Comemoração tomou conta da Praça Rabin em Tel Aviv

Após votação apertada foi aprovado por 60 votos a favor, 59 contra e uma abstenção, o novo governo israelense que terá, ao longo dos quatro anos de mandato, dois primeiros ministros em rotação de ministros. O primeiro a exercer o cargo é Nafatli Bennett, que acaba de prestar juramento logo após vitoriosa a votação no Knesset, parlamento de Israel.

Também prestou juramento como ministro do Exterior atual e premiê após dois anos, Yair Lapid, que chefiou as negociações para formar o governo de mais ampla aliança da história israelense reunindo deputados da esquerda, centro e direita, com a participação pela primeira vez de um representante de um partido árabe, Mansur Abbas.

Desde a noite de sábado e seguindo por todo o dia deste domingo (13), a praça central de Tel Aviv, assim como o centro de Jerusalém foi tomado por israelenses celebrando o afastamento de Benjamin Netanyahu (alcunhado de Bibi pelos israelenses) que já estava em condição minoritária após quatro eleições em dois anos e que vinha manobrando para continuar no poder, inclusive ameaçando conduzir o país à quinta eleição e a um aprofundamento de uma crise consequência do seu mandato esticado o que não permitia sequer a aprovação de um novo orçamento.

Uma crise social sob a tensão causada pelo assalto constante às terras palestinas e que culminou com os confrontos entre policiais e palestinos – impedidos de entrar pela entrada principal de Jerusalém Oriental, o portão de Damasco – uma repressão na qual a polícia de Jerusalém chegou a jogar bombas no interior da mesquita Al Aqsa, durante o período sagrado das orações do Ramadan e que transbordou para um conflito na região sul de Israel e na Faixa de Gaza com mais uma rodada de bombardeio e destruição de milhares de casas e centros de saúde em Gaza e com foguetes lançados sobre algumas cidades israelenses por militantes a partir de Gaza.

Desafios

Há também a questão mais importante, desde a implantação de Israel, a questão da paz entre palestinos e israelenses e que passará a ser uma das pautas internacionais centrais que é a do retorno à mesa das negociações para que se alcance uma paz justa e segura. A forma central desta paz tem por base o acordo dos Dois Estados, firmado por Arafat e Rabin pouco antes da morte do premiê israelense. Itzhaq Rabin foi assassinado por um fanático judeu na praça de Tel Aviv que agora leva o seu nome e que é agora palco de intensa comemoração com a saída daquele que foi o principal incitador contra o acordo e contra Rabin, o que acabou naquele trágico desfecho, logo seguido do governo de Netanyahu, principal obstáculo à consecução do acordo e, portanto, da paz na região.

Ainda que o ministro que assume, Naftali Bennett, tenha reafirmado no discurso ao parlamento, antes da votação que o elegeu, que Israel deve manter a ocupação na Cisjordânia, essa não é a posição da maioria dos seus ministros na ampla composição de governo, nem da maioria da população. Portanto, a questão está colocada e o que se pode esperar é que a mesma amplitude que levou ao novo governo permita a retomada da esperança usurpada por Netanyahu que agora deixa o cargo para enfrentar a continuação de seu julgamento por receptação de suborno, fraude e quebra de confiança, só que agora desprovido da imunidade que o cargo de premiê lhe conferia.

A índole fascista de Netanyahu envenenou a atmosfera política e social do país durante 12 anos de seu mandato e esteve presente até os últimos dias quando ele estimulou criminosamente seus seguidores a atentarem contra a vida e a tranquilidade das famílias dos deputados dispostos a votar no novo governo.

Após a queda de Trump e agora, enquanto mais um extremista a quem Bolsonaro se festejava aliado no plano internacional era afastado, as praças de Tel Aviv e Jerusalém ecoavam desde a véspera, prevendo o fim do governo Netanyahu: “Vai embora daqui, Bibi!” e, mais uma vez, voltou a soar a palavra de ordem que espelha o futuro possível para ambos os povos: “Árabes e judeus se negam a ser inimigos!”