A partidarização da Justiça da Bolívia é cada vez mais visível após o golpe de Estado de outubro de 2019, como tem sido amplamente denunciado pelas entidades populares e por organismos internacionais, como as Nações Unidas. Convertida em instrumento contra a oposição à autoproclamada presidenta Jeanine Áñez, a manipulação se faz tanto mais execrável à medida em que se aproximam as eleições de 3 de maio.

A mais nova vítima é a jornalista Claudia Chavez Rivero, acusada pelo delito de “Atentado contra a Presidenta e Altos Dignatários do Estado” e ficará presa no Presídio Feminino de Mulheres da Cidade de Trinidad. A jornalista estava averiguando denúncias sobre a luxuosa residência de Áñez na cidade, capital do Departamento de Beni.

Claudia foi processada pela juíza cautelar de Trinidad, Yensi Rojas Oyola, juntamente com dois outros trabalhadores da imprensa, por ter utilizado um drone para ter acesso a imagens da mansão. A jornalista é ex-diretora de Interação Social do Governo de Beni.

“Estão sendo realizadas as investigações para saber qual era o propósito, o motivo e quem está atrás da atividade de filmar violentando a privacidade e pondo em risco a segurança do imóvel da primeira autoridade do país”, declarou o Procurador Geral do Estado, Juan Lanchipa.

Desde o golpe de outubro do ano passado, o relator especial da ONU sobre Independência de Juízes e Advogados, Diego García-Sayán, tem alertado para o “uso das instituições judiciais e fiscais com fins de perseguição política”.

Na quinta-feira (6), o relator da ONU manifestou seu repúdio à prisão do deputado Gustavo Torrico, do Movimento Ao Socialismo (MAS), acusado pelos golpistas de “sedição e terrorismo”. “Cresce o número de detenções ilegais. Apelo ao respeito à independência das instituições e ao devido processo”, afirmou Diego García-Sayán.