Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) fabrica 25 diferentes radiofármacos, ou 85% do fornecimento nacional

O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do governo federal, paralisou por tempo indeterminado na segunda-feira (20) a produção de radiofármacos e radioisótopos usados para o tratamento de câncer no Brasil.

O Ipen é responsável pelo fornecimento de 25 tipos de radiofármacos aos laboratórios e hospitais de todo Brasil. Cerca de 85% de toda a produção nacional desse tipo de medicamento, com material radioativo, sai de lá.

Na segunda foi a última entrega do último carregamento de Iodo-131, usado na detecção do câncer de tireoide. Depois, ninguém sabe quando será o próximo. Conforme o anúncio feito na terça-feira da semana passada, o instituto está sem verba para continuar a produção dos insumos usados para a detecção e o tratamento de câncer, após um corte de 46% da verba do instituto pelo governo federal em 2021.

No ano passado, a verba repassada ao Ipen pelo governo federal foi de R$ 165 milhões. Neste ano, até agosto, o instituto recebeu pouco mais de R$ 91 milhões.

Em carta enviada na semana passada aos hospitais e laboratórios que consomem os produtos do instituto, o Ipen afirmou que ter feito um pedido ao governo para a aprovação de recursos extras no valor de R$ 89 milhões. A verba, no entanto, precisa passar por aprovação do Congresso Nacional e, depois, por sanção presidencial.

“Estão faltando mais de R$ 70 milhões para a gente terminar o ano. Sem contar a valorização do dólar, porque tem uma boa parte de insumos que são importados. Então, já era uma situação prevista e que vinham tentando brigar para reverter”, afirmou o diretor do Sindicato dos Servidores Públicos do Ipen no estado de São Paulo, Luiz Antonio Genova.

Os radiofármacos produzidos pelo Ipen têm duas funções. Uma é o tratamento em si que, no caso de alguns tipos de câncer, são a única opção. Outra é o diagnóstico por imagem – exames que ajudam a detectar a presença do câncer e de outras doenças, como Alzheimer.

O desabastecimento causado pela paralisação no Ipen pode afetar cerca de 2 milhões de pessoas em todo o país, segundo a nota da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN).

“O Instituto de Pesquisa em Energia Nuclear (IPEN), que já vem sofrendo, de forma recorrente e há alguns anos, com cortes de verbas e problemas na produção de alguns fármacos importantes para a Medicina Nuclear, fármacos que são produzidos exclusivamente pelo IPEN, anunciou, no dia 14/09/2021 (coincidentemente, a data de celebração do Dia do Médico Nuclear no Brasil) que, a partir do dia 20/09/2021 terá a produção SUSPENSA de todos os fármacos e de isótopos radioativos (Geradores de Tecnécio, Iodo-131, Lutécio-177, para citar alguns) por falta de verbas.”

“A suspensão anunciada causará importantes danos à sociedade como um todo, seja em pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde, que representam importante parcela dos indivíduos que se beneficiam da energia nuclear em prol de seus diagnósticos e tratamentos, como em pacientes do Sistema de Saúde Suplementar, que encontram na Medicina Nuclear uma ampla gama de procedimentos modificadores de história natural de doenças, seja por permitir diagnósticos mais precisos, seja por sugerir procedimentos cirúrgicos necessários ou então por permitir que pacientes com diversos tipos de câncer recebam tratamentos personalizados e otimizados, que tem impacto positivo significativo nas qualidade de vida e sobrevida destes pacientes”.