A Itália suspendeu todas as atividades produtivas não essenciais a partir de segunda-feira (23), após registrar quase 800 mortes em 24 horas no sábado, 546 delas na Lombardia, e 6.557 novos contágios.

A nova medida, que intensifica a quarentena em vigor, irá, inicialmente, até 3 de abril. O número de óbitos na Itália já se aproxima de 5 mil e o de infectados ultrapassa 53 mil.

A decisão foi anunciada pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte na noite de sábado. “Este é o desafio mais difícil após a guerra”, disse ele.

“Hoje decidimos dar outro passo: o governo decide encerrar todas as atividades produtivas que não sejam estritamente necessárias, cruciais e indispensáveis para garantir bens e serviços”, declarou Conte.

“Supermercados, alimentos e farmácias permanecerão abertos. Os serviços essenciais serão garantidos: bancos, correios e transporte”.

A situação se tornou tão dramática que em Bérgamo – a Wuhan italiana – foi preciso uma caravana de caminhões do exército para levar dezenas de caixões para cremação em outras regiões, diante do colapso da capacidade local de dar conta de tantos mortos.

A Itália já superou a China em número de mortos e o colapso do sistema médico vinha forçando as equipes hospitalares a terem de escolher a quem atender.

“Reduzimos o motor produtivo do país, mas não o fechamos. O Estado está lá, o Estado está aqui”, ressaltou Conte.

Fábricas e canteiros de obras serão paralisados, assim como o atendimento público não relacionado à contenção da pandemia. Prossegue a produção estratégica para o enfrentamento da crise, como a agroalimentar, remédios, equipamentos de proteção, material de limpeza e energia.

Os supermercados terão que passar a usar termômetros térmicos e a operar em horários mais longos para que reduzir a aglomeração no atendimento.

“Nunca antes nossa comunidade se estreitou como uma cadeia para proteger o ativo mais importante, a vida. Se apenas um elo dessa cadeia cedesse, estaríamos expostos a perigos maiores para todos”, acrescentou o primeiro-ministro. “Unidos, vamos fazê-lo”, concluiu.

O primeiro-ministro também convocou todos os italianos a “manterem a calma” e evitarem a acumulação de mantimentos e remédios que podem fazer falta a outros.

A interrupção de todas as atividades industriais não essenciais vinha sendo pedido pelas centrais sindicais e pelos governos regionais.

Horas antes do decreto de Conte os governos das regiões mais afetadas  – Lombardia e Piemonte – já haviam determinado a suspensão das atividades não essenciais. O presidente do Piemonte, Alberto Cirio, disse que foi fechado “tudo o que podia ser com os poderes das regiões”.

Também o chefe da delegação chinesa de apoio à Itália, e que comandou o combate ao coronavírus em Wuhan, e vice-presidente da Cruz Vermelha chinesa, Sun Shuopeng, havia na quinta-feira recomendado que era preciso uma contenção muito mais severa.

“Não há uma segunda chance quando se fala de vidas”, advertiu Sun, notando que “o  transporte público continua funcionando, há muitas pessoas pelas ruas, ainda há jantares e festas em hotéis, as pessoas não usam máscaras”.

Ele lembrou como em Wuhan – o epicentro da Covid-19 na China – “somente após um mês de fechamento completo da cidade os hospitais puderam começar realmente começar a tratar os pacientes e superar o pico da doença”.

“Essa pandemia só vai parar se todas as pessoas ficarem em casa”, resumiu, saudando o fato de que o mundo esteja se movendo “em direção a uma prática internacional de controle de doenças infecciosas”.

“Estamos exaustos”, disse Attilio Fontana, presidente da Lombardia.”Chegamos realmente ao fim, mesmo do ponto de vista físico de nossa equipe de saúde, precisamos garantir que os números diminuam e a infecção diminua, que a linha desça e não suba”, sublinhou.

Na Lombardia, estão suspensas a realização de esportes ao ar livre e foram instituídas multas de até 5.000 euros para quem violar a quarentena. Foi determinado o fechamento de todos os hotéis, exceto os que estejam hospedando o pessoal médico que veio de outras partes do país para ajudar. E em Milão – principal cidade da Lombardia e centro financeiro italiano -, hotéis foram requisitados para acolher doentes leves.

Quase 8 mil médicos aposentados se apresentaram em toda a Itália para fazer parte da brigada de choque, planejada para ter 300 médicos, convocada a reforçar a contenção da Covid-19 nas regiões críticas.

Cresce também a solidariedade internacional à martirizada Itália. Chegou uma brigada médica cubana especializada no combate às epidemias.

A China, além de médicos com experiência contra o coronavírus, enviou 40 toneladas de equipamentos médicos, incluindo respiradores, roupas, máscaras de proteção e medicamentos. Nove aviões da Rússia e equipes de virologistas russas estão a caminho.

A União Europeia suspendeu o limite de 3% máximo de déficit fiscal para possibilitar que os países membros arquem com as inesperadas despesas com a contenção da pandemia. A Itália não está sozinha, assinalou o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio.