aconteceram no mesmo dia em que políticos e convidados, durante Sessão Solene no Plenário, ressaltaram as dificuldades que ainda precisam ser enfrentadas para superar o racismo e a desigualdade no Brasil.
Na ocasião, os comunistas fizeram questão de reafirmar que há racismo do Brasil e é preciso tomar medidas objetivas para o enfrentamento do problema, como as políticas afirmativas.
Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o Brasil possui uma dívida histórica com os negros.
“Ela é presente e vai muito além do plano social, econômico e material. Enquanto não enfrentarmos esse déficit de saúde, de oportunidades, educação, emprego, renda, vamos ficar com esse eco muito forte. E isso penetra em outros planos da vida: o da violência, o simbólico”, afirmou.
Segundo ele, é preciso ainda reafirmar a importância das políticas afirmativas, como a política de cotas. De acordo com Orlando Silva, o governo Bolsonaro vem, sistematicamente, destruindo direitos da população, o que afeta ainda mais a população negra.
“Essa população está na mira dessa política de destruição de direitos encampada por este governo. As políticas afirmativas têm que servir para que a gente tenha afrodescendentes nos lugares de mando, de poder”, disse.
Para ele, apesar de a consciência da sociedade brasileira ter aumentado, ainda é preciso garantir debate e luta para o enfrentamento do racismo no país. “Esse precisa ser um debate central, que una forças. Precisamos combater o racismo institucional que sabemos que existe em nosso país”, afirmou.
Para o líder da bancada comunista, Daniel Almeida (PCdoB-BA), o Dia Nacional da Consciência Negra é “um momento de “rememorar a trajetória de luta de Zumbi para continuarmos condenando qualquer tipo de discriminação.” “Não há democracia sem a superação dessas discriminações de caráter racial”, concluiu.