Funcionária do Fort Derrick Lab onde estão armazenados alguns dos vírus mais perigosos

Já passam de cinco milhões na quarta-feira (21) os internautas chineses signatários de uma carta aberta que exige que a Organização Mundial da Saúde (OMS) investigue o laboratório norte-americano de Fort Detrick sobre as origens do Covid-19.

Com o número de signatários ainda aumentando, especialistas e autoridades chinesas consideram a carta um reflexo vívido da indignação da população chinesa em relação ao comportamento de algumas autoridades norte-americanas que politizaram a epidemia para transferir a culpa sobre as próprias falhas dos EUA, assinalou o porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian.

País que continua devendo ao mundo explicações sobre questões como o súbito fechamento do laboratório de Fort Detrick em 2019 por um ‘vazamento’ na segurança, meses antes do aparecimento da Covid-19, o que coincidiu com a estranha “pneumonia do vaping” nos EUA, descrita pela mídia com estardalhaço na época e da qual não se ouviu mais falar.

Os signatários enfatizam na carta que, para prevenir a próxima epidemia, a OMS deve dar atenção especial aos laboratórios que realizam estudos sobre vírus perigosos ou mesmo armas bioquímicas.

A carta aberta pede à OMS para escrutinar o Instituto de Pesquisa Médica de Doenças Infecciosas do Exército dos EUA (USAMRIID) em Fort Detrick, Maryland, que sabidamente armazena os vírus mais letais e infecciosos do mundo, incluindo Ebola, varíola, SARS, MERS e o novo coronavírus.

O vazamento de qualquer um deles causaria grave perigo ao mundo, sublinharam. O mesmo grupo já pedira, também em carta aberta, em junho, que OMS investigasse esse laboratório norte-americano.

Na entrevista coletiva de segunda-feira, o porta-voz Zhao Lijian conclamara Washington a ser “transparente” e atender aos apelos da comunidade internacional, incluindo os chineses, e dar uma resposta satisfatória à carta aberta.

O público e a mídia estão tentando obter respostas às perguntas que a comunidade internacional vem fazendo há algum tempo. No entanto, algumas pessoas nos EUA têm mantido o público no escuro, disse Zhao.

“Por favor, responda às seguintes perguntas: primeiro, qual é a conexão entre o laboratório de Fort Detrick e as doenças respiratórias inexplicáveis, como aquelas suspeitas de vaping? Em segundo lugar, por que os EUA não convidaram a OMS para realizar uma investigação completa em Fort Detrick? Terceiro, por que os especialistas internacionais não podem visitar os EUA para rastrear as origens do vírus, uma vez que visitaram a China?”, questionou o porta-voz.

Não à politização da pandemia

Sobre a proposta da OMS sobre a fase II sobre as origens do coronavírus, Zhao disse que não era consistente com a posição da China e de muitos outros países.

A China – apontou – espera que a OMS ouça e adote as opiniões de todas as partes e garanta que o processo de redação do estudo de fase II seja aberto e transparente.

A China está preocupada com a politização do rastreamento das origens do coronavírus por alguns países. “Esperamos que a OMS, no espírito de profissionalismo científico e objetividade, trabalhe com a comunidade internacional para resistir à tendência adversa de politizar a questão”, disse Zhao.

Quarenta e oito países enviaram cartas à OMS se opondo à politização da sondagem sobre as origens do vírus, instando a organização a agir de acordo com a resolução da Assembleia Mundial da Saúde (AMS) e levar adiante a sondagem global sobre rastreabilidade do vírus.

A questão das ‘variantes’

Yang Zhanqiu, vice-diretor do departamento de biologia de patógenos da Universidade de Wuhan, disse ao Global Times que “quase todas as variantes prevalecentes do coronavírus foram descobertas nos Estados Unidos”. Em comparação, “a cepa de vírus encontrada na China não tem relação com muitas variantes. Portanto, é apropriado realizar uma investigação sobre as origens do vírus nos Estados Unidos”, destacou.

O virologista também pediu aos EUA que entregassem amostras de sangue desses pacientes com Covid-19 e divulgassem mais informações sobre o levantamento epidemiológico do país, para dar uma imagem mais clara da relação entre os casos dos EUA e os de outros países. Ele disse que os laboratórios dos EUA mantêm amostras de sangue “que datam da década de 1980”.

Em junho, um estudo de mais de 24.000 amostras coletadas para um programa de pesquisa do National Institutes of Health (NIH) nos EUA entre 2 de janeiro e 18 de março de 2020, descobriu que sete pessoas em cinco estados – Illinois, Massachusetts, Mississippi, Pensilvânia e Wisconsin – podem ter sido infectadas com Covid-19 bem antes dos primeiros casos confirmados no país, relatados em 21 de janeiro de 2020.

Relatório conjunto

O relatório do estudo conjunto OMS-China de 30 de março de 2021 chegou a uma conclusão clara e ofereceu sugestões para a próxima fase do estudo global sobre as origens, assinalando que a hipótese de ‘vazamento de laboratório’ de Wuhan é “extremamente improvável”, e sinalizando para a busca de possíveis casos iniciais do surto de forma mais ampla em todo o mundo e necessidade de compreensão do papel das cadeias de frio e alimentos congelados, enfatizou o porta-voz Zhao.

Para ele, as conclusões e recomendações deste relatório devem ser “respeitadas e mantidas”, e “refletidas na próxima fase de estudos sobre as origens do COVID-19”.

Na sexta-feira, o Global Times havia registrado que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanon Ghebreyesus, “sucumbiu à pressão política do Ocidente liderado pelos EUA”, ao dizer que a China precisava ser mais “aberta e transparente” nas investigações sobre as origens do coronavírus e ainda acrescentando que houve um “impulso prematuro” para descartar a teoria de que o vírus pode ter escapado de um laboratório.

Em agosto, deve se encerrar o prazo, estabelecido pelo presidente Joe Biden, de “90 dias”, para a CIA emitir seu “parecer científico” sobre a “origem do vírus”.

Zeng Guang, ex-epidemiologista-chefe do Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças, disse ao Global Times na sexta-feira que o que Tedros disse não fazia sentido e seus comentários não podem substituir as conclusões científicas, que foram alcançadas por meio de estudos científicos independentes por cerca de 30 cientistas de vários países.

“Acredito que Tedros fez essas observações por pressão de alguns países ocidentais, já que o estudo das origens da fase 2 estava prestes a começar, e ele também precisa do apoio do Ocidente, pois planeja concorrer a um segundo mandato de cinco anos como chefe da agência”, destacou Zeng.

Sobre a exigência de ‘compartilhar dados brutos’, observadores chineses disseram que a China apresentou dados brutos item por item aos especialistas da OMS durante o estudo conjunto China-OMS.

Quanto ao ‘vazamento de laboratório’, o relatório China-OMS afirmou claramente que a hipótese é “altamente improvável”, e todas as partes devem respeitar as conclusões dos cientistas, e a OMS em particular, deve desempenhar um papel de liderança, disseram os analistas.

Isenção da OMS

Um imunologista baseado em Pequim que pediu anonimato ao Global Times advertiu que se a OMS sucumbir à pressão dos EUA a consequência será o questionamento global da isenção da OMS em saúde pública, o que afetará seriamente estudos científicos futuros sobre origem de patógenos.

Quanto ao próximo estágio do estudo das origens do coronavírus, Zeng disse que os EUA deveriam ser priorizados, já que o país demorou a testar pessoas em um estágio inicial e possui tantos laboratórios biológicos em todo o mundo. “Todos os assuntos relacionados com armas biológicas que o país tem devem ser submetidos a escrutínio”, ressaltou.