Confrontos na capital da Irlanda do Norte, Belfast, já duram uma semana

A violência voltou a explodir na Irlanda do Norte na noite de quinta-feira (8), nos piores confrontos em anos, o que já dura uma semana, e apesar das exortações do Reino Unido e da Irlanda por “calma”, também endossadas pelo governo de Belfast.

A tropa de choque se defrontou com pedras e coquetéis molotov arremessados por manifestantes republicanos (pró-reunificação), ao tentar manter a separação com unionistas (pró-britânicos).

O conflito foi acirrado pela forma com que o governo Johnson tratou no Brexit a questão da fronteira inter-irlandesa, definida pelo acordo de paz da Sexta-Feira Santa de 1998, havendo um sentimento, entre os adeptos da coroa britânica, de que teriam sido “traídos”.

Após duras negociações, Londres e Bruxelas alcançaram uma solução no Brexit, conhecida como “protocolo da Irlanda do Norte”, que evita o retorno de uma fronteira física na ilha da Irlanda e transfere os controles para o Mar da Irlanda, entre a província e a ilha da Grã-Bretanha.

Setores unionistas dizem que foi estabelecida uma ‘separação’ com a Grã-Bretanha, o que explica que os protestos tenham ocorrido principalmente nas zonas de maioria protestante, pró-britânicas, com muitos veículos incendiados.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o homólogo irlandês, Micheal Martin, pediram calma após o uso “inaceitável” de violência registrada na Irlanda do Norte nos últimos dias.

“Destacando que a violência é inaceitável, pedimos calma”, disse o escritório do primeiro-ministro irlandês em um comunicado, divulgado depois que os dois líderes conversaram por telefone.

“A destruição, a violência e as ameaças são completamente inaceitáveis e injustificáveis, independentemente das preocupações que existam nas comunidades”, afirmou o governo autônomo norte-irlandês – constituído por unionistas, republicanos e centristas -, que se declarou “gravemente preocupado”.

“Apesar de nossas posições políticas muito diferentes em vários temas, todos estamos unidos em nosso apoio à lei e à ordem”, sublinharam.

O Parlamento regional da Irlanda do Norte interrompeu o recesso da Semana Santa para uma sessão especial, em que foi aprovada uma moção de condenação à violência.

“Os responsáveis devem ser submetidos a todo rigor da lei, porque todos devem ser iguais perante a lei”, afiançou pelo Twitter a primeira-ministra de Irlanda do Norte, a unionista Arlene Foster.

A violência “não se exerce em nome das pessoas que vivem nas zonas unionistas”, ela asseverou depois aos deputados.

Denunciando uma “perigosa escalada”, sua vice-primeira-ministra Michelle O’Neill, do republicano Sinn Fein – ex-braço político do IRA -, acusou grupos paramilitares unionistas de incitarem os jovens adolescentes a enfrentar a polícia.

Já a ministra da Justiça, Naomi Long, do centrista Partido da Aliança, denunciou as promessas não cumpridas do governo britânico sobre o Brexit, afirmando sentir “simpatia pelas pessoas daqui que se sentem traídas”.

Na véspera, quase 600 pessoas se reuniram em Lanark Way, uma área da zona oeste de Belfast onde foram instaladas grandes barreiras de metal para separar um bairro católico de outro protestante.

Vários veículos foram incendiados, incluindo um ônibus. Integrantes das duas comunidades atiraram coquetéis molotov. A semana de distúrbios deixou mais de 50 policiais feridos, além de um repórter fotográfico e um motorista de ônibus.

A Casa Branca – o presidente Biden é de ascendência irlandesa – também pediu por calma, declarando-se “preocupada” com os violentos incidentes.

Nas três décadas de conflitos (“Troubles”), foram quase 3.500 mortos na Irlanda do Norte.

Para o vice-comandante da polícia norte-irlandesa, Jonathan Roberts, a escala e a natureza da violência não tem precedentes nos últimos anos. Ele relatou que adolescentes de até 13 anos participaram dos ataques, insuflados por adultos. Devido ao grande volume de bombas incendiárias nos protestos, acredita-se que há um “planejamento prévio”. “O fato de ser violência sectária e a presença de grandes grupos nos dois lados (…) é algo que não víamos há anos”, concluiu.