Jade Beatriz deve ser a 10ª mulher a presidir a Ubes
A cearense Jade Beatriz deve se tornar a nova presidenta da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Aluna de cursinho pré-vestibular, integrante do coletivo de teatro Polarizar e militante da UJS (União da Juventude Socialista), Jade é hoje vice-presidenta regional da Ubes no Ceará.
Em abril, seu nome foi indicado pela UJS para encabeçar o Movimento “Eu Só Quero É Ser Feliz” no 44º Congresso da Ubes, que será realizado na Arena BRB Nilson Nelson, em Brasília, de 12 a 15 de maio. Se a chapa da UJS for vitoriosa, Jade vai suceder a carioca Rozana Barroso no comando da maior entidade estudantil do País. Além disso, será a décima mulher – e a quarta negra – a presidir a Ubes.
“Nossa cearense de luta é a cara do povo e dos estudantes brasileiros. Jade é a representação de que sonhar com uma educação pública e de qualidade para todos e todas”, afirmou, em suas redes, a UJS. “Jade carrega consigo a luta do povo preto, das mulheres e da periferia!”
Ao Vermelho, Jade afirma que os últimos cinco anos foram de “tristeza e obscurantismo” no Brasil. “Convivemos com a fome, o desemprego e a morte. Perdemos muita gente na pandemia”, diz. “Muitos estudantes desistiram da escola ou da universidade porque precisavam sobreviver e não tinham condições de estudar.”
Daí a escolha de um verso do Rap da Felicidade – “Eu só quero é ser feliz” – para batizar a chapa da UJS no Conubes. “É uma ousadia falar de felicidade, em virada de chave. Além do Congresso da Ubes e dessa reorganização do movimento estudantil, teremos eleições”, lembra Jade. “Este ano de 2022 será decisivo.”
Segundo a líder estudantil, vários temas estarão em evidência nos debates do 44º Conubes: “Vamos falar de Ciência & Tecnologia, da defesa soberania nacional. Do combate ao racismo, ao assédio e à LGBTfobia. Do voto aos 16 anos e do exercício da democracia. Do novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica)”.
E os estudantes, claro, vão debater o futuro de um Brasil que resiste ao governo Bolsonaro. “Nosso movimento representa muitos sonhos coletivos. É um projeto construído por várias mãos para realizar a tarefa de conduzir a luta secundarista”, declara Jade. Caso a Ubes passe da “gestão Rozana” para a “gestão Jade”, a transição será histórica. “É a primeira vez que uma menina negra passa a presidência para outra menina negra”, enfatiza Jade.
Entre delegados e observadores, o 44º Conubes deve reunir milhares de estudantes do ensino fundamental, médio, técnico, profissionalizante, pré-vestibular e ensino de Jovens e Adultos (EJA). Será também o primeiro congresso presencial da entidade desde 2017. A programação terá debates, oficinas e atividades culturais. Na plenária final, os delegados elegem a próxima diretoria da Ubes.
“Estamos com altas expectativas”, resume a atual presidenta, Rozana Barroso. “Vamos nos reencontrar após cinco sem congressos presenciais. A Ubes sairá mais forte desse congresso para derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo – e para avançar na luta pela escola pública, gratuita e de qualidade.”
Rozana assumiu a Ubes já sob a pandemia de Covid-19 – e também no curso do que ela classifica como “o pior governo para a educação básica” no Brasil. “É o governo da escola esvaziada, da evasão, do Enem com o menor número de inscritos em 13 anos.” Por isso, a marca de sua gestão foi a resistência.
“Tivemos de fazer uma gestão quase ‘online’, mas os estudantes resistiram com firmeza em defesa do Brasil. Transformamos o Instagram em sala de aula, usamos o WhatsApp e não desistimos nunca”, diz. Entre as conquistas desse período, ela lista o “novo e permanente Fundeb”, o acesso à internet para 19 milhões de estudantes, a garantia de absorventes para estudantes do sexo feminino e a prioridade da vacinação anti-Covid para as escolas.
“Nossa geração, a “geração Z’, é potente e tem meios importantíssimos de luta. Somos porta-vozes dos estudantes que querem esperançar, que querem ver um novo amanhã”, afirma. “De minha parte, ainda terei o orgulho de, como terceira presidenta negra da Ubes, passar esse posto para a quarta presidenta negra,”
História
A primeira mulher a presidir a Ubes foi Helga Hofman, que exerceu o posto por apenas seis meses, entre janeiro e julho de 1956. Embora breve, sua gestão foi marcada por uma das mais célebres manifestações estudantis já realizadas no Brasil – a Revolta dos Bondes. A mobilização aliou estudantes e trabalhadores contra o reajuste na tarifa de ônibus e acelerou o processo de unificação do movimento estudantil secundarista.
Depois de Helga, também presidiram a Ubes Leila Márcia (1990-1992), Juana Nunes (1997-1999), Carla Santos (1999-2001), Manuela Braga (2011-2013), Bárbara Melo (2013-2015), Camila Lanes (2015-2017) e Rozana Barroso (desde 2020). Que Jade Beatriz chegue lá e dê continuidade a essa tradição.