Jair Bolsonaro está cada vez mais isolado na sociedade. A pesquisa Data Folha, divulgada na
sexta-feira (03), mostrou que 76% da população aprovam a orientação do Ministério da Saúde
de manter a quarentena para impedir a explosão da epidemia da Covid-19.
Enciumado e insistindo em expor a população ao risco de infecção, Bolsonaro ameaça de
demissão o Ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Mas o resultado dessa ameaça é mais
isolamento. O número de integrantes do Poder Executivo e, principalmente dos meios
militares, de dentro e de fora do governo, que discordam da conduta do presidente é cada vez
maior.

Recentemente o vereador Carlos Bolsonaro, filho mais novo do presidente Bolsonaro, usou
suas redes sociais para agredir violentamente o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-
ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil, e um dos militares mais
admirados e respeitados do país, O motivo dos ataques é que o general Santos Cruz tem
criticado o comportamento irresponsável do presidente na condução da crise do coronavírus.
“É preciso liderança agregadora, transparência e reconhecimento da importância da
participação de especialistas e da sociedade”, defendeu o general, reforçando as opiniões dos
especialistas do Ministério da Saúde.
Apesar de Bolsonaro defender que as pessoas saiam de casa, o general Mauro Sinott Lopes,
comandante da 3ª Divisão do Exército, resumiu com a seguinte frase o seu apoio às
orientações do Ministério da Saúde: “a melhor saída é não sair”.
O general Braga Neto, chefe da Casa Civil e coordenador do gabinete de crise do governo, foi
perguntado por uma jornalista, durante entrevista coletiva no Planalto, na semana passada,
sobre qual era a posição do governo, se a do Ministério da Saúde, de manutenção da
quarentena para barrar a expansão da epidemia, ou a de Bolsonaro, pelo fim dessas medidas.
A resposta do general Braga Neto foi a de que os três ministros presentes na entrevista, ele, o
ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, apoiam a
posição do Ministério da Saúde.
A eles se juntou mais tarde o ministro Paulo Guedes que afirmou que, como cidadão, defende
as medidas de proteção adotadas pelo Ministério da Saúde e pelos governadores.
Percebendo-se cada vez mais isolado, Bolsonaro fez uma visita ao General Eduardo Villas Bôas,
numa tentativa de obter do ex-comandante do Exército uma declaração explícita de apoio à
sua conduta diante da pandemia. Não conseguiu. O general enviou uma mensagem onde, em
boa parte do texto, aponta, na verdade, como o presidente deveria estar agindo, mas não
está.
“Aprendi que a virtude está no centro, portanto, é necessária uma visão que tenha como foco
a compatibilização de todas as abordagens, as técnicas e as sociais”, diz um trecho da nota.
Nada mais distante do modo de agir de Bolsonaro, que desrespeita os técnicos, afronta os
cientistas e agride de forma extremada os governadores e a mídia.
Logo após um pronunciamento de Bolsonaro em cadeia nacional de televisão, o general
Hamilton Mourão, vice-presidente da República, respondeu a uma pergunta de jornalistas
sobre a posição do governo diante da epidemia. O general procurou se distanciar de
Bolsonaro. “A posição do governo para o combate à pandemia, por enquanto, é uma só:
isolamento e distanciamento social”, disse ele.
Questionado sobre a diferença de posição entre ele e o presidente, Mourão respondeu que “o
presidente buscou colocar, e pode ser que ele tenha expressado de uma forma, digamos
assim, que não foi a melhor”. Bolsonaro se irritou com seu vice e procurou desautorizá-lo,
dizendo: “o presidente sou eu”, numa referência crítica ao que Mourão havia dito à imprensa.
Este e outros posicionamentos de Mourão têm provocado também a ira de Carlos Bolsonaro,
chefe do chamado “gabinete do ódio”, a central de intrigas digitais que funciona dentro do
Palácio do Planalto.
Nesta sexta-feira o vereador postou uma mensagem insinuando que Mourão estaria
conspirando contra seu pai. Ele fez a seguinte indagação: “O que leva o vice-presidente da
República se reunir com o maior opositor socialista do governo, que se mostra diariamente
com atitudes totalmente na contramão de seu presidente?”

A mensagem se referia a uma reunião do vice-presidente com o Conselho da Amazônia,
realizada na última quinta-feira (02) com a presença dos governadores da região. O elogio aos
posicionamentos do vice-presidente partiu do governador do Maranhão, Flávio Dino.
As posições extremadas e irresponsáveis de Jair Bolsonaro estão tornando seu espaço cada vez
menor dentro, mas também fora, do Brasil.
A posição negacionista – que desenha a pandemia -, defendida por ele, é condenada por
praticamente todos os países do mundo. Todos os chefes de estado em todo o planeta estão
tomando providências urgentes de redução da mobilidade social.
Eles sabem, principalmente depois do estudo do Imperial College London, que a proposta de
Bolsonaro, se vingar, será um verdadeiro genocídio dos brasileiros. A revista The Economist
chegou a chamar o presidente brasileiro de “bolsonero”, numa referência ao imperador que
botou fogo em Roma.
Bolsonaro tornou cristalino o seu pensamento na quarta-feira (01) para seguidores na porta do
Palácio da Alvorada. Ele disse que o certo é deixar que 60 a 70% da população se infectem
rapidamente pelo coronavírus. Assim, segundo ele, a epidemia passaria mais rápido.
O primeiro ministro da Inglaterra, Boris Johnson, defendia a mesma posição de Bolsonaro há
cerca de um mês. Quando foi alertado, pelo estudo citado acima, de que, com essa proposta –
chamada de “imunidade de rebanho” – morreriam 500 mil ingleses, ele mudou imediatamente
de posição e mandou a população ficar em casa.
Donald Trump, que também desdenhava a epidemia, viu os EUA se tornarem o epicentro
mundial da pandemia. Agora ele está decretando – com atraso – a quarentena em todo o país.
A proposta de Bolsonaro significa a morte de pelo menos um milhão de pessoas no Brasil.
Sim, porque, se 70% da população se infectar, serão 145 milhões de brasileiros com o
coronavírus. Isto ocorrendo, milhões de pessoas acorrerão aos hospitais. Haverá o colapso o
sistema de saúde.
À letalidade da pneumonia do Covid-19, que gira em torno de 1%, se somarão outras milhares
de mortes causadas pela falta de atendimento do sistema colapsado.
Ou seja, Bolsonaro está defendendo uma verdadeira carnificina de brasileiros. Mais de um
milhão de brasileiros morrerão se predominar o que Bolsonaro quer fazer. Será um crime
premeditado contra a Humanidade.
Ele ameaçou que, se não voltarem logo ao trabalho, vai reabrir as lojas e as empresas na
marra. Disse que vai obrigar por decreto a abertura do comércio e a volta ao trabalho. Sua
acusação mais absurda é a de que os governadores estariam atrasando a “necessária”
propagação do vírus.
Ao invés de se dedicar a resolver rapidamente os problemas de abertura de leitos, da compra
de equipamentos de proteção e respiradores para fazer frente às necessidades urgentes que o
país vai ter, Bolsonaro insiste em defender que a epidemia não passa de um “gripezinha”, que
o país tem que voltar ao trabalho.