A investigação realizada pela Polícia Civil do estado do Rio de Janeiro sobre a chacina de cinco jovens em um condomínio do programa “Minha Casa, Minha Vida” em Maricá, Região Metropolitana da capital, descobriu uma ligação entre o homem apontado como o executor dos assassinatos e um Polícia Militar acusado de ser o chefe da milícia que atua na cidade.
João Paulo Firmino foi preso pelos assassinatos e agentes da Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói encontraram conversas entre ele e o sargento Wainer Teixeira Junior sobre a chacina. O PM era lotado no 12º BPM (Niterói) e chefiava o Patrulhamento Tático Móvel na cidade.
De acordo com o relatório do inquérito da DH sobre o crime, que aconteceu em março de 2018, o sargento é um dos integrantes do grupo do aplicativo de WhatsApp para o qual Firmino mandou fotos das vítimas mortas horas depois da chacina. Em seguida, o executor pediu para os demais não comentarem sobre o fato: “Pode respingar onde não deve”, escreveu.
O PM e o atirador também conversaram entre si, reservadamente, sobre o crime. De acordo com o relatório, “percebe-se que Teixeira fica incomodado com a repercussão da chacina”. Num áudio enviado a Firmino, o sargento “demonstra estar descontente com o autor da chacina, pois teria atraído muita atenção para a região”. Teixeira temia que a polícia passasse a investigar os crimes cometidos pela milícia: “A DH vai mexer nas coisas antigas”. O PM finalizou dizendo que “o autor da chacina teria que pagar por isso”, segundo o inquérito.
Firmino encaminhou o áudio que recebeu do sargento a um comparsa e xingou Teixeira: “Está querendo dar os outros”. Na época do crime, o sargento cumpria prisão domiciliar na casa onde vivia em Maricá, após ser acusado de receber propina de traficantes.
Numa das últimas conversas entre o sargento e o atirador obtidas pela DH, Firmino mostrou ao PM uma reportagem que apontava uma milícia de São Gonçalo, rival do bando de Maricá, como responsável pela chacina. Teixeira comemorou: “Show, essa pica é deles”. O celular de Firmino foi apreendido um mês após o crime, quando ele foi preso.
Em depoimento na especializada, Firmino disse que é amigo do sargento e que os dois saem “para tomar cerveja” juntos. O homem também disse ter sido convidado para almoçar na casa do PM um mês antes do crime, mas afirmou não saber se Teixeira teria outra fonte de renda além da polícia.
Mesmo após a prisão de Firmino, a DH continuou investigando o crime. O inquérito concluiu que o atirador não agiu sozinho: ele só apertou o gatilho após receber uma autorização, por telefone. Até hoje, a polícia não sabe quem é o mandante.
Para a DH, o crime foi cometido “com o propósito de reafirmar o poder da milícia” no condomínio.
As vítimas são: Sávio Oliveira, de 20 anos, Marco Oliveira, de 17, Patrick da Silva Diniz, de 19, Matheus Bittencourt, de 18, e Matheus Baraúna, de 16. Sávio, Matheus e Marco faziam parte da Roda de Rima, projeto da prefeitura que estimulava ensino de música e dança para crianças.
O sargento Teixeira está preso desde setembro de 2018 na Unidade Prisional da PM, acusado de chefiar a milícia de Maricá.