Aproximadamente 9,5 milhões de pessoas passaram a viver em lares sem renda do trabalho no Brasil do início da pandemia até agora. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgado nesta sexta-feira (17) aponta que a proporção de famílias sem renda oriunda de atividades profissionais atingiu 28,5% no segundo trimestre de 2021, o que significa que em quase três a cada dez lares, ninguém tem trabalho. São 46 milhões de pessoas.

No quarto trimestre de 2019, período usado para a comparação dos dados, a proporção era de 23,54%, o equivalente a 36,5 milhões de pessoas. Um quadro já grave que chegou ao absurdo após meses de pandemia, imunização negligenciada pelo governo federal e uma política econômica que jogou mais brasileiros para o desemprego. Em 2020, a proporção de famílias sem renda do trabalho chegou a alcançar a marca de 31,56%.

O sustento, em muitos desses casos, pode vir de programas de transferência de recursos, como o auxílio emergencial, aposentadorias e pensões.

O estudo foi produzido a partir de dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pesquisa usada para medir o desemprego no país. De acordo com a Pnad, no trimestre encerrado em junho 14,4 milhões de brasileiros estavam procurando trabalho sem encontrar. Formando o contingente classificado na pesquisa como “trabalhadores subutilizados”, 32,2 milhões de pessoas estavam desempregadas, subocupadas, fora da força de trabalho ou desalentadas na metade deste ano.

O material do Ipea ainda aponta que neste mesmo período, o rendimento médio habitual dos trabalhadores ocupados, em termos reais, teve queda de 6,6%.

Uma outra pesquisa realizada pela FGV Social, esta considerando todo tipo de renda, mostra que os brasileiros estão ganhando em média 9,4% menos do que estavam em 2019. Para os mais pobres, a perda foi de 21,5% na mesma base de comparação.

“Praticamente todas as famílias tiveram alguma flutuação de renda nos últimos anos, mas para os mais pobres essa inconstância pode significar a falta das condições mais básicas em casa”, diz o economista Marcelo Neri, da FGV.

“Pouco mais da metade da queda de renda dos mais pobres, -11,5% foi devido ao aumento de desemprego. Além disso, contingente de trabalhadores se retirou do mercado. O efeito-desalento resultou em queda de renda 8,2% neste grupo”,