Desde a ocupação de 1967, mais de 50.000 casas palestinas foram demolidas pelas forças israelenses

A ONU condenou a demolição de 70 lares palestinos, perpetrada por Israel no dia 22, na região da Jerusalém Oriental (Palestina). Além do secretário-geral da ONU, manifestaram-se contra a demolição em massa Jamie McGoldrick, indicado pela ONU como Coordenador Humanitário nos Territórios Palestinos e Nickolay Mladenov, Coordenador Especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio.

Coube a Farhan Haq, porta-voz do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressar a advertência, a partir das observações das duas autoridades que acompanharam a destruição desde a região, alerta com a qual o secretário-geral concordou: “A política de Israel de destruir propriedade palestina não é compatível com suas obrigações sob a lei humanitária internacional. O deslocamento de palestinos traz um sofrimento de tal dimensão que nenhuma ajuda humanitária pode compensar”.

As tropas israelenses acompanharam a demolição, que teve início nas primeiras horas da manhã da segunda-feira e que incluiu um prédio de oito andares, destruição para a qual foram usados explosivos e escavadeiras. Os lares palestinos destruídos estavam na região que – desde os Acordos de Oslo – é controlada pela Autoridade Nacional Palestina que foi a autoridade que emitiu as permissões de construção na área denominada de Sur Baher.

A justificativa israelense para a demolição foi que os prédios estavam a 250 metros do muro da segregação de 750km que Israel construiu ao longo da Cisjordânia palestina alegando ‘razões de segurança’, monstrengo condenado como crime de guerra pela Corte Internacional de Justiça com sede em Haia, na Holanda.

Como denunciou a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), “essa é mais uma violação do regime israelense ao direito humanitário internacional neste processo flagrante de colonização e limpeza étnica na Palestina”.

Segundo estimativa da organização Anistia Internacional, desde a ocupação de 1967, mais de 50.000 casas palestinas foram demolidas pelas forças israelenses.

Na direção oposta, o governo israelense financia e fomenta a construção de residências em bairros exclusivamente judaicos construídos sobre terra palestina usurpada. Hoje o número de judeus israelenses que vivem em tais unidades residenciais chega a 700 mil.

São ações desse tipo que sabotam todos os esforços de paz para o conflito Israel-Palestina ao inviabilizarem o estabelecimento de um Estado Palestino, ao lado do Estado de Israel dentro das fronteiras de 1967, rompidas com a ocupação após a Guerra dos Seis Dias.

Este dano à paz foi observado pela União Europeia em declaração de duro repúdio às demolições: “A política de assentamentos de Israel, incluindo ações tomadas neste contexto, tais como transferências forçadas, expulsões, demolições e confisco de casas, é ilegal sob a lei internacional. Em linha com a posição assumida por longo tempo pela União Europeia, esperamos que as autoridades israelenses suspendam imediatamente as demolições”.

“A continuação desta política”, prossegue a UE, “mina a viabilidade da solução dos Dois Estados e a perspectiva de uma paz duradoura, assim como causa dano à possibilidade de que Jerusalém esteja a serviço de uma futura capital de ambos Estados”.

Além das condenações dessas instituições internacionais, tomaram posição de rejeição às demolições diversos países, entre eles França, Alemanha, Rússia, Turquia, Espanha e Inglaterra e ainda a Liga Árabe.

O israelense Aviv Tatarsky, pesquisador da organização Ir Amim, que apoia a solução de Dois Estados com Jerusalém como capital, denunciou a destruição: “Há uma guerra demográfica lançada contra os residentes da Jerusalém Oriental, o Estado de Israel segura a aprovação de planos de construção que permitiriam aos seus residentes construir na cidade dentro da legalidade”.

“Moradores que não queriam construir sem uma permissão, vislumbraram a solução criativa e conseguiram permissões de construção da Autoridade Palestina nas chamadas áreas A e B, onde Israel não tem nenhuma autoridade referente a planos de construção. A insistência israelense em barrar esta solução é um ato muito cruel”, acrescentou Tatarsky.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, declarou que “Israel é plenamente responsável pela perigosa escalada das tensões em Sur Baher, em medidas que fazem parte da implementação do ‘acordo do século’ [uma armação de Trump] cujo objetivo é enterrar a questão palestina”.

O decano da diplomacia palestina, Saeb Erekat, foi enfático: “Não vamos renunciar a nossas terras e tudo que for demolido será reconstruído”.