Testagem em massa é parte fundamental do controle da pandemia no país

Um pouco mais de um ano após o aparecimento do coronavírus, um país tem se destacado como exitoso no combate à pandemia: a Islândia. Orgulhosos os habitantes da pequena ilha remota do Atlântico Norte, em que os cientistas assam salsicha na lava vulcânica, se somam agora aos países que contiveram a propagação do novo coronavírus pela testagem, rastreamento de contatos, quarentena dos casos positivos e distanciamento social.

Com menos de meio milhão de habitantes, o país nórdico praticamente derrotou o vírus tendo registrados – em tratamento – na última quarta-feira tão somente 20 casos, com as baladas, barzinhos e restaurantes já funcionando.

Foram apurados 6.119 casos em toda a pandemia (a primeira onda entre março e abril, e a segunda entre setembro e novembro) e apenas 29 mortes. O último óbito em consequência do vírus ocorreu no final de dezembro.

Em entrevista à BBC, o epidemiologista-chefe do país, Thorolfor Gudnason, explicou que uma das razões pelas quais a Islândia teve sucesso em sua luta contra o coronavírus foi a organização pessoal e funcional. “Estou me preparando para essa pandemia há 15 anos”, relatou Gudnason, frisando que, assim que o alarme disparou, ele foi colocado no comando e uma legião veio se somar.

Quando a primeira onda atingiu a Islândia, Gylfi Thor Thorsteinsson abandonou o emprego em marketing para abrir um hotel para pessoas infectadas. “No primeiro dia, a maioria dos funcionários saiu, se recusou a participar”, disse Gylfi, mas logo depois retornaram. Ao tomarem consciência do significado do estabelecimento, passaram por lá mais pacientes no último ano do que em todos os hospitais do país. Todos os dias, ele veste seu equipamento de proteção pessoal para visitar e acompanhar de perto os pacientes.

Terminada a primeira onda, a Islândia deu por vencido o vírus e o hotel fechou por não haver mais pacientes. Mas chegou o verão, dois turistas com resultado positivo quebraram as regras de isolamento. “Recebi o telefonema: estava de volta. Em meia hora, abriu novamente e as pessoas continuaram entrando e saindo. E ainda continuam”, contou o hoteleiro, devidamente paramentado.

Agora, depois de fazer com que o vírus desapareça de circulação no país, o controle é focado no aeroporto. Desde junho, quem entra deve obrigatoriamente fazer o teste de PCR e ficar em quarentena.

Conforme as autoridades sanitárias da Islândia, a ajuda abnegada de uma das maiores empresas de genética humana do mundo, a Decode Genetics, também foi um ponto chave. Assim que soube da chegada do vírus à ilha, Kari Stefansson colocou seus laboratórios à disposição para ajudar em tudo o que fosse necessário. “No início parecia a extinção da humanidade, então nos lançamos com todas as nossas forças”, explicou Stefansson.

Graças ao potencial de enfrentamento coletivo se conseguiu evitar a propagação da temida variante britânica – que assim como a brasileira é muito perigosa. Um primeiro caso entrou e infectou outra pessoa. Ela havia ido trabalhar em um hospital após um show com 800 pessoas, e com algumas no bar durante o intervalo. “Parecia um desastre. Mas aqui, eu testemunhei toda a força do poderoso sistema de rastreamento de contatos da Islândia em ação”, contou um entrevistado à BBC.

Em apenas algumas horas, todos foram contatados e mais de 1.000 pessoas foram testadas. No final, apenas mais dois casos foram identificados e imediatamente transferidos para o hotel de isolamento.

Na realidade, destacou Jean Mackenzie, da BBC News, “sua equipe de rastreio de contatos é integrada por detetives da vida real”.